segunda-feira, 27 de março de 2017

povo enlatado, povo feliz


"vamos cuidar das pessoas"

Falaê galera!
Novamente estamos aqui com nossas palavras ácidas e bem-humoradas, desta vez para dissertar sobre um problema que tem causado muito ruído, porém que segue silenciado por não ter o tratamento adequado pra causar impacto.
Aconteceu nos primeiros minutos de ontem, domingo 26 de março.
Tínhamos acabado de chegar de mais um evento popular na CEB Santa Veridiana (por sinal, qualquer hora dessas, falaremos sobre esse espaço vivo de cultura, onde costumava haver muita coisa bacana). Descemos do BRT Transoeste e nos encaminhamos para o ponto da Transcarioca a fim de retornar ao lar.
Na chegada ao local, a primeira constatação foi a de sempre: quatro filas muito grandes, todos à espera do ônibus articulado que seguiria para a Ilha do Fundão no modo parador. Indagamos a um popular sobre a demora do coletivo apenas para nos certificarmos de que o cenário não mudara desde a última vez em que estivemos no terminal Alvorada em janeiro: já tinha pelo menos meia-hora que nada acontecia naquele local.
Passou-se mais meia hora aproximadamente e a fila duplicou de tamanho. Até que o articulado comum chegou (comum, porque tem um modelo estendido desse articulado, cerca de 10 metros a mais). Assim que as quatro portas se abriram, fomos praticamente empurrados pra dentro do veículo que em poucos segundos lotou completamente. Com muito custo, as portas foram fechadas, porém já sabíamos que não seria mais assim porque sendo parador e tendo demorado tanto para passar, imaginamos como as pessoas conseguiriam entrar nas demais estações e depois como conseguiriam sair.
O fato é que ao passar da estação Rio 2, acabamos cochilando, cansados do evento em Santa Cruz. Acordamos já passando da estação do Ipase, faltando pouco pra saltarmos. Passaram-se uns vinte minutos talvez no cochilo, mas foi o suficiente para observarmos que seria impossível passar pelas pessoas sem empurrá-las. Uma mulher ao nosso lado também saltaria, mas antes de minha na Capitão Menezes. Interessante que ela não esboçou reação de saltar, talvez subestimando as pessoas em pé, não sabemos.
Quando o ônibus chegou à Praça Seca, a mulher mal se levantou direito. E acabou não se mexendo. Alguns passageiros ficaram irados. Ainda teve quem gritasse "vai descer!", mas de forma inútil, pois os motoristas do BRT não costumam dar maior atenção, ainda mais em caso de superlotação. Eles nem ouvem, em verdade...
Tivemos de avisar à mulher que se ela não forçasse passagem pararia no Fundão. Ela ficou com aquela cara de quem toma remédio "com gosto ruim" e nem se mexeu. Resultado: nem nós nem ela, pois ela não saltou na Capitão Menezes e nós não saltamos na Pinto Teles. Mais uma mulher e outro homem esbravejaram muito por não terem saltado também e a mulher continuou como quem não acredita naquilo. Tememos que irrompesse uma confusão no ônibus, que circulava com as portas todas abertas já que não havia como fechá-las.
Quando o ônibus chegou ao Campinho, o que já sabíamos aconteceu. Já tinha gente reclamando horrores do BRT. E aí não teve jeito: aos trambolhões, mulheres e homens foram passando como tratores, no desespero de saltar antes de o ônibus sair - sem ter como fechar as portas, poderia sair a qualquer momento. Foi nesse lance que conseguimos sair. Fomos os últimos e quase caindo no vão entre a plataforma e o coletivo, pois sentimos que ele estava arrancando enquanto pisávamos na estação. Aquela mulher que citamos foi praticamente expulsa aos empurrões e aos palavrões sem calão algum, sendo jogada quase de encontro à antepara e quase foi linchada e pisada pelos mais exaltados que não saltaram na Capitão Menezes e na Pinto Teles. Felizmente, a turma foi saindo da estação sem espancar a pobre senhora, porém as reclamações não tiveram fim.
Passado todo esse sufoco, passou um articulado indo pra Alvorada logo que o outro saiu pro Fundão e o tomamos pra nossa estação. Eram duas da matina quando finalmente chegamos onde queríamos.
Tudo isto que relatamos não soará como novidade para quem está habituado a tomar os ônibus do BRT aos fins-de-semana, em especial na transição de sábado para domingo. Sempre é assim: quando o relógio marca meia-noite, vários articulados param e o intervalo entre carros da Transcarioca varia de meia-hora a 45 minutos. Já os da Transoeste aparentemente têm um intervalo menor.
A quantidade de pessoas que fica esperando é tamanha que lotaria dois articulados. Tanto que observamos que muita gente não conseguiu entrar naquele ônibus e teria de esperar mais uma hora pra poder seguir viagem.
Observamos também que havia muita criança de colo no ônibus em que estávamos. E que no meio daquele tumulto no Campinho uma mulher desceu com uma menina. Ela só saiu ilesa porque ela já estava perto da porta. Ou seja, embarcou naquelas condições, sem ter como chegar a uma cadeira e foi certamente amparada por quem estava na porta. Olha o perigo que ela passou com a petiz! E se a confusão gerada pela mulher que comentamos fosse naquela porta onde a jovem mãe estava?...
Dessa vez não aconteceu, contudo quando estivemos certa ocasião numa situação dessa na Alvorada, teve tumulto e foram uns 10 ou 15 no Controle do BRT a fim de reclamar da falta de ônibus. Na gare, havia dezenas desses articulados parados, sem nenhum sinal de que seriam utilizados. E quando o ônibus finalmente chegou, o tumulto foi exatamente o mesmo.


E o que dizer de tudo isto?
Bom, pra começo de conversa... Por que não temos mais as opções de transporte quando o relógio marca 23 horas? Sim prezados e prezadas, algumas linhas de ônibus começam a minguar antes da meia-noite. Que tipo de estudo foi feito pela Prefeitura ou pela RioÔnibus, onde se constatou que não há necessidade de ônibus quando meia-noite se aproxima? Ou ninguém usa ônibus à noite ou de madrugada?
E o que é pior: nos bairros cortados pelo BRT, 97% das linhas que circulavam foram cortadas e as vans e kombis impedidas de trafegar. Portanto, para quem mora nas regiões abrangidas pelo corredor, só há o BRT praticamente. Porém depois da meia-noite, há um corte drástico na quantidade de veículos – e já está comprovado que muitas pessoas utilizam os coletivos, tanto quanto durante o dia, talvez até mais, porque as pessoas querem aproveitar o fim-de-semana para seu merecido lazer seja na casa de parentes, em parques públicos ou em bairros onde tem discotecas, boates e outros.
É quase certo que o cartel de Jacobarata alegará que é por questões de segurança, a violência urbana, etc. Pode até ser, porém atentamos para o fato de que distúrbios como esses não têm mais hora pra começar. Vandalismos nas estações do BRT, por exemplo, se tiverem de acontecer, acontecem a qualquer hora. Assim como assaltos dentro de ônibus (uma triste e dura realidade que tem aumentado muito na capital e Grande Rio). Já foi o tempo em que havia "horários perigosos", isso já é fava contada há tempos.
Observem como o famoso direito de ir e vir é vilipendiado. Ônibus só serve para atender a necessidade de trabalhadores que laboram no horário comercial (nem pra estudar serve mais, o cartão dos estudantes o tempo todo tem problemas...). Ou seja, vida noturna e trabalhos à noite e pela madrugada foram proibidos na cidade e ninguém sabia...
O que na verdade acontece é que há uma criminosa conivência entre o poder público e o cartel dos ônibus no Rio. Segundo dados da própria Fetranspor, são cerca de 5 milhões de passagens vendidas por dia, gerando uma receita de 19 milhões de reais. Multiplicando no mês e no ano, as cifras batem a casa dos bilhões.
Além disso, a profissão de cobrador está praticamente extinta na cidade, uma linha ou outra ainda mantém esse profissional. Isso significa menos trabalhadores para manter, menos custos, encargos, impostos, e mais dinheiro no bolso dos mandatários dos ônibus.
Todavia nada disto se tornou algo relevante para a mobilidade urbana como um todo, nem para a própria prestação do serviço. Ao contrário, houve pioras:

1.    Não há mais agilidade na condução dos coletivos, já que o motorista faz função dupla, tendo de dar troco e dirigir. E tal fato fez com que o número de motoristas afastados mais que duplicasse nos últimos 5 anos, seja por conta de acidentes no trânsito, seja por falta de condições emocionais/psicológicas pelo stress gerado diariamente.

2.    Com essas mudanças por conta não apenas dos corredores do BRT como também com a implantação do VLT na zona central do Rio, diversas linhas ou foram abolidas ou muito modificadas, por causa do impacto no trânsito naquela região, causando confusão por um bom tempo até que as coisas se ajeitassem satisfatoriamente – o que ainda não aconteceu.

3.    E no caso especial dos BRTs, ainda tem a questão das tais "linhas alimentadoras", que em determinados locais mais matam de fome por conta duma espera interminável, mesmo durante o dia.

Fora tudo isto, ainda há outros aspectos como a falta de climatização de TODA A FROTA de ônibus da cidade, uma promessa de campanha do ex-alcaide que já foi cobrada mesmo pelo Ministério Público. Esse ano 100% do efetivo deveria estar refrigerado, porém não é o que observamos e não nos parece que Jacobarata e seus blue caps estão querendo se mexer quanto a isso. Lembrando que o valor de R$ 3,80 foi definido com o objetivo de se proceder à aquisição de ônibus climatizados, porém ainda há linhas que NUNCA tiveram carros com esse equipamento.
Portanto, o que relatamos na Terminal Alvorada é também reflexo da própria maneira como a concessão pública de linhas de ônibus é explorada (não se esqueçam: linha de ônibus é concessão pública como as autonomias de táxi). O cartel RioÔnibus é ainda pior que os de Cali e Medellín, na Colômbia, porque trata-se de algo legalizado, porém pessimamente gerido e sem qualquer tipo de fiscalização mais rigorosa.
O curioso é que soubemos à boca pequena que as empresas de ônibus estão recrutando motoristas, pois esse profissional estaria "em falta no mercado". Ora, e quanto aos muitos demitidos ao fim da função de cobrador (de quem era exigida a habilitação D), não poderiam ser reaproveitados?
E no caso do BRT, se o problema é a falta de motoristas com CNH E, por que não se capacita os que já dirigem ônibus a fim de que eles tenham carta pra condução dos articulados? Ah, é verdade, chama-se investimento, e investimento demanda dinheiro, e dinheiro é tudo que esses malditos querem usar, pra não faltar pros iates, mansões e heranças deste império...
Pois esses são os fatos, meus amigos. O problema da mobilidade urbana foi exposto aqui neste artigo e sabemos que tipo de solução deve ser aplicada. Porém se o Poder Público não pressionar o cartel, nada será resolvido. Mesmo o Ministério Público tem de ser acionado o tempo todo por nós, usuários desse modal que é um dos mais caros do país em termos de funcionalidade e custo-benefício. Se houve avanços como o bilhete único, os problemas estruturais seguem a todo vapor. De nada adianta facilitar pra população com esses bilhetes e o modal permanecer defasado.
Por fim, ou muda-se esse cenário horroroso ou seremos condenados a essa sensação de estar como sardinha enlatada. Não é nada sensato esperar um óbito pra que se tome uma providência. E no caso que contamos, nada garante que a próxima vez não acabará de forma trágica. Pois nós QUASE caímos do ônibus e a mulher QUASE foi espancada. E se a próxima jovem mãe vir seu bebê cair entre o ônibus e a plataforma e ninguém conseguir segurar o motorista, faz como? Culpar a RioÔnibus? Espancar o alcaide atual? Pois é, mas nada disso trará a integridade física dos passageiros de volta. Afinal, em se tratando de seres humanos, perda alguma é passageira...


EPÍLOGO

Algumas pessoas na estação do Campinho comentaram sobre a falta de educação de alguns que ficaram nas portas travando-as, com o ônibus em movimento. Disseram que "apesar de a prefeitura ter culpa, vandalismo também não resolve, povo sem educação é isso aí".
É evidente que não somos fãs de quebra-quebra de estações ou de ônibus. Em verdade, é gol contra. Por outro lado, ponderamos o seguinte: será que essa mesma pessoa que critica nunca imaginou que essas atitudes, neste caso em especial que descrevemos, estão bem mais para conseqüência que pra causa? Pra ser mais claro: diante desse quadro caótico no BRT Transcarioca que se estende há ANOS na Alvorada, como a RioÔnibus responde a fim de mitigar esse grave problema?
Ora, é muito mais fácil pr'aquela pessoa que fez aquele comentário dizer que o povo é que não tem educação. "Porta aberta à força no BRT" é algo que não deixa dúvidas sobre o que pensar. Só que esse tipo de reação, a nosso juízo, só expõe a derme, e não a víscera. Trouxe-nos a impressão de que a porta escancarada é muito mais grave que não ter ônibus, quando na verdade uma coisa se torna conseqüência direta da outra. Por que o cidadão não praguejou contra Jacobarata e afins? Perguntamos a ele e não tivemos resposta, exceto um silêncio indiferente.
Nossa reflexão final é assim: em vez de somente apedrejarmos quem quebra ônibus e estações, não seria hora de metralhar aqueles que se utilizam de uma concessão pública para faturar em cima, pessoas que são diretamente responsáveis por essa situação de trevas que enfrentamos todos os dias na cidade, não importa se no BRT ou em coletivos comuns? Pois a jovem mãe e sua filha que vimos na estação não têm que passar um sufoco como aquele. Nem ela nem ninguém!
Convidamos leitoras e leitores para pensar nisto.


quinta-feira, 23 de março de 2017

o dia da maldade 2

governar é moleza


22 de março de 2017.
Mais uma data que entra pra História do Brasil de forma negativa. O dia em que a CLT foi rasgada de maneira inclemente.
231 SIM. 188 NÃO.

A terceirização total é o extremo-oposto do que o governo deposto propunha. Pois sempre procurou-se preservar a atividade-fim. Agora não há mais o que preservar.
O entreguismo do governo golpista e não-autorizado nas urnas chega mais uma vez a um pico. Porém vem mais por aí, não podemos afirmar que seja o ápice. A "reforma" da Previdência (que preferimos chamar de ENTREGA da Previdência) também está a caminho e fortalecida.
Observando o mapa da votação de ontem, verificamos que mesmo entre certos partidos da base golpista não houve consenso. Significa que ou estão balançados sobre se manterem golpistas ou seu curral eleitoral cobrou posição (o mais provável). Ainda assim, isso não foi o suficiente para deter a campanha da implosão do Brasil, uma espécie de "500 anos em 2" que talvez chegue ao fim ano que vem SE a população quiser que chegue ao fim.
Incautos não entendem o quão nociva foi essa decisão. Acreditam que basta ser CNPJ via MEI e tudo se resolve. Daqui a 20 anos, conversamos.
E assim como escrevemos no primeiro dia da maldade (10 de outubro de 2016), de nada adiantou explicar.
De nada adiantou ser contra.
De nada adiantou dizer em português bem claro e chulo "vamos nos f...!!!"
E agora, o que dizer?
Assim como naquela ocasião, passamos a palavra ao nosso querido afroameríndio Alberto Patrício. Fala figura!

Onde estão as panelas?

Onde estão as camisas da selenike?

Onde estão os cartazes "Cunha é meu amigo"?

Onde estão os discursos de "intervenção militar constitucional"?

Onde estão as selvies com a Polícia Militar?

Onde estão os festivais de relinchos tão bem publicados pelos Jornalistas Livres?

Onde está essa galera que era tão indignada "contra tudo que está aí?"

PARABÉNS, "MILITANTES". SEUS PRIVILÉGIOS ESTÃO GARANTIDOS, E AGORA NUM PRAZO ETERNO.

Lutemos para não voltar às senzalas, mas para nos aquilombarmos mais ainda!!!


Ao contrário daquele fatídico dia, não estamos mais à espera de um milagre. Pois temos consciência de que é o fim do espancamento sumário de panelas. Camisas da selenike desfilando incólumes pelas ruas, só durante a copa do ano que vem.
"Primeiro a gente tira a Dilma; Depois a gente..." NUNCA esqueceremos o mantra acima, nem quem o relinchou.
Obrigado, parabéns e uma salva de palmas a todos os envolvidos!

Nós avisamos.
Sem mais.



EM TEMPO: Após o crime cometido ontem contra o povo brasileiro, partidecos como o PSB e o PPS deveriam dar outro significado ao S de suas siglas ou então pôr outra letra. Assim como o próprio SD dos tucanos deveria dar lugar a outra coisa como a letra E de ENTREGUISTA, por exemplo (ou mudar o significado também). O segundo P do PPS pode ser de PELEGO. Assim teríamos:
PEB = partido ENTREGUISTA brasileiro
PPE = partido PELEGO ENTREGUISTA
PSDB = partido dos SABUJOS DERROTADOS do Brasil
E assim por diante.

sábado, 18 de março de 2017

a carne mais barata do mercado

que papelão hein!

Temos lido muitos textos e assistido muitos vídeos sobre essa questão da Friboi (que é apenas um dos segmentos da JBS). Tenta-se entender e explicar o que pode estar por trás de toda essa movimentação em relação a essa operação que devassou os frigoríficos de todo o país, tendo inúmeras pessoas citadas, desde empresários a políticos.
Muitas pessoas têm-se indignado com esses articulistas porque pensam que eles estão defendendo o segmento da "carne podre com papelão", o que realmente é compreensível porque eles tocam no assunto com um viés que mais lembra teorias conspiratórias (especialmente quando se diz que "os EUA têm interesse nisto", ou seja, na quebradeira dos frigoríficos brasileiros).
Confessamos que também ficamos irritados com a falta de objetividade desses camaradas. Talvez não tenham achado o tom certo pra comentar e acabaram sendo ridicularizados páginas afora. Se bobear, Leonardo Stoppa terá de fazer um novo vídeo a fim de explicar melhor sua idéia porque ela foi ofuscada pelo tom alarmista que ele imprimiu no vídeo todo.
Tentaremos ser mais práticos.
anos a JBS é acusada das maiores barbaridades contra a saúde pública, afrontando com força todas as regras da vigilância sanitária. Já foi objeto de denúncia diversas vezes e aparentemente nada era feito para punir os culpados e impedir essa cretinice de se vender alimentos estragados à população.
Eis que "no meio do nada" resolvem acionar a frigorífica e a notícia veiculada na mídia tem um tom catastrófico que NUNCA teve desde a primeira denúncia do grupo, que chegou a usar midiáticos para dar legitimidade aos seus negócios. Justamente num momento de quebradeira total de serviços e outros por conta do denuncismo que assolou o país via Lava-Jato. Aliás... O tom catastrófico se dá justamente por conta dessa enxurrada de denúncias, como se antes delas não houvesse gravidade alguma em se vender carne fora do prazo de validade com um disfarce convincente pro povão não perceber.
A questão toda, queridas e queridos, resume-se numa simples pergunta: Por que isso não aconteceu antes? Por que a JBS navegou em águas calmas por tantos anos, mesmo com tantas denúncias em cima? Falta de provas? Hahaha, não nos ludibriemos com algo tão tacanho, pois todas as denúncias contra a Friboi foram muito bem amarradas com provas concretas do que estava se passando naqueles frigoríficos.
É por isso que se desconfia com razão de uma tentativa de derrubada não da JBS, que é apenas uma empresa (de ponta), mas de todo um segmento frigorífico que passa a ficar sob suspeita (naquele raciocínio falacioso que ensina que "se os poderosos da carne fazem isso, imagina os pequenos"). Se pensarmos que a construção civil ficou em frangalhos depois de todas as revelações de esquemas por todo o país (isso porque os barões das obras todos foram destronados e as empresas médias que eram terceirizadas pelas grandes também dançaram), pode-se aplicar esse raciocínio aos frigoríficos.
E sempre se há o risco das demissões porque a credibilidade dessas empresas foi pro saco preto e assim ficaria insustentável manter uma empresa de pé sem ter consumidores, que obviamente não se arriscarão em comprar gato por lebre (ainda que ambos com caras de sadios). Não descartemos o fechamento de frigoríficos em todo o país por falta de condições, não apenas pelo lado sanitário, mas por não ter como se manterem financeiramente. Sem compradores, não há dinheiro.
Percebam que não estamos aqui fazendo defesa desses "criminosos da JBS". Apenas atentamos para o fato de que realmente pode haver muito mais que simplesmente pretender que "comer carne podre já deu". Fiquemos muito atentos mesmo a esse lance - e não estamos dizendo pra galera assistir jornal nacional ou novela.
E esperamos que os articulistas sejam mais sóbrios para falar do assunto e não percam o feeling para lidar com uma opinião pública já acostumada pelo PIG a espernear com qualquer notícia tola e se calar diante de um absurdo inominável. Esse assunto é seríssimo e não dá pra querer chamar a atenção da opinião pública acusando os Illuminatis ou os reptilianos só por acusar. Está na hora de se lidar melhor com as massas, informando com mais apuro para não correr o risco de a desinformação vencer mais uma vez.
Primeiro foi o pré-sal; depois as obras civis; agora, a carne. Quem será a próxima bola da vez?


EM TEMPO 1: Gostaríamos de saber o que a bancada do boi (que é uma das mais poderosas do país) pensa de tudo isso. Ou alguém tem dúvidas de que esses eventos a atinge diretamente? Lembremo-nos de que o volume de dinheiro que essa gente movimenta é muito grande e de certa forma os negócios são duramente atingidos. Ainda que ajam nas sombras, esses capitalistas do agronegócio não são fãs da idéia de que deixaram de lucrar "um pouquinho". Eles NUNCA se contentam em simplesmente lucrar. Tem que lucrar MUITO.


EM TEMPO 2: Engraçado... Ainda não prenderam Lulinha pelo caso Friboi. Geralmente o dono do empreendimento é o primeiro a dançar...


EM TEMPO 3: Raul Seixas previu tudo isso em 1975:

Eu já paguei a prestação da geladeira, do açougue fedorento que me vende carne podre que eu tenho que comer, que engolir sem vomitar

Quando às vezes desconfio se é gato, jegue ou mula aquele talho de acém que eu comprei pra minha patroa pra ela não me apoquentar!




quinta-feira, 9 de março de 2017

gente de bem com o mal

quem fala o que quer...

Rio de Janeiro, 8 de março de 2017. 9 horas e 35 minutos.
Resolvemos parar numa barraquinha a fim de comer alguma coisa, já que ainda não tínhamos tomado o café da manhã. Tivemos de resolver uma questão no Tanque, zona oeste do Rio de Janeiro, e estávamos voltando pra casa.
À parte: Em geral, gostamos do café da manhã das barraquinhas, são excelentes e tem muita variedade a preços pra lá de populares. Indicamos, inclusive, uma ao lado do terminal BRT de Madureira, em frente à estação do trem, que tem até uns lances fritos na hora, simplesmente apetitosos. Quem não é fã de coisas gourmet vai chorar de emoção ao comer e beber... Já onde estávamos, a barraca não tem o mesmo requinte, é mais modesta, mas seguia um padrão bem típico. Pães embrulhados no papel alumínio e bolos numa cestinha, além das indefectíveis garrafas Termolar coloridas, cada uma com um líquido (café puro, pingado, chocolate, sucos, etc.).
No momento em que iríamos perguntar os preços dos itens, uma voz feminina nos chamou a atenção, embora não tivesse sendo dirigida diretamente a nós, e nos fez calar:
_ Bom dia senhorrr, tudo bem com o senhorrrr?_ Ela estava simulando de forma francamente supérflua um sotaque que poderia ser de qualquer localidade, mas a julgar pelo que repararíamos quando olhamos pra ela, não era bem um portunhol e sim um inglês pra lá de fuleiro – nem quem não domina a língua anglo-saxã se expressaria tão mal.
_ É, porque é um bom dia apesar de tudo_ ela abandonou o "sotaque", já que nem o camelô nem nós demos créditos algum àquilo (se é que ela estava levando em conta nossa presença até então)_ Porque esse país tá cada vez pior, cada vez mais difícil viver aqui, com essa roubalheira, esse...
Foi nesse momento que resolvemos radiografar e analisar aquela mulher que estava falando sem parar. Aparentemente 45 anos, branca, cabelos cortados à altura das orelhas, não muito gorda e talvez 1,60. Ela estava usando uma blusinha dessas de alça bem fininha e era justamente entre o seio esquerdo e o ombro que havia o que nos chamou a atenção em definitivo: uma bandeira dos Estados Unidos tatuada em cores muito vivas, embora parecesse ser antiga, e logo abaixo a sigla "USA".
Fixamos o olhar naquela tatuagem por instantes, enquanto aquela voz, tão desagradável quanto o tom que ela usava pra falar, continuava:
_ Pois é, cada país tem o povo que merece [notem essa curiosa inversão no famoso dito popular], isso aqui tem mais jeito não... Paisinho medíocre, de gente medíocre, que só elege gente medíocre, por isso o Brasil tá assim, essa vergonha!
O camelô a essa altura não nos deu maior atenção porque estava escutando aquele discurso em silêncio. Difícil precisar se ele concordava com tudo aquilo, mas pelo que sentimos, ele estava se incomodando, mas como se trata de potencial cliente... Sim, é duro escrever isso, prezadas e prezados, mas é fato...
_ E o Carnaval? Ninguém tem dinheiro pra nada, mas chega carnaval vão encher a cara de cerveja... Pra que fantasia, somos todos um bando de palhaços o ano inteiro, fantasia pra quê? Agora que acabou o carnaval, todo mundo sem dinheiro, já que gastou tudo em bloquinho... E os palhaços reclamando da vida! Eu dou risada desses trouxas, hahahaha!
Então ela parou de falar do Brasil e, sem propor sugestões de mudanças, perguntou o que tinha pra comer.
_ É isso, é Brasil-sil-sil!!!_ completou, debochada. Foi quando respiramos pesado, ainda olhando pra ela. E ela notou. O camelô também, tanto que nos perguntou se comeríamos alguma coisa, talvez temendo alguma pancadaria. Respondemos em forma de indagação o que tinha e quanto custava cada item, sem tirar os olhos da infeliz. A essa altura nossa ira já era total e nossa expressão facial já entregava de bandeja o que pensávamos de toda aquela torrente de sandices vindas daquela infeliz.
Foi quando ela disse a palavra decisiva:
_ É meu filho, eu falo mesmo, a gente que é de bem é que sofre...
Sabem aquele momento em que você é tomado por uma surdez repentina e parece que um turbilhão se forma na sua cabeça e você se sente aéreo? Foi como nos sentimos ao ouvir aquela expressão. "Gente de bem"... Sentimos uma urticária feroz ao ouvir aquelas palavras e nossa respiração ficou ainda mais pesada. Alergia ou choque anafilático?
Não conseguimos manter o controle, amigas e amigos. Rimos debochados, olhando firmemente pr'aquela criatura. Ela evidentemente ficou pê da vida:
_ Tá rindo é, tem que rir mesmo, isso é muito sério! Paisinho de gentinha de mer#$%@a!!!_ Então gargalhamos. Ela notou que era de escárnio para com ela e se enfureceu:
_ Tá rindo de quê, tá rindo da minha cara, é???
Balançamos a cabeça, como quem recrimina uma criança (tsc, tsc, tsc...), e resolvemos sair dali o quanto antes. E aí ela relinchou aos berros com muita indignação algo que, se nos conhecesse, jamais relincharia:
_ Deve ser algum petralha, vai, ri mesmo, sou brasileira e amo meu país e não tenho medo de comunista, fique sabendo disso!
Inesperadamente, nos voltamos pra ela, olhando nos olhos e um passo à frente, e respondemos com voz firme, mas cheia de raiva, o que nos veio à cabeça naquele momento:
_ Não sou comunista, sou bairrista_ e desviamos de forma feroz o olhar pra tatuagem dela e voltando dentro de seus olhos:_ E minha bandeira, que é a do Rio de Janeiro, só tem duas estrelas!_ E fomos embora, sem olhar pra trás.
O festival de relinchos que se seguiu não é digno de nota, e nem mesmo prestamos muita atenção neles, então nem dá pra reproduz-los.
O fato é que quando seguimos pela Geremário Dantas, em direção ao BRT, nos demos conta dum perigo que poderia ter nos custado alguma coisa de sério. Passou pela nossa mente que aquela mulher poderia ter chamado atenção de alguém, e que esse alguém poderia ter tomado as dores dela, e corrido atrás de nós. E que ela poderia inventar alguma besteira que não dissemos, tendo o camelô como "testemunha", logicamente coagido. E tudo isso num dia como o de ontem, o Dia Internacional da Mulher. Seria o suficiente um linchamento moral sem tamanho, onde nos passaríamos por machistas e tudo o mais.
Pode parecer exagero de nossa parte, mas não é. Lembrem-se de que pessoas sem escrúpulos agem exatamente assim, como covardes que são. Ou então, por que as panelas permanecem em silêncio ante toda essa implosão de nosso país?
Um texto como esse deve fazer muitos que nos conhecem há tempos pensar que se trata d'alguma crônica de ficção baseada (ou não) em fatos reais, como escrevíamos nos anos 1990. Quem dera que fosse, camaradas... Pois aconteceu conosco ontem pela manhã e só não nos pronunciamos antes porque tínhamos muitas atividades e ficamos sem tempo.
Ontem ficamos frente a frente com o "inimigo". Frente a frente com o mais perigoso de todos os brasileiros: a tal "pessoa de bem". E confessamos: sentimos medo quando demos as costas àquela meliante (quase o mesmo medo de Regina Duarte...). Erramos. Sabe-se lá o que ela poderia ter feito? Lembramos que é recomendável que nunca reajamos em face do perigo, mesmo estando armados. Bom, nós reagimos. Sem gritar, mas com voz firme. Contudo ainda estamos vivos. Graças aos orixás.
E o mais impressionante em tudo isto é que essa mulher não sabe quem somos, nunca nos viu, nem mesmo do que somos capazes. Mesmo assim, não pensou duas vezes em destilar seu preconceito contra nós, nos julgando sem ao menos nos dar chances de uma justificativa, se fosse o caso. 20 anos atrás seria constrangedora uma abordagem tão insana quanto essa (que nos lembrou e muito o caso que contamos um tempo atrás chamado "O pernambucano paraguaio", onde também fomos vítimas de preconceito de etnia e de classe). Hoje não há mais máscaras: os cretinos agem sem se preocupar. Certeza da impunidade por pertencer a um grupo que se blinda com facilidade e que julga os outros pelo que os outros aparentam?
Assim finalizamos esse relato, alertando a todos que militem sem trégua, mas tomem cuidado quando o assunto for lidar com "gente de bem". Nem mesmo os achaques das autoridades políticas ou policiais são mais apavorantes que as palavras daquela gentalha tão bem representada como foi por aquela mulher. Não duvidem: são pessoas como ela que certamente seriam capazes de atirar em nós, só de nos vir num banco da praça, por desconfiar de nosso caráter, se o porte de armas fosse totalmente liberado, atendendo aos interesses da maldita "bancada (ou cambada) da bala". Como um Minority Report às avessas...
Nunca esqueceremos aquela maldita bandeira tatuada nem aquele asqueroso "USA". Graças ao discurso de ódio ao Brasil daquela mulher. Um discurso de uma virulência que nem mesmo nós, que nos dizemos muito mais cariocas que brasileiros, temos.
"E se fosse outra bandeira?", perguntam-nos os incautos, e obviamente a "outra bandeira" pensada seria a de Cuba, Venezuela, Coreia do Norte...
Ora, muito simples! Não advogaremos em causa própria, já que as tais bandeiras são sempre associadas à esquerda (seja pelo comunismo, seja pelo socialismo). Responderemos pelo viés capitalista mesmo: não poderia ser a da Suécia?
Beijos e abraços fraternos a todas e todos!!!


EM TEMPO: Acabamos por tomar café num botequim na Praça Seca...



terça-feira, 7 de março de 2017

saldo final da apoteose

enquanto há samba, a festa continua

Salve salve galera!
Sim, sabemos que é um tanto quanto tardio tocar neste assunto, porém segue uma análise sobre o carnaval na Sapucaí, feita pelo nosso querido Diogo Jerônimo.
Ele já tinha me pedido pra falar sobre o enredo da Imperatriz Leopoldinense (muito polêmico por sinal e tal polêmica se refletiu em sua avaliação, como vocês lerão), porém não tivemos tempo hábil nem inspiração para tal. Assim, pedimos ao amigo um parecer para poder publicá-lo com os devidos créditos evidentemente.
Assim, é com imenso orgulho e prazer que abrimos mais uma vez um espaço para nossos leitores discorrerem suas impressões e esperamos que os leitores gostem do texto. Como de hábito, deixem seu comentário ao fim da leitura a fim de entendermos os fatos e espalhem o link por aí.
Aquele abraço moçada!!!



SALDO FINAL DA APOTEOSE
Diogo Jerônimo*


Salve aos mestres!!!
Em meio a intervenções da Rede Horror de Televisão, polêmicas (inevitáveis) e tentativas nem sempre saudáveis de inovação, as escolas de samba da terra de São Sebastião pisaram novamente a Marquês de Sapucaí. Entre enredos e desfiles chamativos, algo novo para o espetáculo: acidentes, que se abateram sobre o público, e sobre as próprias agremiações, já evocando uma recomendação do INMETRO acerca de segurança para os próximos carnavais. Sobre esses, havia ainda algum ânimo para a continuação do espetáculo? As burocracias para a segurança dos carros foi atendida? Não será talvez uma boa hora para repensar o gigantismo das alegorias, comuns nos desfiles dos últimos anos?
Enfim, esse metido a observar (e curtir) esse grandioso espetáculo passa suas impressões do que assistiu. Ao contrário do ano anterior, os desfiles tiveram pontos altos e baixos nos dois dias, de forma que acho melhor particularizar pelas apresentações:
- Paraíso do Tuiuti: A agremiação de São Cristóvão falou de forma colorida dos 50 anos da Tropicália. Passou com bom samba, Wantuir soltando a voz, boas alegorias, mas prejudicada por ser a primeira escola do primeiro dia. Ainda pesou contra a agremiação os problemas no último carro, que além do acidente, estragou a evolução final;
- Grande Rio: Falar de Ivete Sangalo remete a grande quantidade de artistas globais e celebridades, e ao fato da homenageada ser a maior representante do movimento que maculou as origens do samba nos anos 1990. No fim, a escola de Duque de Caxias passou solta, alegre, elétrica como o trio, mas com samba extremamente acelerado que afetou a bateria, alegorias grandiosas, porém óbvias, e uma velada tentativa de comprar os jurados pela simpatia inesgotável da baiana. Muito barulho, pouco samba. Passou bonita, mas o desfile das Campeãs foi um exagero;
- Imperatriz: O enredo mais polêmico e discutido do Carnaval desse ano, acerca da intervenção do agronegócio nos hábitos, costumes e mesmo no habitat dos indígenas da reserva do Xingu (lembrar que uma exaltação ao agronegócio foi enredo da Unidos da Tijuca em 2016, na homenagem à cidade de Sorriso). Cahê Rodrigues trouxe para a avenida alegorias imponentes, harmonia sincronizada, poucos buracos em nível de evolução. O samba foi ótimo, e Lollo mostrou que a bateria da Imperatriz volta a impor respeito. A nota baixa, talvez o intérprete (Arthur Franco), que apesar de bom, estava tímido (Estandarte de Revelação?), seu canto quase sumindo entre os demais intérpretes da escola. Mas no geral, a escola merecia voltar no desfile das Campeãs;
- Vila Isabel: O enredo sobre a presença negra na música foi até bem contado, mas faltou maior capricho na organização e detalhes. A escola cantou bem, mas o samba (um dos melhores de 2017, com passagens emocionantes) pareceu sumir no meio do desfile, apesar da ótima bateria. As alegorias eram impactantes pelos efeitos, boas fantasias, mas ainda perdendo para as grandiosas dos desfiles de 2012 e 2013. Foi um enredo que começou empolgante, mas sem fôlego no fim. A Vila anda precisando de nova reformulação;
- Salgueiro: Talvez eu tenha ficado mal acostumado com o hipnótico desfile de 2016, mas esperava mais da Academia. As alegorias tinham impacto pelas cores, mas quando não assustavam (falar da Divina Comédia de Dante é difícil e perturbador mesmo), não tinham a picardia e boa elaboração do último carnaval. As fantasias não comprometeram, mas igualmente sem a provocação irreverente de 2016. O samba simplesmente não pegou, apesar de que a harmonia funcionou e a bateria de Marcão brilhou como sempre. O terceiro lugar talvez tenha sido um bom presente para a agremiação;
- Beija-Flor: Igualmente esperava mais da princesa nilopolitana, mas por motivos diferentes: a escola, tradicional pelo ajuste de suas apresentações, misturou excesso de cores em seus setores, dificultando a leitura do enredo indígena sobre Iracema de José de Alencar. Sem a presença de alas, pareceu por instantes que a escola estava mal vestida, com alegorias óbvias. Salvou-se pela bateria, pelo grito da comunidade, por Neguinho da Beija-Flor, e claro, pelo seu excepcional samba, com razão, o Estandarte de Ouro de Carnaval;
- União da Ilha: Ao lado da São Clemente, Imperatriz e Mangueira, o melhor enredo desse carnaval. E com boa inovação, a Tricolor passou como nunca vi: alegorias enormes, bem acabadas, leitura de enredo simples (inédita abordagem dos enredos afro, sobre as origens do tempo nas tradições bantus de Angola!!!). Ao lado do belíssimo samba, o refrão poderoso (e de belo significado),o intérprete Ito Melodia sempre forte, a Ilha sacudiu a Avenida. Não fosse a complicação com o último carro, que "matou" a evolução e gerou correria para evitar o estouro de tempo, poderia ter voltado no desfile da Campeãs;
- São Clemente: Não houve desfile mais injustiçado nesse Carnaval. A escola de Botafogo não empolgou a plateia, mas estava claro que a comunidade tinha o samba na língua, a harmonia excelente, ajudada pelo bom intérprete e pela bateria firme. Na estética da mensagem sobre os golpes na realeza francesa, nova aula de Rosa Magalhães, lembrando seus carnavais na Imperatriz dos anos 90: fantasias luxuosas, alegorias bem acabadas e brilhantes, e o que é mais interessante, carros alegóricos não gigantescos, que facilitaram a evolução da amarelo e preto. O resultado foi um desfile dos mais sem erros, compacto, componentes brincando o Carnaval... merecia retornar ao menos no desfile das campeãs. Como diferença de desempenho com a União da Ilha, o fato de ter justamente desfilado sem erro visível;
- Mocidade: Um dos dois desfiles de fato preparados para ganhar o Carnaval 2017. A Verde-e-Branco de Padre Miguel retornou ao seu estilo vencedor: escola brilhante, carros enormes, suntuosos e bem acabados, com fantasias de alto bom gosto para falar do Marrocos. A comissão de frente, pela sacada do Alladin fugindo no tapete voador via drone, foi um show à parte (mais criativo que os empregos de drone anteriores). No que se refere à musicalidade, um adendo: foi em minha modesta opinião, com sobras a melhor interação musical (intérprete + samba + bateria + harmonia) que pisou a Sapucaí esse ano. Wander Pires mostrou que é ainda um dos melhores intérpretes, a bateria de Padre Miguel seguindo suas tradições, o samba gostoso de cantar junto com a escola, que entrava e cantava em uníssono, sem nenhum timbre fora do lugar. A estrela da Vila Vintém de volta ao seu brilho singular!!! Vivendo um sonho das mil e uma noites!!! Poderia perfeitamente ter levado o título;
- Unidos da Tijuca: Um desfile para se esquecer da escola do Borel. Fora o acidente que causou problemas para a escola (e que gerou uma parcialidade escandalosa dos jurados e mesmo da LIESA, vide a virada de mesa), o enredo acerca da música americana já tinha tendência ao cansativo. O samba não ajudou por isso (a Vila Isabel foi mais feliz), e a perfeição técnica de outros anos foi totalmente comprometida pelo acidente, quebrando evolução, harmonia e no fim, atrasos que tiraram décimo da escola. Para se esquecer...;
- Portela: Talvez seja polêmica minha colocação, mas lá vai: apesar de muito feliz pelo fim do jejum da escola de Clara Nunes,o desfile desse ano perde em quase todos os quesitos aos desfiles entre 2014 e 2016. A bateria de Nilo Sérgio sempre funcionou em alto nível, mas a harmonia não pareceu tão entusiasmada. O samba foi um dos mais cantados do ano, mas com exceção do refrão forte ("Quem nunca sentiu...") o restante do samba pareceu cansativo na Avenida (será que Gilsinho de fato era "segurado" pelo Wantuir?). Por outro lado, as alegorias nem estavam tão revolucionárias como em 2016, e nem de acabamento tão perfeito quanto em 2014. Enfim, pareceu que a Majestade do Samba se aproveitou dos erros mais frequentes de suas concorrentes para, no "não erro", crescer na apuração, e encerrar o incômodo jejum ao fim, falando sobre os rios. Sob esse aspecto, parabéns linda Portela!!!;
- Mangueira: Ao lado da Mocidade, o desfile desse Carnaval feito para ganhar. O samba lindíssimo, a interação da bateria e da harmonia sempre robusta, Ciganerey novamente inspirado. E um desfile beirando entre o emocionante e o próximo da perfeição: alegorias ultra evocativas do enredo sobre a religiosidade e misticismo do povo brasileiro, sem intolerância, com belíssimas imagens, fantasias riquíssimas e bem elaboradas (ótima surpresa o carnavalesco Leandro Vieira!!!). Algumas partes desse desfile podem perfeitamente ser marcadas como dos melhores momentos da Estação Primeira nesse século. Uma pena os erros pontuais, poderia levar o caneco, mas no quesito emoção e religiosidade, a Mangueira marcou os corações nesse Carnaval. Valeu Verde-e-Rosa!!!
No mais, para além do Especial:

·           Felicidade pela volta do sempre tradicional Império Serrano (e que volte para ficar!!!);
·           Reconhecimento a Unidos de Padre Miguel, como escola postulante ao Especial (já deveria ter ido lá, talvez sem o acidente com a porta-bandeira, tivesse chegado esse ano);
·           Ótimos enredos da Viradouro e da Estácio de Sá, mas que poderiam ter caprichado mais nos sambas (a Estácio, no intérprete também);
·            Admitamos: quantas preciosidades de samba-enredo não nos brindou o acesso A!!! Das escolas que acompanhei, posso falar que me empolguei com as composições de Império Serrano, Unidos de Padre Miguel, Império da Tijuca e Acadêmicos do Cubango. E o que é o grupo de Acesso, pela força das comunidades, cada vez mais tem a cara do que um dia foi (e deveria voltar a ser) o Grupo Especial.

No mais, fico no aguardo para as opiniões dos mestres sobre os desfiles desse ano. E viva às escolas de todos os acessos!!!
Li uma frase muito boa de um presidente de agremiação dos acessos inferiores: "Hoje, é campeão quem consegue colocar sua escola para desfilar!!!"
Viva as comunidades, viva o que ainda é o samba de raiz!!!
Abraços aos mestres!!!



*Diogo Jerônimo é estatístico