segunda-feira, 9 de outubro de 2017

precisamos conversar sobre livros


Salve galera!

Após um longo período, eis que surge mais uma malacanews para felicidade geral da nação!
Dessa vez, abordaremos um tema muito especial... Embora já tenhamos dissertado sobre isto noutra ocasião no Facebook, não custa nada novamente abordar este assunto que merece atenção.
Trata-se dos dois livros que nossa casa umbandista, o TEGO (Tempo Espírita Guerreiros de Oxalá), lançou no mês passado e que para nós é um prazer muito grande poder falar deles!
Ambos são biográficos: um, a história do guia-mentor da casa; o outro, as memórias dos malandros que trabalham em nosso terreiro. Histórias que em dado momento se encontram e até mesmo se confundem. Porque todos viveram juntos e intensamente o período terreno e muito tempo depois se reencontraram para dar continuidade àquilo que começaram ainda que sem se darem conta.
Após muito trabalho e dedicação ao longo de dois anos, é com muita satisfação que apresentamos a vocês a segunda edição de Com ponta de sabre e bala de metralhadora: Seu Juninho na Umbanda, um guerreiro de Oxalá e o inédito livro Malandragem, a culpa é da inocência. No primeiro livro, Juninho conta detalhes de sua vida enquanto encarnado e toda sua caminhada espiritual após o desencarne até o dia em que foi designado para trabalhos neste plano através da mediunidade de seu aparelho. Já o segundo livro retrata a trajetória dos futuros malandros enquanto seres "de carne e osso", onde foram rememorados detalhes de sua vida familiar e o momento em que todos se reuniram para construir uma vida em comum.
Mais que contar sobre a conjuntura daquela época, os protagonistas das duas publicações nos contam sobre como viviam, o que pensavam e o que os levou a se reunir. De forma inédita, temos aqui o relato fiel de pessoas comuns que viviam suas vidas cada um a seu modo (uns com mais dificuldades que os outros, é fato) e que repentinamente se viram envolvidos numa causa que sequer sabiam direito de que se tratava. Sentiram na pele as dores, as agruras de uma vida marginal e experimentaram um amadurecimento que sequer sonhavam graças às lutas diárias pela sobrevivência. Por outro lado, mesmo com tantas dificuldades, eles ainda encontraram tempo para sorrir, para se divertir e assim a cada dia estreitar os laços que os levaram a uma amizade tão profunda e duradoura até os dias de hoje.
São, sem sombra de dúvida, abordagens um pouco distintas: se o livro de Juninho soa mais "doutrinário", com ele fornecendo mais detalhes de como é a vida no Astral, o dos malandros é um pouco mais "documental", com ênfase na realidade que a malandragem vivia até o momento de seu desencarne. Contudo, num dado momento, as histórias se cruzam – e isto foi fundamental para o que aconteceria com todos os personagens com o passar dos anos.
Postas essas considerações, diríamos que se trata de duas obras que indubitavelmente se completam porque abordam por inteiro um ciclo de vida terrena e suas conseqüências no plano espiritual. Com efeito, impressiona o modo como o Alto opera e tal constatação serviu para que nós mesmos refletíssemos muito sobre cada detalhe passado nas inúmeras conversas que tivemos nesses dois anos. Nossa percepção acerca da religião, da crença e da fé ficou um pouco melhor e com isso procuramos levar essas lições não apenas para os trabalhos no terreiro, como também para nossa vida cotidiana. E por se tratar de seres que foram "de carne e osso", trata-se de histórias que estão próximas do que qualquer um de nós poderia ter vivido (se é que alguém aqui já não viveu essas coisas...).
Essas duas publicações foram tratadas por nós, escritores, como marcos na literatura umbandista. Trata-se de assuntos da Espiritualidade que trazem algo novo, pois é a primeira vez que teremos como pano de fundo não apenas o Mundo Espiritual pura e simplesmente e tudo que se refere a isto, mas também a cidade do Rio de Janeiro e toda a atmosfera dum período marcante de nossa História: a ditadura militar iniciada na década de 1960. Assim, forçosamente tivemos uma idéia da percepção que alguns cidadãos brasileiros tinham daquele período, se faziam idéia do que se passava e como reagiram ao ter essa noção. É uma abordagem nova, inusitada para os padrões documentais. Fora o comportamento, a cultura e o modus vivendi do carioca médio daquele tempo.
E pra além das questões abordadas nos dois livros, também entendemos durante a elaboração desses títulos (principalmente o dos malandros) que há duas necessidades que precisam ser mencionadas:

A primeira questão é religiosa. Diz respeito à apresentação da umbanda para aqueles que talvez não tenham muitas informações sobre o que exatamente é essa religião anunciada num centro espírita em Niterói em 1908, uma religião genuinamente brasileira. É uma oportunidade de se desfazer diversos equívocos que persistem há tantos anos como quando confundem a umbanda com o candomblé; também propomos o debate dos pontos em que a umbanda e o espiritismo têm em comum e os que os distingue; e assim por diante. Os espíritos que se dispuseram a contar suas histórias também concordaram que esses livros também poderiam ser úteis no sentido de se esclarecer determinados pontos que sempre suscitam dúvidas nas pessoas.

A segunda mirada é política. Está mais ligada ao que estamos vivendo especialmente aqui no Rio. Um momento de perseguição religiosa intensa, de muitos casos de intolerância, vandalismo, agressões e mesmo ameaças de morte por parte de segmentos que nos encara como "concorrente", como se estivéssemos disputando "clientes", ops, fiéis com eles. Sem contar com o fato de que se trata duma religião afro, com todos os elementos que sugerem uma ligação com o continente negro. Em suma, trata-se de uma forma de impedir que se pratique preceitos religiosos sem relação alguma com um cristianismo helenizado. E o discurso de ódio recrudesce a olhos vistos e são incentivados por aqueles que deveriam ser os primeiros a nos defender, que deveriam agir institucionalmente falando em nosso favor, fazendo valer a nossa Constituição.

Nesse sentido, esses dois livros são a forma como resolvemos partir pro enfrentamento contra essas forças que visam nos derrubar por questões que definitivamente não nos interessam. É uma forma de dizer que somos umbandistas e que devemos ser respeitados como qualquer outro religioso. Aqui, juntamo-nos aos coletivos religiosos, aos movimentos progressistas em defesa da liberdade de credo (e de não-credo) e a todos aqueles que defendem o direito constitucional de crer ou não.
Por fim, essa é nossa proposta. Esperamos sinceramente ter conseguido nos fazer entender e que a leitura dos dois livros seja muito prazerosa, da mesma maneira que foi um prazer muito grande para nós termos feito parte deste projeto. Um prazer e um desafio, uma vez que tínhamos de transformar em palavras escritas tudo aquilo que os guias nos ditaram, o mais fielmente possível. Com efeito, agradecemos imensamente a Deus, a nossos orixás e aos guias espirituais pela oportunidade de termos sido instrumentos para essa missão tão especial.
Que esses dois livros cumpram seu objetivo: de fortalecer a umbanda com essa maneira vanguardista de se abordar um tema ao mesmo tempo fascinante e misterioso; e de mostrar às pessoas que umbandista quando levanta sua bandeira não é com o intuito de entrar em guerra com quem quer que seja e sim para que os bons ventos que sopram de Aruanda, a terra abençoada, garantam que esta mesma bandeira que carrega a fé, o amor e a caridade tremule aos olhos de todos para que o respeito possa sempre existir.

Muito obrigado a todas e todos e fiquem com Deus! Axé!!!

sexta-feira, 14 de julho de 2017

a gificação da informação

uma reflexão pra fechar essa semana de horrores


Fala moçada!
Nós já tínhamos chamado a atenção desse lance no começo dessa semana em nossa timeline, porém depois duma matéria que acabamos de assistir, resolvemos fechar a semana falando sobre o tema. Julgamos ser importante falar disto porque diz muito sobre como a informação pode ser transmitida às pessoas e de que maneira ela pode realmente causar algum impacto nelas.
Acabamos de assistir numa página de Facebook uma matéria veiculada pela TV Record dando conta de uma mulher que foi vítima de agressão por parte de seu ex-namorado, um policial que não aceitou o fim do relacionamento. O cretino (de nome Danilo) já tinha sido notificado pela Justiça antes porque já vinha agredindo a moça (de nome Cíntia) seguidamente. Há inclusive uma determinação judicial de que ele deve manter distância da ex. Entretanto, se valendo da força de sua farda, Danilo agrediu Cíntia à luz do dia, sem ter noção de que havia uma câmera filmando o momento exato em que procedia seu ato covarde. O policial ainda tentou impedir a ex de se afastar dele, ameaçando-a de morte se ela visse a ter outro namorado, até que ela conseguiu chamar atenção duma patrulhinha. Só que o evidente corporativismo falou mais alto e de forma nojenta: o policial da patrulhinha até cumprimentou o cretino e o levou do local, sendo liberado a seguir sem maiores entraves. A matéria acabou assim. O caso ocorreu no estado de São Paulo.
A notícia em si já é um horror por se tratar de mais um caso bizarro de machismo. No entanto, a maneira com a Record tratou o assunto conseguiu nos indignar tanto quanto a brutalidade do machão fardado. Pois o momento da agressão flagrado pela câmera foi transformado em uma imagem GIF e a cena se repetiu oito vezes em apenas um minuto de matéria, bem ao estilo dos memes humorísticos das redes sociais. Sim, nós contamos. Pior: a menos que o pessoal da página do Facebook tenha marcado toca na divulgação do absurdo, percebemos que a emissora se preocupou tanto com esse gif nauseabundo feito com a imagem de Cíntia sendo agredida que a matéria ficou inconclusiva: Afinal, o patife foi novamente denunciado ou não? Foi preso ou não? A mulher agredida foi levada a sério por alguém ou não?
Concluímos com isso que foi péssimo o modo sensacionalista como a emissora tratou um tema tão delicado. E não é de hoje que a Record reduz matérias em gifs que em nada contribuem para o entendimento de qualquer reportagem, retirando toda a importância daquilo que pretende noticiar. Todos os telejornais da emissora têm isso. TODOS. Como se realmente houvesse a necessidade de se insistir tanto com uma imagem que por si só já é lamentável.
Ora, pra que ficar repetindo ad nauseam cenas como aquela daquele jeito? Que necessidade há de se martelar aquilo? Por que não focar também (e mais) nos fatos e estender a reportagem com informações de relevância e outras imagens que pudessem trazer alguma luz para o problema da moça agredida? Seria muito mais importante ouvir o delegado que recebeu a primeira denúncia, a advogada da vítima e do cretino, enfim, abastecer o telespectador de informações sobre o caso. Até mesmo fazer referência a outros similares. Parece até que está dando a notícia "por dar", com má vontade. Ou pior: que não tem capacidade para realmente tratar do assunto.
O departamento de jornalismo da Record trabalha de forma muito tosca a informação. Se bem que não é exclusividade dela: todas as emissoras que valorizam o sensacionalismo barato (em muitos casos, o que há de pior no mundo-cão) procedem dessa maneira. E é exatamente por essas e outras que ninguém leva a sério essas emissoras. Ainda que haja programas voltados para a galhofa, temos certeza de que algo como o que aconteceu com Cíntia não deve ter um tratamento tão grotesco quanto esse: vir sua denúncia ser "gificada" com imagens repetidas oito vezes em um minuto, num esvaziamento de conteúdo nauseante.
São casos como esse com estamos analisando que confirmam uma das críticas mais recorrentes nos últimos tempos: o jornalismo brasileiro caminha a passos largos para a total decadência. Credibilidade zero. Não apenas pela manipulação da informação, atendendo a interesses quando pensamos especialmente nas notícias políticas, como também os recursos para se chamar a atenção para os fatos que devem ser divulgados. Se por um lado percebemos certa leifertização no que respeita à apresentação das matérias (e isso não somente em telejornais), por outro a datenização dos fatos virou regra quando o assunto é atingir certa parcela da população com um tipo de telejornal pensado para ela. Como se essas pessoas não pudessem ser atingidas com notícias sem que se precisasse utilizar recursos tão patéticos como o que descrevemos. Transformar uma imagem que retrata um crime como o descrito por nós num GIF, um formato que se utiliza muito para motivos humorísticos? Isso é ter responsabilidade como a informação? É nisso que o jornalismo está se resumindo? E quem realmente acaba pagando o pato é aquela que se dedica em preparar reportagem com todo um cuidado, um tato, e que tudo que não quer é ser mal-compreendido ou abrir brecha para ambiguidades.
Fechamos nossa missiva com essa reflexão. Nunca nos esqueçamos que os canais de TV são concessões públicas, ou seja, há o erário nisto. E nem se trata de cercear a liberdade de expressão, como alguns que leram até aqui podem pensar. É simplesmente respeitar o telespectador no trato com os fatos, dando um tratamento condizente às matérias veiculadas, ainda mais em se tratando do que descrevemos. Aquela moça foi vítima do machismo cruel de seu ex-namorado e do machismo corporativista do policial que o ajudou o canalha a se safar. Portanto, foi duas vezes vítima. Motivo mais que suficiente para a Record tratar o assunto com seriedade. Afinal, nem tudo dá pra datenizar. Se é que alguma notícia tem que ser datenizada...


quarta-feira, 12 de julho de 2017

o dia da maldade 4

governar é isso


11 de julho de 2017.
Mais uma data que entra pra História do Brasil de forma negativa. O dia em que finalmente os trabalhadores voltaram a ser escravos.
50 a 26. Mais um infame score em favor da barbárie contra nosso povo.
E no dia seguinte, 12 de julho de 2017, outro grande acontecimento: a condenação de um ex-presidente da república com base em convicções. Isto significa que não podemos mais sair às ruas. Se a polícia cismar com nossa cara, seremos conduzidos coercitivamente ao Ary Franco. Pra que provas?...
E assim como escrevemos no primeiro dia da maldade (10 de outubro de 2016), de nada adiantou explicar.
De nada adiantou ser contra.
De nada adiantou dizer em português bem claro e chulo "vamos nos f...!!!"
E agora, o que dizer?
Alberto Patrício, é com você, camarada!

Onde estão as panelas?

Onde estão as camisas da selenike?

Onde estão os cartazes "Cunha é meu amigo"?

Onde estão os discursos de "intervenção militar constitucional"?

Onde estão as selvies com a Polícia Militar?

Onde estão os festivais de relinchos tão bem publicados pelos Jornalistas Livres?

Onde está essa galera que era tão indignada "contra tudo que está aí?"

PARABÉNS, "MILITANTES". SEUS PRIVILÉGIOS ESTÃO GARANTIDOS, E AGORA NUM PRAZO ETERNO.

Lutemos para não voltar às senzalas, mas para nos aquilombarmos mais ainda!!!


Não estamos mais à espera de um milagre.
"Primeiro a gente tira a Dilma; Depois a gente..."
Sem mais.

segunda-feira, 10 de julho de 2017

malacanotas 4

Alguns fatos

Salve galera!
Depois de um mês um tanto quanto cheio, sem ter tempo de realmente pensar em algo pra escrever, eis que voltamos pra fomentar o debate em nosso democrático espaço. Como sempre, esperamos muitos comentários dos leitores e caso seja o caso, espalhem essa edição pelos quatro cantos do planisfério.
Vamos aos fatos!


Dedetizando os transportes?

A prisão de Jacobarata e seus blue caps na semana passada foi emblemática, embora muitos não acreditem que essa quadrilha fique muito tempo com os pulsos algemados.
Tudo que o Ministério Público Federal disse na entrevista coletiva de ontem foi apenas a confirmação do que já denunciamos anos a fio:

1.   Os ônibus que circulam na cidade estão defasados e até agora há linhas que nunca tiveram carros com ar condicionado (e olha que havia um prazo para isso, que era toda a gestão de Dudu Paes). E ainda há a seletividade das linhas: dependendo dos bairros abrangidos, os ônibus têm um design melhor, oferecem mais conforto e têm uma freqüência maior que em outras linhas, ainda que sejam da mesma empresa. A cor cinza de toda a rede de ônibus facilita e muito para os empresários, pois é um tom que mascara as imperfeições dos veículos e dificulta a identificação por parte dos passageiros. Algo proposital, pois fica complicado dizer qual foi o veículo pelo número de ordem (escrito num cinza mais escuro e complicado de se discernir).

2.   A função dupla dos motoristas tornou a prestação de serviços muito mais morosa para passageiros e mais nociva aos profissionais, que tem-se afastado das funções com mais freqüência, na maioria dos casos por estresse. O aumento de acidentes no trânsito já havia sido denunciado, mesmo assim a extinção da função de cobrador segue de vento em popa. É possível contar nos dedos as linhas que ainda mantém esse profissional, assim como dá pra se ter uma idéia da economia que a RioÔnibus tem todo mês deixando de contratar funcionários.

3.   A implementação do BRT retirou muitas linhas das ruas, piorando a mobilidade urbana, uma vez que a quantidade de carros articulados é pequena para a quantidade de passageiros, que chega a fazer fila nas estações mais movimentadas. Aliás, tanto os ônibus quanto as estações foram subdimensionadas e tal fato chegou a ser admitido pela Prefeitura, depois que a Transoeste foi inaugurada. Evidente: mal começou a circular e as linhas regulares da região sumiram. Nos horários de pico, o terminal Alvorada e as estações de integração ficam caóticos com milhares de pessoas querendo embarcar nos ônibus e poucos carros para dar conta. E em determinadas regiões (como onde nós moramos), linhas alimentadoras em muitos casos mais matam de fome e de raiva que realmente integram os bairros com o BRT.

4.   A própria idéia do BRT Transbrasil, a nosso ver, é um absurdo sem tamanho e que prevemos que piorará ainda mais a questão da mobilidade urbana na cidade. Em verdade, esse novo BRT evidencia o poderio desse cartel maldito, que tem lobistas fortes em todas as esferas de poder, como bem descrito pelo MPF. Pois se a idéia é reduzir o número de ônibus e facilitar o trânsito na principal avenida do Rio, por que não se põe um transporte ferroviário no lugar? Transporta mais pessoas, é menos agressivo ao meio-ambiente e muito mais eficaz. A alegação de que custa caro aos cofres públicos é muito discutível, se observarmos as cifras movimentadas pelos cretinos desse cartel capitaneado pelo inseto asqueroso dos transportes do Rio, e além disso é um investimento que se paga com o passar do tempo. O custo-benefício é alto. Porém como atingiria em cheio o bolso da RioÔnibus, a Prefeitura nem cogita isto. Basta lembramos que o traçado do VLT foi modificado nos arredores do Aeroporto Santos Dumont sob a alegação de que "prejudicaria o serviço de ônibus na mesma região". Tadinho dos insetos...

Sendo assim, embora duvidemos que aqueles canalhas apodrecerão no Ary Franco, não deixa de ser algo notável vê-los sendo detidos e todo o esquema sendo posto às claras pra população. Resta agora à população se informar e começar um movimento a fim de termos um serviço público de qualidade, já que não é pouco o que se arrecada de impostos com esse fim, fora o valor das passagens, que é alto, se observarmos o custo-benefício.


A gente não se vê na globbels

Onde exatamente termina o esporte e começam os negócios? Temos feito essa pergunta em rodas de amigos, em redes sociais, porém até agora não conseguimos chegar a uma conclusão satisfatória.
Acompanhamos todos os anos as competições de futebol no Brasil. E nosso desagrado somente aumenta por causa daquilo que clubes e federações nos oferecem a preços exorbitantes, com um custo-benefício baixíssimo.
Praticamente todos os campeonatos disputados no Brasil, não importam se nacionais ou estaduais, estão sujeitos aos caprichos da emissora que detém o maior número de direitos de transmissão no país. A globbels com sua política monopolista está vencendo a guerra com sobras, apesar de esparsas batalhas vencidas pela concorrência. E o mal não está apenas na questão do pay per view: mesmo aqueles torcedores que têm interesse em ver seu time de coração in loco, são prejudicados pelas datas e horários péssimos em que se dão os jogos, tudo para atender aos interesses da Vênus Platinada porque a prioridade dela é sua nauseabunda grade na TV aberta.
Quando analisamos profundamente essa questão, lembramos do que o então governador do Rio Leonel Brizola determinou nos anos 1980 em relação ao carnaval das escolas de samba na Sapucaí. Ele bateu forte na globbels no tocante às transmissões, dizendo que o espetáculo era de interesse público e que por isso não poderia haver privilégios para emissoras quaisquer, nem mesmo para a TV Manchete, que conseguiu o direito da transmissão (por sinal, de excelência que deixou saudades).
Brizola sempre dizia que se houvesse monopólio nas transmissões, o espetáculo seria devidamente prejudicado porque os interesses da emissora detentora sempre viriam na frente. E nesse caso específico, era evidente que sua preocupação era os interesses da sua maior desafeta, a maior rede do Brasil. Dito e feito, pois hoje em dia os desfiles têm tempo cada vez menor, sambas cada vez mais corridos (e de baixa qualidade, diga-se de passagem) para atender às necessidades dos desfiles e até mesmo a globbels se reserva o direito de não passar as primeiras escolas, a fim de privilegiar seus anunciantes via novelas, como ficou claro em 2015. E assim, as escolas de samba, tendo de atender a essas demandas globais, têm seu trabalho de um ano inteiro vilipendiado, com uma fortíssima intervenção externa, ainda que seja muito bem disfarçada. Ou alguém pensa que essa postura da globbels não interfere nas idéias que surgem nos barracões e afins? (E olha que nem mencionamos casos de escolas tidas como "as escolas da da plim-plim".)
Observem como no futebol acontece algo análogo. Pois assim como a Liesa aceitou tranquilamente essa situação (contando com o silêncio conivente de suas afiliadas), a CBF, as federações estaduais e os clubes nada dizem em relação a descalabros como o desmantelamento das tabelas (tanto em datas quanto principalmente em horários) em favor da programação da emissora dos marinhos: jogos ao meio-dia de domingo (olha que delícia num país tropical como o nosso!); jogos na segunda-feira em horários nada interessantes para torcedores; e nenhum jogo transmitido "de graça" aos sábados. Evidente: os programas do casal 20 da coxice televisiva (Angélica e Tucanuck) são mais rentáveis para a emissora.
Talvez a diferença resida apenas no fato de que as escolas de samba chiaram quando se deram conta de que corriam o risco de não serem assistidas ao vivo pelos telespectadores, o que fez os patrocinadores desistirem de injetar dinheiro. Aliás, já há uma turba intensa no meio do carnaval porque a grana que era injetada no espetáculo foi cortada drasticamente e já tem gente ameaçando não fazer carnaval ano que vem. Já os presidentes de clubes se mantêm calados, afinal já pegaram cotas adiantadas da globbels até 2020 e nenhum deles têm condições de devolver o dinheiro, se fosse o caso de haver algum protesto nesse sentido. E nem faria sentido essa devolução porque não se vê nenhum tipo de movimento por parte dos jogadores em relação a jogar meio-dia (num sol de 45 graus no Rio, por exemplo) e os torcedores, alijados da discussão nem tem voz. Pior: são convencidos (por uma campanha velada da mídia, nós já percebemos) de que ver jogos às 11 horas é bom "pra reunir as famílias em casa ou no botequim na hora do almoço", como quem visa constranger clubes e jogadores que até pensam em expor seus pontos-de-vista em termos da organização dos jogos e, principalmente, da saúde dos jogadores. Reunir famílias... Ou seja, estádios não são para torcedores e sim para famílias...

Falando nisso, só pra marcarmos território mais uma vez...
Não se muda o perfil de uma torcida de arquibancada da noite pro dia. Majorar preço de ingresso e transformar estádio em arena não quer dizer nada. Só haverá gente mais preocupada em filmar a cobrança de pênaltis e fazer selfiezinha estilo "amo muito tudo isso". A Copa do Mundo no Brasil mostrou muito bem o que acontece quando se transforma torcida em plateia.
 Vimos o tape do 7 a 1 naquela ocasião e concluímos que se aquele povo fantasiado e malacabado que freqüentava as gerais dos estádios estivesse no Mineirão no lugar daquela gente asséptica de verde-e-amarelo, seria um clima muito diferente. Torcedores sabem cobrar de jogadores em campo e cobram pra valer. No terceiro gol, o estádio se transformaria num caldeirão insuportável e se bobeasse uns 4 ou 5 daquela selenike teriam abandonado o jogo com medo e vergonha...
Por outro lado, os próprios clubes (em especial os que se dizem "os mais populares") aprovaram essa concepção de "arena" e a mudança de perfil, pois afastaram o povo da geral de seus jogos, empurrando-os para os botequins (já que nem todo mundo pode pagar um pay per view), deixando que os gritos de gol sejam substituídos por flashes de smartphones...
E assim arquibaldos aos poucos são eliminados do cenário de futebol, caminhando a passos largos para sua definitiva extinção, a exemplo do que ocorreu aos geraldinos.


Vasco da Gama, a sua fama vai se desfazendo

Em vista do que aconteceu no sábado após o jogo que já foi chamado de "Clássico dos milhões", não temos como deixar de comentar sobre o que aconteceu após a partida, que levou milhares de um estado de euforia ao de medo.
Assistimos num botequim o Mais Querido vencer o da Colina por 1 a 0, gol de Everton. O jogo em si foi até razoável, mas num todo tecnicamente fraquíssimo – como tem sido infelizmente quando os dois se encontram nos últimos tempos. Muita luta, muita disposição, mas futebol-arte quase inexistente. São Januário estava bem cheio e até o apito final nada indicava que o estádio se transformaria numa praça de guerra.
Sem maiores explicações, sem nenhuma câmera que tivesse registrado onde e quando exatamente começou, repentinamente uma confusão generalizada tomou conta do estádio. Tentativas de invasão, arremessos de isopores e objetos menores no campo, correria, gente tentando invadir as (ou se proteger nas) cabines de rádio e TV...
E foi nesse pandemônio que rojões e bombas foram usados como armas pelos "torcedores". Esse foi o primeiro sinal de alerta que chamou a atenção: como foi possível tais artefatos em posse daquela gente? Lembrando que há uma norma proibindo o uso de fogos, sinalizadores, etc., justamente por conta das tragédias que já ocorreram não apenas no Brasil, mas pelo mundo afora, seja por acidentes, seja por serem armas mortíferas na mão de quem não presta. A delegação do Fla e os poucos urubus que foram torcer devem ter demorado muito pra sair de vez de São Janú, talvez por volta das 21 ou 22 horas. Não tinha como...
Na confusão, o estádio foi sendo vandalizado pelos "torcedores", que arremessaram grades de proteção, cadeiras, quebraram portas, vidros, etc. Era como se uma equipe de demolição tivesse entrado em São Januário a fim de implodi-lo. E se analisarmos bem, como comentaremos mais adiante, esse deve ter sido o objetivo.
No meio do tumulto, que as TVs transmitiram ao vivo e a cores, um óbito, crianças sendo carregadas para ambulâncias, pessoas já feridas, outras detidas, gás de pimenta, tiros e uma balbúrdia que foi contida quando a tropa de choque chegou.
Bom, passada toda essa confusão, o que podemos dizer de tudo isso? Simples. Que como amantes do esporte bretão, não podemos deixar de lamentar profundamente o que aconteceu em São Januário. Que mais uma vez o Clube de Regatas Vasco da Gama é vítima de pessoas que certamente não são torcedoras, uma vez que não faz sentido que uma torcida seja capaz de danificar o próprio patrimônio. Que a instituição, que tem uma história de extrema relevância no cenário esportivo, tenha sido atacada de forma tão inclemente, sem que houvesse o mínimo de RESPEITO.
É evidente que é muito mais que simplesmente reduzir tudo a "meia dúzia de vândalos", como a mídia adora resumir. [À PARTE: Não foi exatamente o caso dessa vez, porém queremos registrar que agora é moda chamar de "vândalo" manifestante que revida as agressões que sofre da polícia sem motivo algum (na verdade, é a polícia agindo com a anuência do desgoverno estadual).] Todos que acompanham futebol (e em especial os bastidores do Vasco) sabem que há uma briga política ferrenha em curso, uma disputa sem trégua com cenas lamentáveis que apenas apequena ainda mais o clube, que tem pagado uma conta pesadíssima como os rebaixamentos no futebol, por exemplo.
E a gente observa o quão triste e desleal é essa disputa quando observa uma guerra campal no estádio daquela dimensão da de sábado. Por que torcedores entrariam em São Januário com morteiros, rojões, etc., sabendo que algo dessa natureza prejudicaria o clube? Só de estar em posse desses artefatos já nas dependências do estádio, já haveria uma representação contra o Vasco porque estariam infringindo uma norma que diz respeito a isso. Ou seja, foi proposital mesmo e só estavam esperando o momento exato pra agir.
Arriscamos um palpite: mesmo que o Vasco tivesse atropelado o Flamengo com um 7 a 1, o final seria o mesmo, no caso tendo como desculpa uma possível reação de rubro-negros ante as provocações da massa cruzmaltina. Tanto que o alvo não foi exatamente a Nação presente em São Janú; nem mesmo a delegação do Fla, ainda que tenham soltado rojões nela, mas ali cremos que foi "só pra constar", "em nome da rivalidade" (como se isso fosse justificativa). Para nós, o alvo foi outro e se chama Eurico Miranda, o atual mandatário. O mesmo Eurico que anos atrás deixou de dar ingressos a algumas organizadas por motivos presumivelmente de briga política. Não há dúvidas de que parte do que acontece dentro do Vasco ainda tem um pouco daquela questão antiga, pois nunca mais houve trégua entre "o do charuto" e essa turma.
De qualquer forma, continuamos crendo ser um absurdo o que aconteceu e esperamos que alguma providência seja tomada. Não que estejamos torcendo para que São Januário seja "lacrado por 20 anos como forma de punição severa" porque isso não resolve rigorosamente nada. Afinal de contas tantos estádios por aí continuam recebendo jogos e brigas. Entretanto, é preciso que se apure os fatos e que os responsáveis diretos pelo ocorrido sejam caçados – e não estamos falando dos que depredaram o estádio. Devem ser encarcerados os patrocinadores daquela balbúrdia, os que estavam confortavelmente instalados em suas casas, assistindo às gargalhadas a destruição dum patrimônio do porte do Clube de Regatas Vasco da Gama. Esses sim teriam de ser os condenados ao Ary Franco: os poderosos de sempre, os que subjugam, os que compram a dignidade alheia em nome sabe-se lá do quê. Elementos nocivos, meliantes de altíssima periculosidade, gente que apavora muito mais que esses tolos sem dignidades que promoveram o quebra-quebra.
O clube da fuzarca definitivamente não merece isto.

E assim encerramos essa malaca do mês. Queríamos abordar outro assunto pra fechar essa edição, porém nos sentimos obrigados a dedicar algumas linhas ao clube de coração do meu pai, de meu saudoso padrinho, de muitos queridos amigos e parceiros e de tantos outros que tem como pendão a Cruz de Malta.
Existe uma famosa sentença dum ex-presidente vascaíno (Cyro Aranha) que diz que "enquanto houver um coração infantil, o Vasco será imortal". Pois bem, hoje os corações infantis e adultos choram confusos, estarrecidos, indignados... Esperamos que tais lágrimas de dor e tristeza não sejam imortais.


segunda-feira, 15 de maio de 2017

álcool na ferida

Escolha seu inimigo

Fala moçada!
Depois de muito ler e ouvir as redes sociais após o dia marcante da semana que passou (quando houve o duelo Moro x Lula, em Curitiba), resolvemos mais uma vez ceder nosso espaço a um debate que consideramos pertinente e essencial para compreendermos certas noções.
O motivo de escolher o texto abaixo foi por conta duma resposta a uma postagem dum amigo nosso que quase nos fez cair da cadeira. Esse nosso camarada pôs em destaque na sua timeline a famosa frase do dramaturgo alemão Bertolt Brecht que diz que "a cadela do fascismo sempre está no cio". Pois bem, amigas e amigos: em vez de simplesmente comentar essa idéia que a cada dia é mais atual e clara no Brasil, uma amiga de nosso amigo preferiu criticar aspectos totalmente fora do contexto do conceito: "Essa frase é machista". Isso mesmo: "Essa frase é machista".
Não quisemos acreditar que nada há de melhor pra se comentar acerca duma uma frase que traduz bem um país em chamas depois do golpe, a um passo da aniquilação total de tudo que foi construído em pouco mais de uma década. O Brasil quase sendo destruído, um ex-presidente sendo perseguido implacavelmente pelos inimigos do Brasil porque eles sabem que as chances de retorno são enormes (e com ele o papo é outro), e a preocupação maior de algumas pessoas é que usar a palavra "cadela" numa frase soa machista.
Diante de algo que definitivamente não é sério, ficamos aqui pensando em responder a isto, até que tivemos acesso a esse texto escrito por Rodrigo Perez Oliveira, que praticamente traduziu nossa ojeriza à tamanha falta de bom senso do elemento em questão. Porque há outras questões embutidas, como certas declarações que estão sendo feitas por diversas pessoas de forma totalmente infeliz ou equivocada e que não nos parecem ter sentido ou significado na atual conjuntura. Gente que deveria ter um senso crítico mais apurado, que já deu contribuições interessantes ao debate, mas que agora parecem fazer o jogo do inimigo, perdendo tempo com bobagens similares ao "machismo de Bertolt Brecht". Pontualidades que apenas abastecem os malditos inimigos do Brasil de argumentos e que ajudam a cristalizar na mente de milhões de brasileiros sem nenhuma noção dos fatos as noções mais absurdas sobre assuntos que têm de ser levados a sério (como a própria questão do machismo). Condenando inclusive todo um movimento, toda uma luta diária, o que é injusto demais com as causas, já que a péssima colocação de certas pessoas não pode ser justificativa pra se invalidar tais lutas e tais causas.
Sendo assim, deixamos para leitores e leitoras as considerações acerca do assunto. E mais uma vez agradecemos ao companheiro Rodrigo pela gentileza em nos deixar publicar suas impressões para que possamos debatê-las, seguindo o espírito de nosso blog.
Nossa conclusão se resumirá na famosa frase atribuída a Tom Jobim: "O Brasil não é pra principiantes". Ainda bem que Jobim (se é que foi ele) usou a palavra "principiante", que é um substantivo comum-de-dois-gêneros, assim não tem como acusar o falecido de algum provável "equívoco identitário"...

Obs.: Avisamos que esse texto tem uma pegada totalmente diferente da nossa (e ainda estamos refletindo muito sobre isto, por ser válida), e que por isso mesmo julgamos ser importante para podermos entender melhor o que de fato estamos combatendo e, principalmente, se estamos do lado certo da trincheira mesmo. Não dá pra pagar pra ver e depois lamentar o segundo colocado nas intenções de voto (o que chamam de "mito") tomar posse em 2019 por causa dum palanque deserto de objetividade.


ÁLCOOL NA FERIDA
Rodrigo Perez Oliveira*


Juro pra vocês, meus amigos, do fundo do coração: respeito mais os coxinhas que apóiam Sérgio Moro do que os esquerdetes que são feitos do mesmo barro que Laura Carvalho, Luciana Genro e Gregório Duvivier. É que em pelo menos num aspecto os coxinhas são melhores que os esquerdetes: na capacidade de entender a realidade, de ler o mundo. Eles entenderam a história recente do Brasil melhor que os esquerdetes. Explico.
Os coxinhas têm motivos de sobra pra odiarem Lula, pra quererem vê-lo morto. Eles entenderam perfeitamente o que aconteceu no Brasil nos últimos anos.
Os coxinhas olham para Lula e enxergam o que ele realmente é: um nordestino lenhado, fudido, sem ensino superior, que ousou ser Presidente na República fundada pelos bacharéis.
Os coxinhas sabem, perfeitamente, que foi no governo de Lula que o Bolsa-Família foi instituído. Sabem que o Bolsa-Família inflacionou o preço da diarista. Óbvio, né? Se em casa, de boas, sem fazer nada, a companheira já tem o mínimo pra comer, ela só vai sair pra limpar a privada da madame por um preço justo. Tá mais que certa!
Os coxinhas não são burros, ah não são mesmo! Eles entenderam que com Lula o Brasil mudou. Vocês lembram daquele filme da Jéssica [Que horas ela volta?] ? Então, lá pelas tantas, a madame paulista olha pra filha da empregada e diz: "Nossa, você quer fazer arquitetura? Esse país mudou mesmo." Os coxinhas sabem, meus amigos, sabem que o Brasil mudou, e mudou muito.
Os coxinhas sabem que foi no governo de Lula que o sistema de cotas se consolidou nas universidades brasileiras. Eles sabem como está mais difícil conseguir aquela vaguinha na medicina ou no direito. Eles viram o filho do porteiro entrando pra universidade.
Sim, meus amigos, é muito difícil reconhecer, mas os coxinhas sabem perfeitamente o que estão fazendo.
Já os esquerdetes, ah os esquerdetes, esses são os piores!
Qual é a envergadura política de um Gregório Duvivier para dizer que Lula não transformou a realidade brasileira? Ele precisou de cotas pra estudar na PUC? O apê do papai dele lá na Gávea foi financiado no Minha Casa Minha Vida?
E Luciana Genro? De onde vem a autoridade política dela? O que ela representa? Já governou o quê?
E Laura Carvalho, vem de onde? Quais cargos já ocupou? Ela já foi Ministra da Fazenda? Já comandou o Banco Central? Já sentou numa mesa pra negociar com a FENABAN? "Googlem" aí, amigos, e vejam o que é a FENABAN. Vejam o tamanho do problema que os governos petistas enfrentaram.
Diferente dos coxinhas, meus amigos, os esquerdetes não sabem de nada, de nadica. Eles nunca fizeram nada. Não têm compromisso com legados. Não entenderam porra nenhuma.
Os esquerdetes são incapazes de perceberem a realidade tal como ela é. Acham que a realidade se curva ao discurso, se curva ao desejo.
Quando Duvivier diz que "a esquerda precisa superar Lula", ele sugere que algum outro cândido progressista irá conseguir tocar no eleitor que mora lá no interior do Piauí. Ele acha que as esquerdas devem produzir outra liderança, provavelmente um culturete leite com pêra, nascido e criado no sul do Brasil. Quem sabe até mesmo um carioca, um freqüentador lá da Praça São Salvador. Um poeta independente, vestindo camisa com estampa de florzinha. Desses tipos "fluidz", desconstruídos, que um dia gostam de ppks e no outro namoram pelo bumbum. Isso, um cara desse tipo, que escreve "queridxs", ou "amig@s".
Já pensaram, meus amigos, o material da campanha circulando lá no sertão do Ceará? "Brasileirxs, vamos construir juntos um país melhor!". O sertanejo semialfabetizado olhando pra esse X encravado no meio da palavra e pensando "Que porra é essa? Deu defeito no computador?".
Já pensaram no sertanejo com esse santinho na mão? Um santinho cheio dos empoderamentos, dos "gaslighting" e dos "mansplaining"?
Já pensaram um culturete como candidado à Presidência da República propondo discussão sobre nome social? Prometendo construção de banheiro pra travesti?
Já pensaram essas pautas postas como agenda eleitoral em um país que periga voltar para o mapa da fome?
Quem sabe Duvivier esteja pensando nele mesmo, no seu próprio nome... Aliás... já pensaram Duvivier como candidato? Falando pras massas? Luciano Huck está fazendo escola!
Os esquerdetes não se enxergam, não entenderam como as coisas funcionam por aqui.
Lula levou vinte anos pra conquistar a confiança da nossa gente: nosso povo não votou em Lula em 1989, não votou em 1994, não votou em 1998 e não votou em 2002. Nosso povo somente começou a votar em Lula em 2006, quando viu a promessa virar realidade, a utopia virar pão e farinha na mesa. Somente em 2006 aconteceu uma clara divisão classista na contagem final dos votos: os mais fudidos com Lula, o resto com o outro.
O povo não gosta de utopia, não tem tempo pra utopia. O povo quer presença, quer materialidade, quer comida na mesa, quer casa pra morar. O povo quer consumir. E tá certíssimo!
Os playboys de esquerda não conseguem entender o óbvio: o povo brasileiro está convencido de que somente Lula é capaz de liderar um governo que permita uma "vidinha digna" para os mais pobres.
Esse é o termo: vidinha digna. Nosso povo só quer uma vidinha digna.
O nosso povo não gosta da esquerda, não gosta de revolução, não gosta nem de greve. Nosso povo gosta do Lula.
Por isso, Lula ainda vive.
Por isso, depois do maior massacre midiático da história desse país, Lula pode entrar no tribunal, falar grosso com o juiz e sair andando, abraçado pelo povo.
Lula cagou na cabeça de Sérgio Moro. Os coxinhas sabem disso. Os esquerdetes não sabem.
Conclusão: os coxinhas são mais inteligentes que os esquerdetes.


* Rodrigo Perez Oliveira é doutor em história social pela UFRJ e professor adjunto de teoria da história da UFBA

quinta-feira, 27 de abril de 2017

o dia da maldade 3

E segue o massacre

26 de abril de 2017.
Mais um dia tenebroso em nosso país.
296 SIM. 177 NÃO.
Curiosamente, alguns golpistas desertaram. Foram 367 SIM naquela ocasião e dessa vez 71 (número bastante emblemático) não quiseram votar com os colegas cretinos. Medo das urnas em 2018?
A CLT já tinha sido rasgada no mês passado quando a terceirização total foi aprovada. Ontem finalmente foi incinerada.
A maior parte do proletariado brasileiro ainda não entendeu o que acontecerá daqui pra frente, porém sentirá na pele quando sair de férias (3x sem juros no cartão, olha só que beleza!). Aliás... Férias pra quê? O patrão precisa de sua ajuda, não pense em férias, trabalhe!
E assim como escrevemos no primeiro dia da maldade (10 de outubro de 2016), de nada adiantou explicar.
De nada adiantou ser contra.
De nada adiantou dizer em português bem claro e chulo "vamos nos f...!!!"
E agora, o que dizer?
Assim como naquela ocasião, passamos a palavra ao nosso querido afroameríndio Alberto Patrício. Fala figura!

Onde estão as panelas?
Onde estão as camisas da selenike?
Onde estão os cartazes "Cunha é meu amigo"?
Onde estão os discursos de "intervenção militar constitucional"?
Onde estão as selvies com a Polícia Militar?
Onde estão os festivais de relinchos tão bem publicados pelos Jornalistas Livres?
Onde está essa galera que era tão indignada "contra tudo que está aí?"
PARABÉNS, "MILITANTES". SEUS PRIVILÉGIOS ESTÃO GARANTIDOS, E AGORA NUM PRAZO ETERNO.
Lutemos para não voltar às senzalas, mas para nos aquilombarmos mais ainda!!!

E o que mais nos tem feito gargalhar é vir os mesmos come-fenos de outrora dizendo que aderirão a greve do dia 28!!! COMO ASSIM??? Greve não é coisa de vagabundo??? Vai pedir um vale pro patrãozinho querido pra comprar o feno do almoço e a alfafa do jantar, ora!
"Primeiro a gente tira a Dilma; Depois a gente..." NUNCA esqueceremos o mantra acima, nem quem o relinchou.
Obrigado, parabéns e uma salva de palmas a todos os envolvidos!
Nós avisamos.
Sem mais.



quinta-feira, 6 de abril de 2017

malacanotas musicais 1

alguns discos que ouvimos recentemente

Falaê moçada!
Hoje dissertaremos sobre música, algo que não fazemos já faz um tempinho, pra fugirmos um pouco das loucuras que estão nos impondo de modo inclemente. Nada como uma musiquinha para espantar esse mal-estar generalizado que acomete nossa nação...
Neste caso, falaremos de 3 discos excelentes para conhecermos o que a música brasileira tem produzido de bom e de novo (ainda que um dos álbuns venha a debutar ano que vem) e que devemos ao menos escutar com atenção. Exporemos aqui na ordem em que escutamos cada obra.


Eletrorústicobarracocêntrico - Ludi Um

Escutamos esse disco, gravado em 2003, assim que reencontramos esse ex-aluno do Cefet-RJ, contemporâneo de 1992.
Um disco de tiro curto (apenas 5 faixas), porém de alta voltagem, que mescla inúmeras influências do que há de melhor na música preta, entre instrumentos com muito peso, scratchs e beats eletrônicos, e letras com teor social e uma pitada de meio-ambiente bastante precisa.
Os nomes que o cantor e compositor utiliza pra nomear suas músicas já demonstram essa faceta ecológica ("Como a garça coberta de óleo" e "Nada machuca os peixes") e o conteúdo das letras evidencia seu total engajamento, sem perder a sensibilidade. Destacamos também a faixa "Dá mole que um dia explode", de letra adaptada dum poema de Bráulio Tavares, de bastante relevância pela mensagem da letra e também pelas palmas que estimulam a dança na pista.
Aliás, é possível balançar o esqueleto quando se ouve cada faixa assim como também pode-se ouvir o álbum autoral de Ludi todo numa mesa com um copo de suco de acerola com laranja ou uma tulipa com um chope bem tirado...
Portanto essa é nossa primeira dica. Segue o link:



21 de março de 1973  - Homobono

Lançamento desse ano, o álbum de estúdio desse elemento de muito swing e pouco isguéri-guéri é o primeiro assinado somente como Homobono, ele que já tinha se lançado na música como Minha Pequena Soundsystem, um trabalho-solo paralelo às suas atividades como guitarrista, letrista e vocalista da banda carioca Los Djangos.
21 de março de 1973 é um disco adequado para pistas e casas, quartinhos, ruas e rodovias. A sonoridade pop é mesclada a elementos da música moderna (como sintetizadores e bateria eletrônica) e fervilhado de guitarras e percussões adicionais, numa produção assinada pelo próprio Homobono.
Letras muito bem humoradas para falar de religiosidade ("Jesus Cristo é ótimo"), crítica social ("Nervo asiático"), romantismo ("Sobrevivente") e ainda sobra tempo pra falar de quem quer viver (ou vive) de música ("Muito loka essa banda"). Sem contar os diversos bilhetes espalhados pelas 6 canções que compõem o álbum, 100% autoral (entre elas, duas parcerias).
Para esse disco, vale o mesmo comentário final que fizemos sobre Eletrorústicobarracocêntrico: ouça-o bebendo ou dançando, dá no mesmo...
Segue o link da segunda dica:



Penteado  - Guga_Bruno

Esse já é um álbum que nós não definiríamos num primeiro momento como "de pista", como os de Ludi e Homobono. Ou pelo menos não aparentemente, porque se a pessoa usar a imaginação pode até deslizar na areia, ainda que sem ouvir uma banda sem fúria fazendo a cozinha pra esse disco...
Pois é esse o clima desse que é o terceiro trabalho solo de nosso amigo Bruno (ou Guga ou Guga_Bruno). Um disco que convida o ouvinte a viajar pelas 10 faixas autorais, a começar pela excelente "Zoo", que abre o disco, e "Seu Pepeu", logo a seguir.
Penteado é um disco de violão. Aliás, a sonoridade extraída desse instrumento nos remete aos Di Giorgios que foram utilizados pelos músicos nos anos 1960 e 1970, ou seja, um resgate realmente importante dum timbre esquecido.
Não foi preciso mais que simplesmente a voz e o violão para que o guitarrista da saudosa banda Chinelo de Couro Cru e os Cruzados de Canhota concebesse um trabalho muito bem feito. Além das faixas que destacamos, pedimos atenção à canção "Lagarto", gravada originalmente com a banda supracitada, e à afinação em "Canção despedida", caso você precise azeitar seu pinho...
Recomendação idêntica às demais: encha o copo ou a tulipa e curta dançando ou batucando...
Por fim, o link da terceira dica:



Esperamos que leitoras e leitores gostem de nossas dicas. Comentem à vontade e compartilhem se for o caso.
Em tempos de midiatização massacrante e jabaculê igualmente intenso correndo soltos por aí, tendo como conseqüência direta a imposição do que devemos ouvir (e gostar), as três opções são provas de que é possível fugir daquilo que se impõe como "de qualidade", muitas vezes nos enganando e nos fazendo crer que não há mais nada que preste em termos de música brasileira. Importante lembrar que raríssimas são as exceções que conseguem furar o bloqueio e aparecer na TV, nas rádios e nas redes sociais. E em geral, tais exceções costumam ser efêmeras, pois a mídia odeia quem vende sem se vender...
Querendo ou não, com seus trabalhos Ludi, Homobono e Guga, cada um dentro de sua seara, nos mostram que há alternativas. É só procurá-las.


segunda-feira, 27 de março de 2017

povo enlatado, povo feliz


"vamos cuidar das pessoas"

Falaê galera!
Novamente estamos aqui com nossas palavras ácidas e bem-humoradas, desta vez para dissertar sobre um problema que tem causado muito ruído, porém que segue silenciado por não ter o tratamento adequado pra causar impacto.
Aconteceu nos primeiros minutos de ontem, domingo 26 de março.
Tínhamos acabado de chegar de mais um evento popular na CEB Santa Veridiana (por sinal, qualquer hora dessas, falaremos sobre esse espaço vivo de cultura, onde costumava haver muita coisa bacana). Descemos do BRT Transoeste e nos encaminhamos para o ponto da Transcarioca a fim de retornar ao lar.
Na chegada ao local, a primeira constatação foi a de sempre: quatro filas muito grandes, todos à espera do ônibus articulado que seguiria para a Ilha do Fundão no modo parador. Indagamos a um popular sobre a demora do coletivo apenas para nos certificarmos de que o cenário não mudara desde a última vez em que estivemos no terminal Alvorada em janeiro: já tinha pelo menos meia-hora que nada acontecia naquele local.
Passou-se mais meia hora aproximadamente e a fila duplicou de tamanho. Até que o articulado comum chegou (comum, porque tem um modelo estendido desse articulado, cerca de 10 metros a mais). Assim que as quatro portas se abriram, fomos praticamente empurrados pra dentro do veículo que em poucos segundos lotou completamente. Com muito custo, as portas foram fechadas, porém já sabíamos que não seria mais assim porque sendo parador e tendo demorado tanto para passar, imaginamos como as pessoas conseguiriam entrar nas demais estações e depois como conseguiriam sair.
O fato é que ao passar da estação Rio 2, acabamos cochilando, cansados do evento em Santa Cruz. Acordamos já passando da estação do Ipase, faltando pouco pra saltarmos. Passaram-se uns vinte minutos talvez no cochilo, mas foi o suficiente para observarmos que seria impossível passar pelas pessoas sem empurrá-las. Uma mulher ao nosso lado também saltaria, mas antes de minha na Capitão Menezes. Interessante que ela não esboçou reação de saltar, talvez subestimando as pessoas em pé, não sabemos.
Quando o ônibus chegou à Praça Seca, a mulher mal se levantou direito. E acabou não se mexendo. Alguns passageiros ficaram irados. Ainda teve quem gritasse "vai descer!", mas de forma inútil, pois os motoristas do BRT não costumam dar maior atenção, ainda mais em caso de superlotação. Eles nem ouvem, em verdade...
Tivemos de avisar à mulher que se ela não forçasse passagem pararia no Fundão. Ela ficou com aquela cara de quem toma remédio "com gosto ruim" e nem se mexeu. Resultado: nem nós nem ela, pois ela não saltou na Capitão Menezes e nós não saltamos na Pinto Teles. Mais uma mulher e outro homem esbravejaram muito por não terem saltado também e a mulher continuou como quem não acredita naquilo. Tememos que irrompesse uma confusão no ônibus, que circulava com as portas todas abertas já que não havia como fechá-las.
Quando o ônibus chegou ao Campinho, o que já sabíamos aconteceu. Já tinha gente reclamando horrores do BRT. E aí não teve jeito: aos trambolhões, mulheres e homens foram passando como tratores, no desespero de saltar antes de o ônibus sair - sem ter como fechar as portas, poderia sair a qualquer momento. Foi nesse lance que conseguimos sair. Fomos os últimos e quase caindo no vão entre a plataforma e o coletivo, pois sentimos que ele estava arrancando enquanto pisávamos na estação. Aquela mulher que citamos foi praticamente expulsa aos empurrões e aos palavrões sem calão algum, sendo jogada quase de encontro à antepara e quase foi linchada e pisada pelos mais exaltados que não saltaram na Capitão Menezes e na Pinto Teles. Felizmente, a turma foi saindo da estação sem espancar a pobre senhora, porém as reclamações não tiveram fim.
Passado todo esse sufoco, passou um articulado indo pra Alvorada logo que o outro saiu pro Fundão e o tomamos pra nossa estação. Eram duas da matina quando finalmente chegamos onde queríamos.
Tudo isto que relatamos não soará como novidade para quem está habituado a tomar os ônibus do BRT aos fins-de-semana, em especial na transição de sábado para domingo. Sempre é assim: quando o relógio marca meia-noite, vários articulados param e o intervalo entre carros da Transcarioca varia de meia-hora a 45 minutos. Já os da Transoeste aparentemente têm um intervalo menor.
A quantidade de pessoas que fica esperando é tamanha que lotaria dois articulados. Tanto que observamos que muita gente não conseguiu entrar naquele ônibus e teria de esperar mais uma hora pra poder seguir viagem.
Observamos também que havia muita criança de colo no ônibus em que estávamos. E que no meio daquele tumulto no Campinho uma mulher desceu com uma menina. Ela só saiu ilesa porque ela já estava perto da porta. Ou seja, embarcou naquelas condições, sem ter como chegar a uma cadeira e foi certamente amparada por quem estava na porta. Olha o perigo que ela passou com a petiz! E se a confusão gerada pela mulher que comentamos fosse naquela porta onde a jovem mãe estava?...
Dessa vez não aconteceu, contudo quando estivemos certa ocasião numa situação dessa na Alvorada, teve tumulto e foram uns 10 ou 15 no Controle do BRT a fim de reclamar da falta de ônibus. Na gare, havia dezenas desses articulados parados, sem nenhum sinal de que seriam utilizados. E quando o ônibus finalmente chegou, o tumulto foi exatamente o mesmo.


E o que dizer de tudo isto?
Bom, pra começo de conversa... Por que não temos mais as opções de transporte quando o relógio marca 23 horas? Sim prezados e prezadas, algumas linhas de ônibus começam a minguar antes da meia-noite. Que tipo de estudo foi feito pela Prefeitura ou pela RioÔnibus, onde se constatou que não há necessidade de ônibus quando meia-noite se aproxima? Ou ninguém usa ônibus à noite ou de madrugada?
E o que é pior: nos bairros cortados pelo BRT, 97% das linhas que circulavam foram cortadas e as vans e kombis impedidas de trafegar. Portanto, para quem mora nas regiões abrangidas pelo corredor, só há o BRT praticamente. Porém depois da meia-noite, há um corte drástico na quantidade de veículos – e já está comprovado que muitas pessoas utilizam os coletivos, tanto quanto durante o dia, talvez até mais, porque as pessoas querem aproveitar o fim-de-semana para seu merecido lazer seja na casa de parentes, em parques públicos ou em bairros onde tem discotecas, boates e outros.
É quase certo que o cartel de Jacobarata alegará que é por questões de segurança, a violência urbana, etc. Pode até ser, porém atentamos para o fato de que distúrbios como esses não têm mais hora pra começar. Vandalismos nas estações do BRT, por exemplo, se tiverem de acontecer, acontecem a qualquer hora. Assim como assaltos dentro de ônibus (uma triste e dura realidade que tem aumentado muito na capital e Grande Rio). Já foi o tempo em que havia "horários perigosos", isso já é fava contada há tempos.
Observem como o famoso direito de ir e vir é vilipendiado. Ônibus só serve para atender a necessidade de trabalhadores que laboram no horário comercial (nem pra estudar serve mais, o cartão dos estudantes o tempo todo tem problemas...). Ou seja, vida noturna e trabalhos à noite e pela madrugada foram proibidos na cidade e ninguém sabia...
O que na verdade acontece é que há uma criminosa conivência entre o poder público e o cartel dos ônibus no Rio. Segundo dados da própria Fetranspor, são cerca de 5 milhões de passagens vendidas por dia, gerando uma receita de 19 milhões de reais. Multiplicando no mês e no ano, as cifras batem a casa dos bilhões.
Além disso, a profissão de cobrador está praticamente extinta na cidade, uma linha ou outra ainda mantém esse profissional. Isso significa menos trabalhadores para manter, menos custos, encargos, impostos, e mais dinheiro no bolso dos mandatários dos ônibus.
Todavia nada disto se tornou algo relevante para a mobilidade urbana como um todo, nem para a própria prestação do serviço. Ao contrário, houve pioras:

1.    Não há mais agilidade na condução dos coletivos, já que o motorista faz função dupla, tendo de dar troco e dirigir. E tal fato fez com que o número de motoristas afastados mais que duplicasse nos últimos 5 anos, seja por conta de acidentes no trânsito, seja por falta de condições emocionais/psicológicas pelo stress gerado diariamente.

2.    Com essas mudanças por conta não apenas dos corredores do BRT como também com a implantação do VLT na zona central do Rio, diversas linhas ou foram abolidas ou muito modificadas, por causa do impacto no trânsito naquela região, causando confusão por um bom tempo até que as coisas se ajeitassem satisfatoriamente – o que ainda não aconteceu.

3.    E no caso especial dos BRTs, ainda tem a questão das tais "linhas alimentadoras", que em determinados locais mais matam de fome por conta duma espera interminável, mesmo durante o dia.

Fora tudo isto, ainda há outros aspectos como a falta de climatização de TODA A FROTA de ônibus da cidade, uma promessa de campanha do ex-alcaide que já foi cobrada mesmo pelo Ministério Público. Esse ano 100% do efetivo deveria estar refrigerado, porém não é o que observamos e não nos parece que Jacobarata e seus blue caps estão querendo se mexer quanto a isso. Lembrando que o valor de R$ 3,80 foi definido com o objetivo de se proceder à aquisição de ônibus climatizados, porém ainda há linhas que NUNCA tiveram carros com esse equipamento.
Portanto, o que relatamos na Terminal Alvorada é também reflexo da própria maneira como a concessão pública de linhas de ônibus é explorada (não se esqueçam: linha de ônibus é concessão pública como as autonomias de táxi). O cartel RioÔnibus é ainda pior que os de Cali e Medellín, na Colômbia, porque trata-se de algo legalizado, porém pessimamente gerido e sem qualquer tipo de fiscalização mais rigorosa.
O curioso é que soubemos à boca pequena que as empresas de ônibus estão recrutando motoristas, pois esse profissional estaria "em falta no mercado". Ora, e quanto aos muitos demitidos ao fim da função de cobrador (de quem era exigida a habilitação D), não poderiam ser reaproveitados?
E no caso do BRT, se o problema é a falta de motoristas com CNH E, por que não se capacita os que já dirigem ônibus a fim de que eles tenham carta pra condução dos articulados? Ah, é verdade, chama-se investimento, e investimento demanda dinheiro, e dinheiro é tudo que esses malditos querem usar, pra não faltar pros iates, mansões e heranças deste império...
Pois esses são os fatos, meus amigos. O problema da mobilidade urbana foi exposto aqui neste artigo e sabemos que tipo de solução deve ser aplicada. Porém se o Poder Público não pressionar o cartel, nada será resolvido. Mesmo o Ministério Público tem de ser acionado o tempo todo por nós, usuários desse modal que é um dos mais caros do país em termos de funcionalidade e custo-benefício. Se houve avanços como o bilhete único, os problemas estruturais seguem a todo vapor. De nada adianta facilitar pra população com esses bilhetes e o modal permanecer defasado.
Por fim, ou muda-se esse cenário horroroso ou seremos condenados a essa sensação de estar como sardinha enlatada. Não é nada sensato esperar um óbito pra que se tome uma providência. E no caso que contamos, nada garante que a próxima vez não acabará de forma trágica. Pois nós QUASE caímos do ônibus e a mulher QUASE foi espancada. E se a próxima jovem mãe vir seu bebê cair entre o ônibus e a plataforma e ninguém conseguir segurar o motorista, faz como? Culpar a RioÔnibus? Espancar o alcaide atual? Pois é, mas nada disso trará a integridade física dos passageiros de volta. Afinal, em se tratando de seres humanos, perda alguma é passageira...


EPÍLOGO

Algumas pessoas na estação do Campinho comentaram sobre a falta de educação de alguns que ficaram nas portas travando-as, com o ônibus em movimento. Disseram que "apesar de a prefeitura ter culpa, vandalismo também não resolve, povo sem educação é isso aí".
É evidente que não somos fãs de quebra-quebra de estações ou de ônibus. Em verdade, é gol contra. Por outro lado, ponderamos o seguinte: será que essa mesma pessoa que critica nunca imaginou que essas atitudes, neste caso em especial que descrevemos, estão bem mais para conseqüência que pra causa? Pra ser mais claro: diante desse quadro caótico no BRT Transcarioca que se estende há ANOS na Alvorada, como a RioÔnibus responde a fim de mitigar esse grave problema?
Ora, é muito mais fácil pr'aquela pessoa que fez aquele comentário dizer que o povo é que não tem educação. "Porta aberta à força no BRT" é algo que não deixa dúvidas sobre o que pensar. Só que esse tipo de reação, a nosso juízo, só expõe a derme, e não a víscera. Trouxe-nos a impressão de que a porta escancarada é muito mais grave que não ter ônibus, quando na verdade uma coisa se torna conseqüência direta da outra. Por que o cidadão não praguejou contra Jacobarata e afins? Perguntamos a ele e não tivemos resposta, exceto um silêncio indiferente.
Nossa reflexão final é assim: em vez de somente apedrejarmos quem quebra ônibus e estações, não seria hora de metralhar aqueles que se utilizam de uma concessão pública para faturar em cima, pessoas que são diretamente responsáveis por essa situação de trevas que enfrentamos todos os dias na cidade, não importa se no BRT ou em coletivos comuns? Pois a jovem mãe e sua filha que vimos na estação não têm que passar um sufoco como aquele. Nem ela nem ninguém!
Convidamos leitoras e leitores para pensar nisto.