Salve galera!
Pela primeira
vez, faremos uma resenha que não será dum disco desconhecido ou uma
personalidade anônima. Dessa vez, atacaremos de "críticos de desenho
animado"...
Sempre
afirmamos que muito do que aprendemos tem como fonte a ficção. Tantas lições
aprendidas em HQs de super-heróis, principalmente as graphic novels, muitas clássicas, servindo de mote para diversas
produções cinematográficas. Mas dessa vez, o universo que temos dado muita
atenção é dos animes, os famosos
desenhos japoneses.
Nos últimos
meses, temos assistido muitos animes,
influência de meu querido Eduardo
Ariston, além das preciosas dicas do não menos dileto Cláudio Negócio. Desde o psicológico Tokyo Ghoul, passando
pelo cômico One Punch Man, o furioso Attack on Titans até o sensacional Fullmetal
Alchemist, temos realmente nos deleitado com essa maneira de se pensar
histórias, que em geral são abordagens bem diferentes das ocidentais.
Hoje, resenharemos
o anime que terminamos de assistir, que foi bastante impactante, com uma
história muito bem construída e com uma mensagem muito bacana, das mais
significativas de tudo que assistimos até aqui.
Hunter
x Hunter é uma produção antiga, lançada primeiro como mangá em 1998,
até ganhar sua primeira versão anime
em 1999 e uma nova versão revisada e praticamente reformulada em 2011, sendo
esta a mais fiel aos quadrinhos. Criado por Yoshihiro Togashi, trata-se dum enredo capaz
de prender a atenção do telespectador com tramas que contêm muitos
significados. É perceptível o viés filosófico e psicológico da trama, contudo
somente um olhar mais arguto pode fazer o telespectador compreender atos e
atitudes dos personagens, bem como seus motivos e motivações.
A história
inicialmente gira em torno do objetivo de Gon
Freecss, que é encontrar Ging
Freecss, seu pai, que o deixou ainda bebê aos cuidados duma conhecida
enquanto vagava pelo mundo como um hunter
(caçador). O encontro não visa estreitar laços parentais e sim entender o que
levou seu pai a se tornar um hunter.
Ele se pôs essa "missão" aos 12 anos, exatamente a mesma idade em que
seu pai resolveu se tornar um caçador. Esses fatos por si só já tornam essa
história digna de ser acompanhada: um garoto se torna o que o pai se tornou
apenas pra entender o que pode haver de tão especial em ser o que o pai é, a
ponto de se dar as costas para o mundo (na verdade nem tanto, pois o que mais
acontece é ele conhecer um mundo fora de sua terra-natal) em prol de se viver
uma vida dessas. E isso aos 12 anos, realmente chama a atenção bolar um enredo
como esse.
Tudo a priori parece se centrar em Gon, porém
com o passar do tempo, há uma divisão de protagonismo muito curiosa entre ele e
os amigos que ele faz durante a primeira fase do Exame Hunter (para ser um, é
preciso se submeter a toda uma série de provas rigorosas, onde se exige desde o
talento individual do candidato até sua capacidade de trabalhar em equipe),
sobretudo Killua Zoldyck, que se
torna seu melhor amigo. Isso por si só já chama a atenção, pois geralmente
escolhe-se um personagem e centraliza-se nele tudo e nesse caso temos o caso de
um protagonista que não se sobrepõe totalmente em relação aos outros, que têm
momentos até mesmo tão ou mais empolgantes que a questão do filho de Ging.
Destaque especial para a história da família de Killua, um conhecido (e o mais
temido) clã de assassinos do planeta, que no decorrer da saga terá um papel
fundamental na trajetória de Gon.
Durante
praticamente toda a saga, questões éticas e morais também se
apresentam diante de Gon e seus amigos e os demais personagens, mostrando a
maneira como eles lidam com o mundo e como esse mesmo mundo responde. Na
maioria dos casos, essas questões éticas e morais são bem diferentes das nossas
no mundo real, mas fazem todo sentido no contexto em que as situações se
apresentam. É o caso dos fatos ocorridos no meio da malta de criminosos Gen'ei Ryodan e, sobretudo, na surpreendente saga das Formigas
Quimera. Além das duas supracitadas, são muitas as situações, muitas as
tramas que se desenrolam nos 148 episódios desse anime. Todas de alguma forma interligadas, sem que o fio condutor
se perca. Foi também uma bela jogada fazer parecer que se tratava de histórias
paralelas. Em verdade, quando se entende o que acontece com Gon no decorrer de
sua missão, o telespectador percebe a lógica de tudo aquilo.
A própria
relação entre os personagens em momentos muito distintos nos mostra como pode
ser complicado exercícios de consciência que o tempo todo acontece,
principalmente pelo fato de se tratar de crianças entrando num universo
praticamente adulto, tendo de amadurecer precocemente, a fim de seguir seus
pares. A decisão de se tornar um Hunter é, por si só, um desafio, tanto que
quem consegue se tornar um hunter ao
fim de todas as avaliações tem uma moral impressionante em qualquer lugar que
chega. E no caso específico desses personagens, são personalidades às vezes
muito conflitantes entre si, perturbadoras em dados instantes. A tensão dosada
no momento certo através dos traços e das falas, traduzindo muito bem as
mensagens, também é digna de nota, assim como os momentos descontraídos e bem
humorados, o que torna o anime uma seqüência bem balanceada, com bastante
ritmo.
Por fim,
podemos citar as referências de filosofia oriental, com passagens que lembram
ensinamentos das artes marciais e das práticas espiritualistas diversas,
certamente comuns em muitos animes; e as noções de cunho psicológico em muitos
capítulos, mostrando de forma marcante o que pode acontecer quando as paixões
humanas dominam um ser, seja em qual situação for.
No mais, um bom
passatempo, não muito recomendável para quem tem menos de 14 anos, não por
causa de conteúdo impróprio (a rigor, quanto a isso é até tranqüilo), mas seria
mais porque a quantidade de informações contidas é muito variada e complexa para
mentalidades ainda não muito bem preparadas para certos conceitos. Seria
preciso parar o vídeo em dado momento e explicar certas reações dos
personagens, que embora sejam crianças têm comportamento que está além da
infância comum. Por outro lado, adultos deveriam assistir Hunter vs Hunter, por
conta dessa noção de alcançar um objetivo e tudo aquilo que essa trajetória
proporciona. Pois é exatamente isso que acontece a Gon: ele não vive uma vida
de aventuras; a vida dele por si só já é uma aventura.
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