Salve galera!
Após um longo
período, eis que surge mais uma malacanews para felicidade geral da nação!
Dessa vez,
abordaremos um tema muito especial... Embora já tenhamos dissertado sobre isto
noutra ocasião no Facebook, não custa nada novamente abordar este assunto que
merece atenção.
Trata-se dos dois
livros que nossa casa umbandista, o TEGO
(Tempo Espírita Guerreiros de Oxalá), lançou no mês passado e que para nós
é um prazer muito grande poder falar deles!
Ambos são biográficos: um, a história do
guia-mentor da casa; o outro, as memórias dos malandros que trabalham em nosso
terreiro. Histórias que em dado momento se encontram e até mesmo se confundem.
Porque todos viveram juntos e
intensamente o período terreno e muito tempo depois se reencontraram para
dar continuidade àquilo que começaram ainda que sem se darem conta.
Após muito
trabalho e dedicação ao longo de dois anos, é com muita satisfação que apresentamos
a vocês a segunda edição de Com ponta de sabre e bala de metralhadora:
Seu Juninho na Umbanda, um guerreiro de Oxalá e o inédito livro Malandragem,
a culpa é da inocência. No primeiro livro, Juninho conta detalhes de
sua vida enquanto encarnado e toda
sua caminhada espiritual após o desencarne até o dia em que foi designado para
trabalhos neste plano através da mediunidade de seu aparelho. Já o segundo
livro retrata a trajetória dos futuros malandros
enquanto seres "de carne e osso", onde foram rememorados detalhes de
sua vida familiar e o momento em que todos se reuniram para construir uma vida
em comum.
Mais que contar
sobre a conjuntura daquela época, os protagonistas das duas publicações nos
contam sobre como viviam, o que pensavam
e o que os levou a se reunir. De forma inédita, temos aqui o relato fiel de
pessoas comuns que viviam suas vidas cada um a seu modo (uns com mais
dificuldades que os outros, é fato) e que repentinamente se viram envolvidos
numa causa que sequer sabiam direito
de que se tratava. Sentiram na pele as dores, as agruras de uma vida marginal e experimentaram um amadurecimento que sequer sonhavam
graças às lutas diárias pela sobrevivência. Por outro lado, mesmo com tantas
dificuldades, eles ainda encontraram tempo para sorrir, para se divertir e
assim a cada dia estreitar os laços que os levaram a uma amizade tão profunda e
duradoura até os dias de hoje.
São, sem sombra
de dúvida, abordagens um pouco distintas: se o livro de Juninho soa mais "doutrinário", com ele
fornecendo mais detalhes de como é a vida no Astral, o dos malandros é um pouco
mais "documental", com
ênfase na realidade que a malandragem vivia até o momento de seu desencarne.
Contudo, num dado momento, as histórias se cruzam – e isto foi fundamental para
o que aconteceria com todos os personagens com o passar dos anos.
Postas essas
considerações, diríamos que se trata de duas obras que indubitavelmente se completam porque abordam por inteiro
um ciclo de vida terrena e suas conseqüências no plano espiritual. Com efeito,
impressiona o modo como o Alto opera e tal constatação serviu para que nós mesmos
refletíssemos muito sobre cada detalhe passado nas inúmeras conversas que
tivemos nesses dois anos. Nossa percepção acerca da religião, da crença e da fé
ficou um pouco melhor e com isso procuramos levar essas lições não apenas para
os trabalhos no terreiro, como também para nossa vida cotidiana. E por se
tratar de seres que foram "de carne e osso", trata-se de histórias que
estão próximas do que qualquer um de nós poderia ter vivido (se é que alguém
aqui já não viveu essas coisas...).
Essas duas
publicações foram tratadas por nós, escritores, como marcos na literatura umbandista. Trata-se de assuntos da
Espiritualidade que trazem algo novo, pois é a primeira vez que teremos como
pano de fundo não apenas o Mundo Espiritual pura e simplesmente e tudo que se
refere a isto, mas também a cidade do
Rio de Janeiro e toda a atmosfera dum período marcante de nossa História: a ditadura militar iniciada na década de
1960. Assim, forçosamente tivemos uma idéia da percepção que alguns
cidadãos brasileiros tinham daquele período, se faziam idéia do que se passava
e como reagiram ao ter essa noção. É uma abordagem nova, inusitada para os
padrões documentais. Fora o comportamento, a cultura e o modus vivendi do carioca médio daquele tempo.
E pra além das
questões abordadas nos dois livros, também entendemos durante a elaboração
desses títulos (principalmente o dos malandros) que há duas necessidades que precisam ser mencionadas:
A primeira questão
é religiosa. Diz respeito à apresentação da umbanda para aqueles
que talvez não tenham muitas informações sobre o que exatamente é essa religião
anunciada num centro espírita em Niterói
em 1908, uma religião genuinamente
brasileira. É uma oportunidade de se desfazer diversos equívocos que
persistem há tantos anos como quando confundem a umbanda com o candomblé; também propomos o debate dos
pontos em que a umbanda e o espiritismo
têm em comum e os que os distingue; e assim por diante. Os espíritos que se
dispuseram a contar suas histórias também concordaram que esses livros também
poderiam ser úteis no sentido de se esclarecer determinados pontos que sempre
suscitam dúvidas nas pessoas.
A segunda
mirada é política. Está mais ligada
ao que estamos vivendo especialmente aqui no Rio. Um momento de perseguição religiosa intensa, de
muitos casos de intolerância, vandalismo,
agressões e mesmo ameaças de morte por parte de segmentos que nos encara
como "concorrente", como se estivéssemos disputando
"clientes", ops, fiéis com eles. Sem contar com o fato de que se
trata duma religião afro, com todos
os elementos que sugerem uma ligação com o continente negro. Em suma, trata-se de uma forma de impedir que se
pratique preceitos religiosos sem relação alguma com um cristianismo helenizado.
E o discurso de ódio recrudesce a
olhos vistos e são incentivados por aqueles que deveriam ser os primeiros a nos
defender, que deveriam agir institucionalmente falando em nosso favor, fazendo
valer a nossa Constituição.
Nesse sentido,
esses dois livros são a forma como resolvemos partir pro enfrentamento contra essas forças que visam nos derrubar por
questões que definitivamente não nos interessam. É uma forma de dizer que somos umbandistas e que devemos ser
respeitados como qualquer outro religioso. Aqui, juntamo-nos aos coletivos
religiosos, aos movimentos progressistas em defesa da liberdade de credo (e de
não-credo) e a todos aqueles que defendem o direito constitucional de crer ou
não.
Por fim, essa é
nossa proposta. Esperamos sinceramente ter conseguido nos fazer entender e que a
leitura dos dois livros seja muito prazerosa, da mesma maneira que foi um
prazer muito grande para nós termos feito parte deste projeto. Um prazer e um desafio, uma vez que tínhamos de
transformar em palavras escritas tudo aquilo que os guias nos ditaram, o mais
fielmente possível. Com efeito, agradecemos imensamente a Deus, a nossos orixás e aos guias espirituais pela oportunidade
de termos sido instrumentos para essa missão tão especial.
Que esses dois
livros cumpram seu objetivo: de fortalecer
a umbanda com essa maneira vanguardista de se abordar um tema ao mesmo
tempo fascinante e misterioso; e de mostrar às pessoas que umbandista quando levanta
sua bandeira não é com o intuito de entrar em guerra com quem quer que seja e sim
para que os bons ventos que sopram de Aruanda, a terra abençoada, garantam que esta
mesma bandeira que carrega a fé, o amor
e a caridade tremule aos olhos de todos
para que o respeito possa sempre existir.
Muito obrigado
a todas e todos e fiquem com Deus! Axé!!!
Um comentário:
Li o Livro do Seu Juninho da Umbanda, e é simplesmente espetacular.
O seu Juninho, conta dentro do ponto de vista dele, como encarnado e desencarnado, como funciona e como ele vê o mundo onde ele está inserido.
Como a história oficial tem muitas falhas, a visão de pessoas que participaram da história é fundamental para a compreensão da história total. E nesse livro isso é primordial.
Recomendo a leitura para quem quer se informar do ponto de vista histórico ou até espiritualmente
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