segunda-feira, 25 de abril de 2016

SOBRE O PT E A ESQUERDA NO PODER

Sobre o PT e a esquerda no poder:
JORGE ALEXANDRE ALVES – Sociólogo e Professor[1]


Antes de mais nada, até por honestidade intelectual, devo dizer que fui filiado ao PT do final da adolescência até sair da universidade. Participava das discussões mais abrangentes na UERJ, e colaborava numa ou noutra campanha eleitoral. Na universidade admirava figuras como Milton Temer, Leo Lince, Chico Alencar e Eliomar Coelho. Como nunca me juntei a um núcleo, acho que fui desfiliado com o tempo. Há algumas eleições tenho votado no PSOL em eleições proporcionais e em cargos majoritários no primeiro turno. Todavia não sou filiado a nenhum partido e considero que o PT ainda tem excelentes quadros. Contudo, infelizmente não acredito que a esquerda brasileira hoje tenha um projeto consistente de Estado para a sociedade brasileira. Isso posto, procuro fazer nas linhas que se seguem uma análise da trajetória do PT desde a eleição de Lula, em 2002, até o presente momento, poucos dias após a ruptura institucional realizada pelo nosso parlamento.
Inicialmente, é preciso dizer que todo partido de perfil libertário, seja ele revolucionário, socialista, trabalhista ou de base popular, que se propõe a ser um partido de massas, corre um risco.  O da sua burocratização excessiva através de seu próprio processo de institucionalização. Tal fenômeno congela sua militância e acomoda atores sociais relevantes dos chamados “movimentos sociais” na cômoda posição de dirigentes partidários ou de agentes do Estado. Até mesmo os partidos do espectro da clássica socialdemocracia europeia estiveram sujeitos a isso. Basta vermos o que ocorreu na Itália década passada, na Espanha com o PSOE ou com o PASOK grego mais recentemente. Outro risco é ceder ao canto da sereia da corrupção, como ocorreu com antigo Partido Socialista Italiano, cujo principal líder, Benitto Craxi, ex Primeiro-Ministro, morreu em autoexílio na Tunísia porque foi condenado pela justiça da Itália por desvios em sua gestão no Poder Executivo italiano. Seu partido, o PSI, desapareceu do cenário político de seu país em função do terremoto provocado por tais denúncias de corrupção. E as esquerdas, desde então (mais de vinte anos) jamais conseguiram obter maioria parlamentar e formar um novo gabinete na Itália.
Tal fenômeno costuma ocorrer na medida em que esse partido intensifica sua presença de forma orgânica, elegendo representantes/parlamentares e quando passa a exercer o poder executivo. Estes são elementos característicos da democracia representativa de cunho liberal (aqui mais na acepção política do termo do que do uso econômico que nós fazemos comumente), a qual o Estado brasileiro está mais próximo em sua organização. Ao conquistar o poder central sem necessariamente ter um projeto de Estado muito bem definido, os efeitos da burocratização partidária podem ser potencializados e bastante acelerados.
A institucionalização de um partido político nas modernas democracias talvez seja um fato inevitável dentro do exercício perene da atividade política. Mas fato é que, exceto os partidos de esquerda escandinavos (na Suécia e na Dinamarca hoje estão fora do poder) e talvez o SPD alemão (que raramente esteve no poder central por longo tempo), em todos os demais países a esquerda entrou em parafuso em algum momento da sua história e acabou perdendo espaço e capacidade de seduzir o eleitorado. Mais recentemente o PSOE espanhol se vê dividindo a cena política da esquerda castelhana com o novíssimo PODEMOS.
O Partido do Trabalhadores talvez tenha sido a experiência mais original, profunda e, por que não dizer, bonita, no sentido da criação de uma prática política de caráter popular, constituída na história da América Latina. Angariou sonhos e esperança de milhares de trabalhadores, estudantes, intelectuais, gente de igreja, de sindicatos, de organização de bairros de cooperativas, dos movimentos feminista, LGBT, negro, indígena e tantos outros. Foi radical no bom sentido da palavra. Cresceu a base de um forte processo de democracia interna. Tornou anacrônica as práticas políticas (muitas vezes de cunho personalista) do PDT de Leonel Brizola, herdeiro político da esquerda pré-ditadura militar. Não se pode pensar na esquerda após o regime militar em nosso país sem ter o PT como referência de práxis, de organização partidária e de catalizador de demandas e aspirações de origem popular. Daí também o impacto causado em todo campo popular e nas esquerdas pelas contradições políticas que constatamos a partir da chegada de Lula à presidência da república, em 2002. Nesse caso, aquilo que hoje ocorre negativamente com o PT acomete a todo o campo popular e à esquerda brasileira, e pode ter sérias implicações nos próximos pleitos eleitorais neste ano (eleições municipais) e sobretudo em 2018. A menos que a economia ajude, coisa hoje que parece ser difícil de acontecer.
Então, as razões da crise do modo petista de governar estão também na forma como se consolidou seu processo de institucionalização enquanto partido político. Aqui temos dois elementos que devemos levar em consideração para que possamos entender o que ocorreu com o PT.  O primeiro é interno: o partido formou um a geração inteira de profissionais da estrutura partidária, que, mesmo que originalmente tivesse alguma forma de militância, essa foi se aplainando com o tempo dando lugar a uma ocupação na estrutura do partido. É o processo de burocratização que deu base a uma intelligentsia petista, sobretudo após a conquista da presidência por Lula em 2002.
Em segundo lugar, do ponto de vista da sua capacidade representativa o PT foi incapaz de ampliar sua base de representação política de forma significativa, sobretudo no Poder Legislativo. E dentro de uma democracia, sem apoio parlamentar nada se faz, em termos gerenciais, no âmbito estatal e de governança das políticas públicas – a menos que se consiga mobilizar a opinião pública e setores significativos da sociedade civil. Tal aspecto se reforça mais considerando as peculiaridades do nosso sistema presidencialista – a incapacidade nacional de um segmento político atingir maioria parlamentar de forma não precisar de outras matrizes políticas para exercer o governo. Trocando em miúdos, o PT sozinho (ou mesmo a esquerda) nunca conseguiu aumentar o tamanho de suas bancadas na Câmara do Deputados (e mesmo em assembleias legislativas ou câmaras municipais de grandes cidades) a ponto de alcançar algo próximo de uma maioria absoluta em termos parlamentares. Para conseguir governar, é necessária uma política ampla de alianças para além do espectro ideológico. O que torna nosso sistema político uma espécie de Presidencialismo de Coalizão. Se preferirmos uma análise que parta dos fundamentos teóricos de Karl Marx, tratar-se-á de uma estratégia das classes dominantes de continuar a exercer poder político, impedindo as classes trabalhadoras de promoverem profundas transformações sociais que comprometesse significativamente os interesses dos que estão no topo da pirâmide social.
O filósofo marxista A. Gramsci operava com um conceito de Bloco Histórico e de Hegemonia. Dizia ele que somente alcançando hegemonia era possível produzir uma série de transformações sociais profundas e significativas a ponto de se constituir um novo bloco histórico. Para tanto seria fundamental conquistar espaços significativos da sociedade civil e ter um contingente suficiente de intelectuais orgânicos (agentes transformadores da realidade), com poder de formar opiniões de forma a conseguir mudar mentalidades e convencer a maioria da população. Bom que se diga que tais mudanças profundas somente foram possíveis pela via democrática somente no Chile de Allende (abortada logo depois por um golpe militar) e nos países escandinavos. As demais formas, mesmo que depois elas tenham desembocado em regimes democráticos de base popular como ocorreu na Península Ibérica e na Grécia, se deram pela via revolucionária, com forte ruptura institucional.
O caso do PT pode ser explicado por essas categorias. Entre 2003 e 2005 o PT esteve muito perto de obter essa hegemonia na esfera federal, por conta de três aspectos significativos. O simbolismo envolvido na história pessoal de Lula, o primeiro presidente da história brasileira oriundo das classes populares, migrante, de baixa escolaridade, operário. O segundo aspecto foi o desgaste provocado pelos anos de políticas neoliberais iniciadas sob Collor de Mello e radicalizadas no governo tucano de FHC a partir da estabilização econômica e com o processo de privatização das empresas públicas. E, fundamentalmente, pelo engajamento de amplos setores sociais pela eleição do principal líder do PT e da esquerda à Presidência da República.
Entretanto, o próprio movimento interno de burocratização do partido e de suas táticas políticas para poder exercer o governo e obter maioria parlamentar acabaram por gerar, em grande parte, o efeito oposto. A este fenômeno podemos associar o sistema eleitoral brasileiro que favorece o personalismo político, o troca-troca de cargos como contrapartida por apoio parlamentar e o esvaziamento ideológico de boa parte das legendas brasileiras. Tal fisiologismo político culmina no fortalecimento do nosso bizarro Presidencialismo de Coalização.  E alguns dos elementos que indicam essas contradições já estavam presentes no partido antes mesmo da eleição de Lula, como veremos a seguir.
O processo que culminou na escolha do candidato petista ao Governo do Rio de Janeiro em 1998 pode ser tomado como exemplo dessa institucionalização partidária que, em nome de uma realpolitik voltada para conquista do poder executivo, desconsiderou a democracia interna do partido. Naquela ocasião, a convenção estadual optara pela candidatura de Vladimir Palmeira, ex-líder estudantil, em detrimento de uma aliança com o Anthony Garotinho, então do PDT. Em função das eleições presidenciais, a executiva nacional do PT passou por cima do resultado da convenção e ratificou a aliança com o PDT, apoiando Garotinho e formando chapa com a então Senadora Benedita da Silva.
A partir dessas eleições algumas campanhas petistas passaram a contar com “militantes pagos”: gente que recebia uns trocados para agitar bandeiras do PT e distribuir panfletos. Este que vos escreve presenciou isso no prédio em que morava, em Quintino. Um amigo e vizinho morava numa pequena vila nos fundos deste prédio. Ele era militante participativo, assessor de gabinete de um ator e vereador petista. Em nome da “senadora” ele fez de sua casa comitê de campanha e um grupo de pessoas que nunca tiveram nenhuma ligação com militância faziam campanha alegremente e, ao final do dia acorriam a casa deste vizinho para receber... Ao ser questionado, ele disse que era uma tática para garantir sua vitória. E eu fazendo a campanha por motivação ideológica e pastoral...
Tais episódios exemplificam que o processo de burocratização do PT o tornaram politicamente mais pragmático e lentamente o afastou, na prática, de vários elementos de seu ideário inicial. De um partido de aspiração socialista, o PT foi se tornando proponente de teses sociais-democratas até se propor em ser um partido que administraria o capitalismo como, com outras palavras, afirmara o Senador Cristovam Buarque, durante a campanha eleitoral de 2002.  Jorge Castañeda, Cientista Político e Diplomata mexicano, em um livro sobre as esquerdas latinoamericanas de meados dos anos 90, já sinalizava esse processo, embora visse com esperança a possibilidade do PT se consolidar um partido de massas de inspiração socialdemocrata, que alavancasse processos semelhantes por todo continente, e melhorasse a vida da população. Em parte ele até acertou, mas os processos ocorridos em outros países onde o campo popular conquistou o poder central guardam grandes diferenças em relação ao caso da esquerda no Brasil.
Às vésperas das eleições o PT tornou público um manifesto chamado “carta aos brasileiros” no qual se comprometia em não alterar os fundamentos macroeconômicos, respeitar os contratos e garantir a liberdade de imprensa. Em outras palavras, isso significou um aceno as elites empresariais brasileiras de que, uma vez na presidência, Lula não realizaria mudanças estruturais significativas, principalmente na atividade econômica brasileira.
Pouco tempo após a posse de Lula, o sociólogo Francisco de Oliveira publica um texto chamado “Ornitorrinco”, em que critica os fundamentos econômicos do estado brasileiro. Mais, diz que com a ascensão do PT à presidência chega ao poder uma nova classe de dirigentes do capitalismo brasileiro, os gestores dos fundos de pensão e de recursos públicos. Paradoxalmente, o Fundo de Amparo ao Trabalhador é o maior financiador do capital privado do Brasil. Ácido em sua crítica, Chico de Oliveira é categórico em dizer que: “parece que os dominados dominam, pois fornecem a ‘direção moral’ e, fisicamente até, estão à testa de organizações do Estado, direta ou indiretamente, e das grandes empresas estatais. Parece que eles são os próprios capitalistas, pois os grandes fundos de pensão das estatais são o coração do novo sistema financeiro brasileiro, e financiam pesadamente a dívida interna pública. Parece que os dominados comandam a política, pois dispõem de poderosas bancadas na Câmara dos Deputados e no Senado”. (...) “Enquanto as classes dominadas tomam a ‘direção moral’ da sociedade, a dominação burguesa se faz mais descarada”. Em termos macroeconômicos, manteve-se boa parte dos fundamentos econômicos instituídos nos anos FHC. O desmonte da nação para usar um termo consagrado por Ivo Lesbaupin (professor emérito da UFRJ e membro da ONG ISER-Assessoria) não foi revertido.
Ao mesmo tempo, uma injunção de políticas públicas resgatou aspectos do desenvolvimentismo característico da política produtiva brasileira de toda a segunda metade do século XX. Curiosamente, Lula em determinados momentos resgatava um discurso sobre o “Brasil Grande” que caberia muito bem num discurso de Geisel a respeito da Transamazônica ou da Ponte Rio-Niterói. Belo Monte que não me deixa mentir... O crescimento econômico brasileiro experimentado na segunda metade da década passada não dinamizou nosso parque industrial e aprofundou o perfil do país como exportador de commodities agrícolas, de Petróleo e de minerais.
Antes mesmo das eleições, o PT lamentavelmente já dava sinais de que não realizaria mudanças profundas a ponto de inaugurar um novo bloco histórico na sociedade brasileira, mesmo tendo nas mãos a possibilidade de construir uma hegemonia como “nunca antes na história desse país”. Como já foi dito, isso numa democracia de cunho liberal-representativo, passa por obter uma maioria parlamentar capaz de garantir mudanças institucionais significativas a partir da gestão do Estado. Seria injusto afirmar que o Partido dos Trabalhadores não produziu política públicas nessa direção, mas elas não alterariam profundamente a estrutura produtiva do capitalismo brasileiro, a despeito das políticas de renda mínima, dos significativos recursos aplicados no SUS, e na expansão da rede federal de ensino - tanto em nível universitário quanto em nível médio, principalmente a partir do segundo mandato presidencial petista.
Por outro lado, não podemos negar que a inclusão de milhões de pessoas no que se refere ao acesso a bens de consumo – a valorização do salário mínimo potencializou esse fenômeno -  ajudou a movimentar o mercado interno e promoveu certa ascensão social de um número gigante de pessoas que historicamente sempre foram tratados como cidadãos de segunda classe. No entanto, todas essas importantes conquistas eram insuficientes para ampliar esse rol de mudanças populares pois pouco mudaram a estrutura econômica do país. No fundo, o que houve foi uma expansão dos setores médios às custas da ampliação da oferta dos ensinos profissionalizante e superior, da ampliação de postos de trabalho no setor de serviços e na realização de uma enorme quantidade de obras públicas tocadas pelas principais parceiras dos gestores públicos no Brasil: as grandes empreiteiras.
Uma hipótese plausível que pode explicar as razões políticas pelas quais o PT não conseguiu operar mudanças profundas no país está numa possível ausência de um projeto de sociedade e de um modelo de Estado por parte do partido. Na verdade talvez fosse mais preciso dizer que projeto estava posto nos documentos do PT, mas ele foi, na medida em que o tempo avançava, deixado de lado em nome de, primeiramente, fazer de Lula presidente e, uma vez alcançado esse intento, manter o PT no poder central do Brasil. O chamado núcleo duro do primeiro mandato (Genoíno, Palocci, Tarso Genro, Berzoini, Bittar e Dirceu) adotou um pragmatismo em termos de alianças políticas que muito extrapolou os limites ideológicos estabelecidos antes pelo próprio partido, cujo preço o PT paga até hoje. Isto foi o reconhecimento de que o PT alcançara seu teto em termos de representação no Congresso Nacional? O PT foi vítima de um sistema político-eleitoral montado nos estertores da ditadura civil-militar, mas que dificulta ao máximo a consolidação de partidos ideologicamente definidos? Uma terceira opção talvez seja mais apropriada para explicar esse processo.
Há algum tempo já era possível observar que, mesmo com o sucessivo crescimento da bancada parlamentar petista em nível federal até 2006, duas coisas impediriam ao partido ampliar sua base social e eleger mais deputados e senadores. Uma foi a burocratização do PT, a outra está relacionada a capacidade de comunicação do partido com segmentos populares que não estão na órbita do que chamaríamos de militância político-social. Partidos de esquerda as vezes tendem a falar apenas para “os seus”. Já a massa tem dificuldades em entender esse “discurso militante”, mais forte em candidatos ao parlamento. Logo, não vai votar nesse perfil de candidato. Lula conseguiu superar esse limite e fazer sua sucessora porque é um habilíssimo comunicador, dono de um enorme talento político e de grande sensibilidade em perceber as demandas populares, construindo forte identificação com o “povão”. Possivelmente está – apesar de sua baixa qualificação acadêmica - entre os mais importantes estadistas brasileiros. Por outro lado, mais uma vez tivemos um chefe de executivo que foi visto como messias redentor da pátria. Mais ainda, nem todos os seus predicados o eximiram de equívocos políticos.
No primeiro mandato, Luís Inácio da Silva fez uma opção aparentemente democrática, mas que foi a grande armadilha na qual caiu PT no contexto do presidencialismo de coalização. O abandono da opção em mobilizar a classe trabalhadora através de políticas que promovessem a democracia direta e controle público da gestão do Estado pela opção de obter hegemonia parlamentar com os atores políticos lá instalados. Em miúdos, quando o PT poderia ter se voltado as suas bases para organizar os trabalhadores, ele fez a opção em tornar o PMDB o grande avalista de seu governo, acolitado por outras agremiações duvidosas como o PTB, o PP, o PSD e o PR. E diga-se, muitas vezes relegando a um papel secundário outros partidos políticos com quem sempre esteve ideologicamente mais afinado. Como o PMDB não é exatamente um partido político do ponto de vista ideológico, mas um condomínio de interesses (nem sempre convergentes) regionais, figuras nefastas como Jose Sarney, Jáder Barbalho e Renan Calheiros passaram a ser fiadores do governo federal.
Frei Betto relata numa de suas publicações mais recentes (o livro “Calendário do Poder”) como o governo relegou ao ostracismo o Programa Fome Zero, cuja fiscalização dos recursos e aplicação dos mesmos ficava a cargo da sociedade civil, mobilizando a população, para ampliar o ótimo Bolsa Família. Porém neste caso, a distribuição das bolsas e fiscalização dos recursos ficavam a cargo das prefeituras, refletindo uma opção pelos partidos da base aliada, gerando problemas relacionados à corrupção.
Aliás, a dependência do PT da base aliada, sobretudo do PMDB, em doses cada vez maiores, produziu um efeito deletério sobre sua militância. O caso do Rio de Janeiro é emblemático mais uma vez porque em nome da governabilidade nacional, transformou-se a organização partidária local e regional numa correia de transmissão dos interesses do PMDB (de Cabral, Paes e Picciani), em que pese a honestidade e a dedicação sincera da maioria de seus filiados e a existência de parlamentares dignos e combativos no PT, que realizam um profundo trabalho de conscientização política com suas bases. Certamente tal fenômeno deve se reproduzir em outros Estados da Federação.
Uma vez desmascarados os esquemas do mensalão e a investigações recentes da operação lava-jato, em que pesem toda a perversa atuação da grande imprensa – operando muito mais como partido político ou como aliada da oposição de direita, é fato que o PT foi incapaz de fazer uma autocrítica e de punir severamente quem dos seus quadros se envolveu com a corrupção. Além disso, na medida em que cessaram os recursos, a rebeldia da base governista se tornou maior, impondo ao governo algumas derrotas, como foi no caso da CPMF e na eleição de Eduardo Cunha para Presidente da Câmara dos deputados. Mais recentemente, a grande imprensa vem se esforçando em vincular o ex-presidente Lula com imóvel em nome de uma empreiteira. Até agora o que se tem são ilações veiculadas sistematicamente, sem nenhuma prova concreta ainda.
Sobre isso, basta dizer que o papel da grande mídia, capitaneada pelas Organizações Globo, o Grupo Folha de São Paulo e a Editora Abril (Revista Veja) tem sido, para ser delicado, bastante discutível. O setor de comunicações privadas do país é o maior e mais poderoso oligopólio que se produziu no país. E o fluxo de informações disponibilizadas para a população atendem diretamente aos interesses econômicos dos seus donos e de suas visões políticas. Dessa forma eles apoiam, as custas da morte do bom jornalismo, grupos políticos dispostos a defender ou não mexer com seus interesses, como fizeram Sarney nos anos 80 e FHC em seus dois mandatos presidenciais. Infelizmente, confunde-se liberdade de expressão com liberdade irresponsável das empresas jornalísticas. Portanto, quaisquer projetos políticos de perfil popular, de esquerda e que contestem a forma como o acesso a informação está organizado no Brasil será retaliado de forma sistemática por esses empresários de mídia que não querem ver em risco seus privilégios e benesses.
Mas mesmo na questão da imprensa, o PT foi, no mínimo ingênuo. Perdeu força popular e autoridade para regulamentar a mídia brasileira, como bem fez a Lei de Medios na Argentina. Além disso não executou a dívida que a Globo tem com o BNDES. E achou que, por chegar ao poder federal, iria ser tratado como um igual pelas elites dirigentes desse país: Os grandes banqueiros, a alta burguesia industrial, os grandes comerciantes e os latifundiários. Aliás, estes grupos vêm a liderança petista como intrusos e se identificam muito mais com os partidos de centro-direita, sobretudo o PSDB (filho ingrato do PMDB), o PMDB e o DEM (ex- UDN, ARENA e PFL). Acreditou-se que esses grupos seria cooptáveis quando, na verdade, eles são os cooptadores.
Apesar de ser muito ruim e desqualificada, a oposição de direita ao governo federal conseguiu, com forte apoio da grande mídia, fazer emergir um discurso extremamente conservador, com teses de extrema-direita inclusive. Críticos dos direitos humanos, homofóbicos, defensores do autoritarismo e de um Estado policial e, no extremo de espectro, grupos defensores da “superioridade branca”, fascistas e neonazistas agora defendem teses publicamente inadmissíveis de serem expostas para a coletividade 15 ou 20 anos atrás, ainda que seus defensores já estivessm por aí. Esse fenômeno, por razões distintas, é observável em todo o Ocidente. No caso brasileiro, as manifestações de Junho de 2013, oriundas sobretudo de uma demanda muito específica (o transporte público) foram o palco da insurgência desses grupos conservadores. Estes acabaram por pautar parte daquelas manifestações e de exercer ascendência sobre parcelas dos manifestantes, sobretudo os da tradicional classe média, moradora das áreas mais nobres das grandes metrópoles brasileiras.
Bom que se diga também que uma parcela dos jovens preferem outras formas de mobilização popular que não a política partidária ou o movimento estudantil tradicional. Isso não significa que eles não tenham aspirações e que não desejem ter voz e vez. Ao contrário, a resistência organizada dos estudantes nas escolas estaduais paulistas contra o plano de reestruturação escolar proposto de forma autocrática pelo governo do PSDB mostra exatamente o contrário. Considerar essa juventude de forma genérica, como massa amorfa e homogênea, além de alienada, constitui grave erro político que o campo popular, na atual correlação de forças, não pode se dar ao luxo de ter.
Diante de tudo o que foi exposto, hoje temos um quadro político em que as bases de sustentação parlamentar do governo federal estão corroídas, ao mesmo tempo em que os movimentos sociais organizados são incapazes de mobilizarem contingentes significativos às ruas, divididos entre a crítica aberta, a crítica velada para não se parecer com os ataques da grande imprensa, e o apoio cego tal qual um torcedor fanático pelo seu time de futebol. O governo Dilma ficou desacreditado por causa dos problemas econômicos (que em outro contexto não teriam o impacto que tem) acentuados por uma crise política causada exatamente pela forma como os governos petistas constituíram sua base parlamentar e pelos desvios éticos de seus agentes no comando das empresas estatais, em certas circunstâncias sequestradas por esquemas ilegais de financiamento de campanhas eleitorais para os partidos que apoiam a coalizão governista.
Ao mesmo tempo, é bom dizer que tais esquemas existem desde o Regime Civil-Militar de 1964-1985, e que os atuais partidos que fazem a oposição de direita sempre se beneficiaram desses esquemas e de outros muito mais graves em termos de recursos e de amplitude, como foi o processo de privatização da maior parte das empresas estatais nos anos noventa. Aliás, partidos de direita até hoje se locupletam desse tipo de esquema, como já foi denunciado no caso de Furnas, envolvendo diretamente o PSDB. No entanto, a imprensa faz questão de abordar o tema como se isso fosse uma invenção recente, como se a corrupção fosse obra inventada pelo PT. Ao contrário, a própria grande imprensa, quando interessava economicamente aos seus donos, também apoiou e participou de tais esquemas. O Brasil realmente não é para principiantes porque aqui até mesmo partido de oposição mantém esquema de propina para financiar campanhas eleitorais nos mesmos moldes do tempo em que eram situação...
É neste contexto que se colocou a questão do impedimento da Presidenta Dilma. A tese do Impeachment, embora defendida por juristas de matriz conservadora, não se sustenta. Pode-se fazer todas as críticas à Dilma Rousseff como gestora ou na forma como ela conduz o governo politicamente, mas ela tem sido até agora ilibada e honesta. Logo ela não pode sofrer processo de Impeachment a menos que se obtivessem provas de algum desvio de conduta da presidente. As comparações com Fernando Collor de Mello são incabíveis aqui.  A acusação de crime de responsabilidade por causa de uma manobra contábil que a mídia noticiou como pedalada fiscal é um grande sofisma jurídico. As tais pedaladas fiscais são um artifício usado pelo Poder Executivo para maquiar o balanço fiscal do Estado. O Tesouro Nacional deixar de repassar recursos para bancos públicos e autarquias como o INSS. Para não deixar de pagar os benefícios sociais, aposentadorias e pensões, os bancos usam dinheiro próprio até que o Tesouro Nacional regularize os repasses. Esses atrasos não costumam passar de 20 dias.
Todos sabemos que o impeachment enquanto mais grave medida do nosso ordenamento jurídico está na constituição. Justificar o processo instalado na Câmara dos Deputados com esse tipo de argumentação é, no mínimo, cretino. Afinal de contas, não é porque existem cadeias e por existir a polícia para prender meliantes que vamos encarcerar um estudante que matou aula. As pedaladas fiscais são um artifício criticável e pouco honesto sim, mas isso não pressupõe crime de responsabilidade, condição sine qua non para que se possa abrir procedimento com vistas a impedir a continuidade de um mandato legitimamente eleito. É como se punisse com um cartão vermelho o atleta do futebol que cobrasse um arremesso lateral com o pé em cima da linha que limita o campo de jogo.
Em outras palavras, estamos diante de uma grave perturbação da ordem institucional, uma violação do Estado de Direito. Há um golpe travestido de formalismo legal não pelo rito processual do impeachment, mas pela aceitação do pedido de abertura do processo, dado as razões insuficientes e a notória falta fundamentação jurídica, da parte do senhor Presidente da Câmara dos Deputados. Dessa forma, o país se tornou motivo de chacota e de pesar na imprensa internacional, ainda mais pelo deprimente espetáculo de conotações circenses realizado na sessão parlamentar que aprovou o envio do processo de impedimento de Dilma Rousseff ao Senado Federal. É significativo o fato que, dos 367 deputados federais que aprovaram o impeachment, apenas dois deles justificaram suas posições alegando as pedaladas fiscais. A maioria deles mostraram total desconhecimento dos meandros jurídicos de tão importante decisão, atribuindo a Deus, à família e a outras razões risíveis a motivação de suas escolhas. Ficou evidente a distância existente entre a população e a ampla maioria daqueles que constitucionalmente são seus representantes. O parlamento brasileiro, a nossa Casa do Povo transformou-se em um circo (dos horrores, diga-se), ou em um hospício onde são tidos como loucos os que se portam como representantes da população de fato. Os verdadeiros loucos, psicóticos, sociopatas são vistos como “pessoas de bem”, “chefes de família”, democratas e patriotas.
Cabe salientar também que nesse processo todo, pelas razões já apresentadas, a direita tornou-se hegemônica nas ruas. Setores conservadores foram capazes de capitalizar e atrair para si um misto de descontentamentos com a economia, moralismo de classe baseado na hipocrisia, oposição as pautas progressistas centradas nos direitos sociais, defesa de um autoritarismo de inspiração fascista, preconceitos de toda a ordem advindo de uma parcela significativa dos setores médios urbanos insatisfeitos com políticas públicas que beneficiaram os mais pobres e que agora têm presença em espaços até então quase exclusivos da classe média. A indignação original em relação à qualidade do transporte público urbano foi revertida em manifestação apolítica de revolta contra a corrupção e uma percepção pessimista em relação aos partidos políticos, o que somente acentua a despolitização da política em que vivemos atualmente. A direita habilmente continuou a mobilizar parcela da população retirando as demandas por direitos das pautas de reinvindicação.
As esquerdas têm um sério problema de comunicação com os segmentos da população que não tem histórico de participação cidadã. Aqueles a quem os movimentos sociais procuram demandar direitos e representar, os trabalhadores, os excluídos, a população mais pobre que habita as favelas e periferias das grandes e médias cidades brasileiras estão distantes de partidos e de outras organizações da sociedade civil. Talvez a exceção seja o MST, mas esse movimento representa trabalhadores rurais. Obviamente, houve belos momentos de resistência ao impedimento de Dilma Roussef nas ruas desse país, mas quem visitou essas manifestações teve a sensação de que os movimentos sociais, o PT, a frente Brasil Popular falava aos seus. Ou seja, a quem já é militante ou de alguma forma já se engaja nesse tipo de bandeira. Ou ainda a aqueles que, por conta de sua formação escolar-acadêmica, exerce sua cidadania um nível acima da média da população. Aqueles que trabalham doze horas diárias, os que usam os caquéticos ônibus urbanos e trens metropolitanos, os que moram nas periferias e morros, enfim o povão não compareceu para apoiar Dilma. Nem quando DJ Malboro e a Furacão 2000 (notórios representantes do funk carioca) convocaram, talvez tardiamente. Cabe uma autocrítica profunda e uma revisão das suas metodologias de trabalho de base. A que se pratica hoje tem revelado ser pouco eficiente em termos de alcance e de produção de resultados eleitorais. E talvez isso possa custar aos movimentos sociais e as esquerdas muitos anos de ostracismo até que possa ter reais chances de reconquistar o poder na esfera federal.
Além disso, muitos também se recusaram a ir às ruas em apoio à normalidade democrática com receio de, ao invés de defender a democracia, dar sem querer um cheque em branco ao PT por sua condução política, ou um atestado de apoio irrestrito aos seus equívocos muito sérios na gestão da administração pública federal. Nada justifica um Golpe de Estado, ainda que envergonhado, com aparente roupagem legal. Mas a oposição a esse atentado contra a democracia não pode significar absolver os desvios éticos no trato com a coisa pública que ocorreu nos últimos catorze anos. O uso de esquemas de corrupção para garantir apoio parlamentar e o financiamento de campanhas dos partidos da situação com recursos oriundos de empresas estatais e de empreiteiras, tudo em nome da manutenção de um condomínio político em esfera federal não poderia justificar as políticas sociais compensatórias. E acabou contribuindo decisivamente para o isolamento do PT e das esquerdas. Mesmo assim, Lula da Silva ainda aparece na liderança das pesquisas de intenção de voto para a presidência da república. É um fenômeno político de proporções significativas, onde a liderança carismática de um dirigente de origem popular é capaz de mexer positivamente com o imaginário de parcela significativa da população.
Diante de uma gravíssima ruptura institucional, coisa em si muito perigosa, e analisando as propostas de quem pretende ilegitimamente assumir o poder, estamos na iminência de um novo ciclo político de hegemonia da direita. Propostas neoliberais pautadas no ataque aos direitos dos trabalhadores, dos grupos LGBTs, dos negros, dos jovens, serão a tônica do governo do usurpador Michel Temer. Basta uma olhadela nos jornais a respeito do futuro ministério. Não se falará mais de operação Lava Jato na mídia. Serão tempos difíceis. Aos setores progressistas, em curto prazo, resta a mobilização de rua. Será suficiente? Encontrará eco na população capaz de operar mudanças?  O PT fará sua autocrítica? São questões essenciais para tão delicado momento político. Uma coisa é certa: todos esses acontecimentos fizeram implodir o edifício da Nova República. O governo Dilma revelou a falência do presidencialismo de coalização tupiniquim. É necessária uma nova configuração jurídico-política para o país. E ela está em marcha. Só não há certeza se o que está se construindo aprofundará a democracia brasileira ou se fará a sociedade brasileira retroceder para tempos de infelizes memórias marcadas pelo obscurantismo político.  E continuaremos com a economia parada por muito tempo ainda.




[1] Leciona no IFRJ – Campus Duque de Caxias, no Colégio Estadual Heitor Lira e na Escola Pio XII.




segunda-feira, 18 de abril de 2016

um velho recomeço

rolou a bola

Nunca uma resposta positiva foi carregada de tanta negatividade quanto neste domingo.
No dia em que se completam 20 anos do massacre de Eldorado dos Carajás, mais uma vez uma tragédia se abateu neste país de forma indolor.
Um Congresso conservador, sem nenhum tipo de pudor ou vergonha, escreve essa terrível página na história deste país.
O republicanismo bateu as portas, cobrou sua parte no acordo e DEU O TROCO.
A realpolitik nunca custou tão caro a um governo.
Agora, estamos aguardando ansiosamente a primeira reclamação dos que apoiaram o impeachment em relação a esse novo governo que se avizinha. Mas neste caso, não nos referimos aos incautos, ao gado, aos bois de piranha, e sim àqueles que mesmo sabendo o quanto a decisão de ontem custaria, não tiveram o menor constrangimento em apoiar o terceiro turno.
E que fique a lição ao Partido dos Trabalhadores: seja mais ágil e dinâmico na hora de responder; não espere o tempo todo por um milagre de última hora; e finalmente não seja republicano com quem odeia o país.
Triste demais com essa vitória dos inimigos do Brasil.

Sem mais.

sábado, 2 de abril de 2016

vem dizer tudo de novo!

e eis que ressurge!

Salve salve minha gente amiga! Beleza pura e destilada?
Adivinha quem está de volta na praça?
Em nova roupagem, em novo estilo, em nova iniciativa... mas com aquela velha mania contestadora, opinativa e etílica de sempre!
Talvez agora ainda mais radical nos propósitos do decorrer dos assuntos que abordamos: futebol, política, música, comportamento, trivialidades, etc. Porque certamente nos dias de hoje ficar em cima do muro é praticamente impossível...
Não teve como negar a verdade dos fatos: chegamos à conclusão de que não podemos deixar todo um trabalho de lado por causa de uma pequena complicação. Sendo assim, decidimos continuar nosso lance noutra plataforma e estamos muito satisfeitos com a mudança.
Talvez tenha sido um sinal para que houvesse uma reviravolta na própria concepção daquilo que criamos em 2002, quando as primeiras Notícias Herméticas nada mais eram que e-mails que visavam saber a quanta andavam as coisas em terra firme, no período em que embarcávamos em navios e plataformas. Ou seja, o NH surgiu de uma necessidade nossa de interagir com as pessoas e o nosso tempo.
E pensando nisto, nós também concluímos que não temos mais como não interagir com as pessoas, de modo que, com a mente mais relaxada, ponderamos melhor e decidimos dar continuidade ao que em verdade deu certo.
Porque nosso objetivo com o blog era atingir o máximo de pessoas para estimulá-las a um debate sadio de idéias e afins.
O blog mudou de espaço, mas o de sempre continua: compartilhar se for o caso e comentar para entendermos melhor os fatos. Pois escrevendo e debatendo a gente se entende!
E as palavras de ordem do nosso espaço continuam as mesmas:

1.     Onde houver um transado, sempre haverá luta.
2.     E onde houver um malacabado, sempre haverá dignidade.
3.     Pois quando o figurismo chega, a caretice vaza!
4.     E aqui não há espaço para derrotados.

Portanto nobres leitores, sejam bem-vindos ao nosso novo espaço!
A pegada do malacanews será a mesma que imprimimos nas Herméticas, pois em verdade, apesar do novo nome, a alma que anima a ideia permanece a mesma!
E por que o novo nome, "malacanews"?
Foi por causa duma conversa que tivemos com um amigo que fizemos recentemente. Ele tem um trabalho de música e resolveu fazer um novo projeto musical. Pra isso, ele disse que precisou adotar um novo nome "para demarcar sua nova fase na carreira artística".
Pensando nisto, ontem pela manhã estávamos refletindo sobre o que fazer com minhas idéias e aí...
Graças a outro amigo que resolveu criar um espaço no Wordpress, resolvemos ir ao Blogger e criar nós mesmos um espaço, plasmando o blog com nossa própria energia. Depois removemos o blog do Wordpress.
E foi aí que surgiu o nome. Diferente, arrojado e audível.
Uma homenagem a amigos mui queridos.
E olha que tivemos muita dificuldade nesse tocante, pois são tantos os grupos de amigos que, graças a Deus, temos!... Mas esperamos que os demais se sintam igualmente homenageados pois sem os amigos nada somos!
Desde já, agradecemos a todos aqueles que, durante o período das Notícias Herméticas, sempre nos prestigiaram, comentando, palpitando, criticando, elogiando, sugerindo... Vocês são a causa pela qual resolvemos nos reerguer e ressurgir com força e vibração total!
Portanto e a partir de agora, sai de cena o Notícias Herméticas, que conosco NUNCA serviu pra embrulhar peixe, e entra em cena o malacanews, porque aqui é figurismo! E nada de peixe embrulhado em nossas páginas...


E pra começar bem nossa temporada, nada como uma canção escrita em 1984 e gravada pelo efêmero Grupo Café, uma turma de músicos e cantores católicos que lançou um disco de tez regionalista, uma espécie de "MPB católica". Estávamos ouvindo o LP completo que escutamos ontem aqui em casa enquanto construíamos o site e resolvemos compartilhar a letra com todos!
Beijos e abraços fraternos a todas e todos e fiquem ligados porque vem muito mais por aí! Aguardem!



FALE POR MIM
Daniel Ramos

Por que só meias-palavras colocadas devagar?
Por que toda essa demora toda vez que vai falar?

Abre os olhos minha gente, o perigo é iminente
O sorriso é de criança, mas as garras... vou contar
Não se engane simplesmente pelo jeito de falar
O olhar é de menino, mas o coração...

Esse freio na garganta só machuca e faz sangrar
Mas a voz da consciência nunca vai se acomodar

Vede a porta incontinenti, não se flagre inocente
O momento é de esperança, mas a ordem é matar
Relevante é seu medo, mas não deserte assim tão cedo
É preciso mais que força para conquistar

Num dado instante, cansado eu parei, abri a porta
Então me encontrei e olhei por dentro, de perto
Na mesa dos bares, nos copos vazios
Nos lares enforcados, no pipocar dos tiros
Rebentos famintos, seca e alagados
Caos e mutilados na boca dos vadios

Senhor, complete as palavras da minha boca
Derrame mel nessa garganta rouca

Fale por mim!