terça-feira, 4 de outubro de 2016

punhos cerrados, peito adornado

Um simbólico e forte gesto, ao lado de outros dois também marcantes

Olimpíadas de 1968 no México.
Na foto do gesto heróico dos famosos negros estadunidenses John Carlos e Tommie Smith no pódio dos 200 metros rasos está também o "desconhecido" Peter Norman. Mas o que poucos souberam é que se tratava de um branco australiano que de forma incógnita aderiu a um dos mais marcantes protestos contra o preconceito racial e pagou um preço altíssimo por isso.
Naquele longínquo 1968, a disputa para saber quem era o homem mais rápido do mundo foi marcada por quebras de recordes e uma batalha quase particular entre Smith e Norman. Quando o australiano estabeleceu o recorde mundial (ainda hoje é o homem mais rápido da Austrália), o estadunidense não deixou por menos e baixou o tempo nas finais, que já era impressionante para a época (foram 19.83 contra 20.06 de Norman). Carlos foi o terceiro colocado.
No entanto, o que era pra ser apenas um feito esportivo para a história, se tornou um feito histórico para o esporte. A dupla norte-americana resolveu aproveitar o momento em que seriam vistos por milhares no estádio e milhões ao redor do mundo e evocou o gesto dos Panteras Negras, o partido que combatia implacavelmente o preconceito racial nos EUA. Punhos em ristes, luvas-símbolo do partido, eles silenciaram todo um estádio que já ensaiava cantar o hino estadunidense pelo triunfo de seus compatriotas.
Ao mesmo tempo, numa atitude que causou total surpresa para os dois atletas negros, o caucasiano Norman pediu para participar daquele ato à sua maneira. Ele conseguiu um dístico da campanha "Projeto Olímpico para os Direitos Humanos", do qual Carlos e Smith faziam parte, e o ostentou no pódio como uma medalha de ouro para todo o mundo vir.
A partir daquele instante, nada mais seria como antes, especialmente para Norman. Se para Carlos e Smith a perseguição era certa por serem negros (foram banidos da delegação estadunidense e ameaçados de morte em seu país), para o australiano não podia ter sido mais dramático. Preterido em seu próprio país, que a exemplo da África do Sul, praticava uma rígida política de apartheid, ele foi sistematicamente boicotado, a ponto de sua família ter sido perseguida e ele, além de não ter ido aos jogos de Munique em 1972, nem mesmo foi lembrado para fazer parte do comitê dos jogos olímpicos de Sydney, em sua terra-natal, em 2000.
Sabemos que as olimpíadas já acabaram. Porém julgamos pertinente essa nota, que redigimos durante os Jogos e guardamos para publicar hoje.

Carlos e Smith ainda estão vivos; Norman nos deixou há 10 anos completados ontem. Porém o legado desses três permanece vivo e atual. Por um mundo com mais coragem, humanidade e, acima de tudo, respeito ao próximo!


3 comentários:

Unknown disse...

Deixei um comentário, mas acho que ele vingou. Desculpem-me se ele aparecer e ficar repetitivo. Mas procurei parabenizar o Mano Jeferson pelo seu texto. É importantíssimo lembrarmos deste fato e desta foto icônica. Os esportistas deveriam estar mais ligados nela e se inspirarem para tomar mais posição. Ainda que sejam nossos inimigos, mas que assumam seu lado e enfrentem as federações e suas primas. Estas sim, um mal, um câncer no esporte. Parece que nem é só no Brasil, vemos casos horrorosos pelo mundo todo destas federações que comandam o esporte e destróem o que ele poderia ser. Algo livre e bacana.

Raphael disse...

Acho que esta, sem dúvidas, é o caso mais icônico do esporte.
Tal foto, para mim, está no rol da 10 maiores fotografias registradas no mundo.
Espero que um dia exista a reparação histórica destes homens.
Excelente texto mano Jeff!

Unknown disse...

Muito bom relembrar esta cena incrível das olimpíadas!