Um simbólico e forte gesto, ao lado de outros dois também marcantes
Olimpíadas de 1968 no México.
Na foto do gesto heróico dos
famosos negros estadunidenses John
Carlos e Tommie Smith no pódio
dos 200 metros rasos está também o "desconhecido" Peter Norman. Mas o que poucos souberam
é que se tratava de um branco australiano que de forma incógnita aderiu a um
dos mais marcantes protestos contra o preconceito racial e pagou um preço
altíssimo por isso.
Naquele longínquo 1968, a
disputa para saber quem era o homem mais rápido do mundo foi marcada por
quebras de recordes e uma batalha quase particular entre Smith e Norman. Quando
o australiano estabeleceu o recorde mundial (ainda hoje é o homem mais rápido
da Austrália), o estadunidense não deixou por menos e baixou o tempo nas
finais, que já era impressionante para a época (foram 19.83 contra 20.06 de
Norman). Carlos foi o terceiro colocado.
No entanto, o que era pra
ser apenas um feito esportivo para a história, se tornou um feito histórico para
o esporte. A dupla norte-americana resolveu aproveitar o momento em que seriam
vistos por milhares no estádio e milhões ao redor do mundo e evocou o gesto dos
Panteras Negras, o partido que combatia
implacavelmente o preconceito racial nos EUA. Punhos em ristes, luvas-símbolo
do partido, eles silenciaram todo um estádio que já ensaiava cantar o hino
estadunidense pelo triunfo de seus compatriotas.
Ao mesmo tempo, numa atitude
que causou total surpresa para os dois atletas negros, o caucasiano Norman
pediu para participar daquele ato à sua maneira. Ele conseguiu um dístico da
campanha "Projeto Olímpico para os
Direitos Humanos", do qual Carlos e Smith faziam parte, e o ostentou no
pódio como uma medalha de ouro para todo o mundo vir.
A partir daquele instante, nada
mais seria como antes, especialmente para Norman. Se para Carlos e Smith a
perseguição era certa por serem negros (foram banidos da delegação estadunidense
e ameaçados de morte em seu país), para o australiano não podia ter sido mais
dramático. Preterido em seu próprio país, que a exemplo da África do Sul, praticava uma rígida política de apartheid,
ele foi sistematicamente boicotado, a ponto de sua família ter sido perseguida
e ele, além de não ter ido aos jogos de Munique
em 1972, nem mesmo foi lembrado para fazer parte do comitê dos jogos olímpicos
de Sydney, em sua terra-natal, em
2000.
Sabemos que as olimpíadas já
acabaram. Porém julgamos pertinente essa nota, que redigimos durante os Jogos e
guardamos para publicar hoje.
Carlos e Smith ainda estão
vivos; Norman nos deixou há 10 anos completados ontem. Porém o legado desses
três permanece vivo e atual. Por um mundo com mais coragem, humanidade e,
acima de tudo, respeito ao próximo!
3 comentários:
Deixei um comentário, mas acho que ele vingou. Desculpem-me se ele aparecer e ficar repetitivo. Mas procurei parabenizar o Mano Jeferson pelo seu texto. É importantíssimo lembrarmos deste fato e desta foto icônica. Os esportistas deveriam estar mais ligados nela e se inspirarem para tomar mais posição. Ainda que sejam nossos inimigos, mas que assumam seu lado e enfrentem as federações e suas primas. Estas sim, um mal, um câncer no esporte. Parece que nem é só no Brasil, vemos casos horrorosos pelo mundo todo destas federações que comandam o esporte e destróem o que ele poderia ser. Algo livre e bacana.
Acho que esta, sem dúvidas, é o caso mais icônico do esporte.
Tal foto, para mim, está no rol da 10 maiores fotografias registradas no mundo.
Espero que um dia exista a reparação histórica destes homens.
Excelente texto mano Jeff!
Muito bom relembrar esta cena incrível das olimpíadas!
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