terça-feira, 13 de setembro de 2016

malacanotas 3

Salve salve gente boa!
Aqui mais uma vez fazemos um apanhado de fatos que nos chamaram atenção e que merecem ser mencionados e debatidos. Fiquem à vontade para opinar, concordando ou discordando. Aos fatos!

É preciso saber musicar

Durante a cerimônia de abertura das Paralimpíadas (emocionante, por sinal), houve um momento em que a versão asséptica música "É preciso saber viver" foi executada pela voz poderosa e singular de Seu Jorge. Gostaríamos de comentar sobre essa música com mais profundidade.
Infelizmente o ex-vocalista do grupo Farofa Carioca cantou (embora com muita competência como sempre) uma versão com o mesmo arranjo sem sangue e sem alma que foi feito primeiramente pelos Titãs já em fase de mortalidade com tez acústica e que caiu nas graças do povo "inexplicavelmente". Entre aspas mesmo porque é evidente que a mídia jabazeira fez bem sua parte e a exposição que o grupo paulistano teve em rádios e TVs com essa versão foi enorme.
Particularmente nós nunca gostamos dessa versão feita pelos roqueiros oitentistas, embora gostemos bastante dessa música. Canção composta nos anos sessenta por Roberto e Erasmo Carlos, "É preciso saber viver" foi primeiramente gravada pela dupla jovem-guardista Os Vips em 1968, com uma pegada de rock psicodélico, seguindo a tendência do rock britânico da época. Os irmãos Marco e Ronaldo Antonucci interpretaram com maestria a canção de tom pacifista, um tom que era tendência na época, rescaldo do flower power que tomou conta do mundo e foi bastante ampliada graças à gravação de "All you need is love" ao vivo em formato de clipe pelos Beatles em 1967.
Dois anos depois da gravação dos Vips, o trio-símbolo da Jovem Guarda (Roberto, Erasmo e Wanderléa) usou esse mesmo arranjo, executado pelos irmãos blue caps Renato e Paulo César Barros, para cantar o rock ao fim do filme O diamante cor-de-rosa. Graças às cenas em que eles aparecem interpretando o rock, todos vestidos de forma bem "paz e amor", a letra pacifista pra sempre ficou associada a psicodelismo e hiponguices.
As versões do duo Antonucci e do trio bárbaro em comum também têm em comum um trecho que foi excluído de gravações posteriores:

"Mas se você caminhar comigo
Seja qual for o caminho eu sigo
Não importa aonde eu for
Eu tenho amor, eu tenho amor..."

Em 1974, Roberto gravou uma versão para seu elepê, que consideramos excelente porque tem uma pegada de rock setentista com os motivos hippies que são marca da época. Esta já não continha o trecho que mencionamos acima, mas também ficou bem popular à época.
Foi em 1998, que os Titãs resolveram regravar a canção, usando esse arranjo sem vida e se tornando um sucesso total em todo o país. Gravada no disco Volume dois, essa canção deixou de ser um hino hippie para se tornar uma música de tratamento psicológico, de terapia em grupo, tal o tom desanimado que Paulo Miklos pôs na voz ao interpretá-la (e olha que ele tem muito punch). O Rei, já em fase de negação dos hits e arranjos mais rascantes, também aderiu a esse lance. Se bobear, ele em pessoa deve ter convencido os já mortais Titãs a gravar desse jeito, quando estes foram-lhe pedir autorização para gravá-la. Afinal de contas, como seria reproduzir um espírito presente nas gravações nervosas de "Bichos escrotos" ou "Porrada" no RC de fim-de-ano?...
É uma pena que não se dê a "É preciso saber viver" uma roupagem condizente com sua motivação roqueira/hiponga/pacifista. Defendemos explicitamente as versões mais antigas, condizentes com o clima da canção e em total acordo com a época ida. Triste entender que essa versão asséptica e pasteurizada feita pelos mortais Titãs é a que dá o tom. Uma versão que matou totalmente o espírito transado da parada, de tão livro de autoajuda que ficou. Que horror... Brrrrr!!!


Quero ver você escutar...

Era tarde.
Não lembro o mês, mas o ano era 1991.
A TV estava sintonizada na Bandeirantes, mas não estávamos assistindo nada em especial. Em verdade, estávamos fazendo algum trabalho de escola e minha mãe assistindo Sílvia Poppovic (alguém lembra, será que ainda é viva?!?).
O fato é que resolvemos dar uma descansada na sala e eis que uma propaganda da gravadora RGE (extinta, tendo seu catálogo todo comprado pela SomLivre) nos chamou muito a atenção. Eram dois lançamentos de samba "para fazer sucesso nos churrascos e quadras de todo o país". Um dos lançamentos realmente não me recordamos (pode ser um dia o youtube nos ajude nisto, eles ressuscitam cada parada...); mas o outro, esse sim foi marcante e realmente foi o embrião de uma descoberta que fizemos anos depois em termos de músicas que ouvimos, pesquisamos e cultuamos e que mais tarde seria nossa escola de violão pra sempre.
O que nós lembramos da primeira aposta da RGE é que era um grupo de samba de raiz; a segunda, era uma sonoridade de samba diferente do que conhecíamos. Uma levada incomum de samba, uma batucada rítmica diferente, outra marcação de surdo, sem aquelas viradas de repique muito características de um bom pagode – aliás, de pagode como entendíamos pouco aquela música lembrava. Sem contar com o som do violão, bem diferente do que já tínhamos ouvido antes. "Quero ver você chorar / Sem carinho e sem amor..." foi o trecho que ouvimos daquele samba, cheio do que depois descobriríamos que era um teclado com um sax (ainda não tínhamos muita noção de instrumentos musicais). Era a Banda Raça Negra, segundo a propaganda.
Atraídos pelo som, resolvemos juntar uns trocos da mesada. Havia uma loja de discos na Oldegard Sapucaia, rua da escola em que estudamos, e tendo juntado o suficiente, conseguimos arrematar aquele elepê. A capa preta trazia os seis integrantes (Fininho, Fernando, Luiz Carlos, Gabu, Fena e Paulinho) vestidos como pagodeiros, executando seus instrumentos (tumbadora, tantã, violão, pandeiro, surdo e baixo, respectivamente). Na contracapa, eles se repetiam e mais dois elementos fechavam o ciclo, o tecladista (Júlio Vicente) e o saxofonista (e também flautista Irupê). Músicas autorais, tendo Luiz Carlos como principal compositor, sendo ele o compositor da música que nos chamara a atenção.
Chegando em casa, pusemos o disco na vitrola e, como sempre fazemos quando tem novidade, ficamos sentado diante da radiola ouvindo o som atentamente. Em geral, ouvimos duas vezes: a primeira para saber se está perfeito, sem nenhum arranhado (a gente podia trocar, dependendo da avaria, lembram?); e a segunda com mais atenção às músicas em si. Hoje em dia, a primeira audição já não nos importa muito... Mas podemos dizer que naquele dia ouvimos umas três vezes, repetindo as músicas mais significativas, como a que abre o disco ("Quero ver você chorar"), "Somente você", "Chega", "Carência" e "Sem motivo". E a partir daquela audição, passamos a acompanhar todos os trabalhos dessa banda paulistana, tendo do primeiro ao sétimo disco.
Depois soubemos que em Sampa eles já tinham um tempo de carreira e já eram muito conhecidos, porém podemos dizer que curtimos o som do Raça Negra "antes de todo mundo" aqui no Rio. Ninguém jamais tinha ouvido falar na banda: perguntava a colegas e nada; meus parentes também nada; nem a propaganda na Band, ninguém viu... Era como se somente nós conhecêssemos a rapaziada, hehehehe!
E o curioso é que essa banda foi quem nos abriu caminhos para que hoje sejamos adeptos incontestes do samba-rock, tendo feito o caminho inverso da maioria. Pois foi através do balanço da Banda Raça Negra que descobrimos o swing de Bebeto e depois o violão de Jorge Ben. Costumamos dizer que, sem se dar conta, o Brasil foi reapresentado o samba-rock graças ao sexteto. Anos depois, outras bandas também surgiram no cenário, propagando o balanço característico desse tipo de som.
E de forma sui generis, descobrimos uma vertente da música brasileira popular, uma forma contestadíssima de se fazer samba. Afinal, nosso primeiro contato com o samba-rock (um ritmo em si controverso dentro das rodas de bamba) foi a banda que a maioria esmagadora de nossos amigos detesta e que os "puristas" da MPB se recusam a chamar de música ou mesmo de samba (não exigimos dos incautos saber distinguir samba ou pagode do samba-rock, hehehe!). Não importa, pois é assim que a gente encontra terreno fértil para ofender pessoas, ainda mais quando nos pedem pra pôr um som... HAHAHAHAHAHAHAHAHA!!!!
Bom, essa é a resenha musical do mês. 25 anos do primeiro trabalho registrado de um dos maiores fenômenos de música popular no Brasil, um disco que fizemos questão de ter e que não permitimos que ninguém fale um ai! Nesse ponto somos extremamente sectários: fale mal do som do violão e dos teclados da banda que a gente põe uma seqüência de pagodes paulistas anos 90 à moda Rádio Tropical...
Divirtam-se ouvindo o disco número 1 da Banda Raça Negra, com uma gelada no copo e uns petiscos no prato... e babem de ódio (e recalque) da voz marcante de Luiz Carlos!!! HAHAHAHAHAHAHAHAHAAAAA!!!


E a culpa é do...

Estávamos assistindo o Jornal da Band mais cedo e soubemos que Marcos Valério (o do mensalão) foi depor diante de Sergio Moro. Papo vai, papo vem, falaram de um elemento que estava associado ao finado prefeito Celso Daniel. Pelo que entendemos, o tal elemento estaria chantageando numa só tacada Lula, José Dirceu e Gilberto Carvalho (um dos homens de confiança no governo Lula).
Ficamos matutando aqui em casa como a direita conseguiu se apropriar do cadáver de Celso Daniel. É como se o falecido prefeito de Santo André fosse do PSDB ou do DEM ou do PMDB. Incrível como falam da morte desse homem com um denodo, uma reverência. Que surto de distinção a CD é esse que acometeu esses cretinos??? Que preocupação toda é essa em vir esse crime esclarecido?!?
E por que isto nos incomoda? Não, não estamos defendendo com histeria a inocência do PT – ao menos não estamos sendo rasos em tal defesa, se estivéssemos aqui debatendo sobre a tal culpa... Apenas é muito curioso esse quase pedido veemente de justiça pelo que aconteceu a Celso Daniel. Estão mais indignados que os próprios petistas. Só falta a gentalha golpista puxar uma passeata em prol do falecido, que certamente tinha pensamentos que passavam longe de qualquer neoliberalismo que a corja defenda...
Os motivos parecem óbvios. Eles alegam que o PT é uma máfia e pra isso usam o assassinato de Santo André como prova. Usam os problemas do próprio partido para pulverizá-lo. Que os incautos não se iludam: não se trata da vontade de se ver esclarecido esse crime, que ainda está envolto em muito mistério. É somente e tão somente mais uma arma para ser usada pelos canalhas de plantão. E é lógico que o PIG é de fundamental importância nesta campanha, reforçando ainda mais essas noções com suas matérias extremamente tendenciosas.
Querem um exemplo de que nem tudo é o que parece? Imaginem se Aécio Neves amanhecesse morto amanhã. Assassinado brutalmente ou simplesmente de modo que deixasse a nação toda estupefacta. Será que alguém acusaria (ou ao menos desconfiaria deJosé Serra, seu adversário declarado dentro das rodas da alta plumagem tucana? Um sujeito que nem mesmo pisou no palanque do colega à época do último pleito presidencial e que só o fez depois porque pegou mal a rodo? Claro que não!!! Repetiriam o mantra ad nauseam "A culpa é do PT!!!" - e ai de quem insinuasse de um assassinato encomendado internamente, exatamente como fazem com o Partido dos Trabalhadores em relação a Celso Daniel. Algum bobo alegre ou caneta-de-aluguel (ou ambos em um só...) se prontificaria em escrever um textão falando sobre "como as hostes petralhas odiavam o neto de Tancredo". E o PIG em pouquíssimo tempo teria "acesso aos arquivos e escutas telefônicas que evidenciam uma possível conspiração de oposicionistas ao senador"...
Portanto, fiquemos muito atentos e desconfiados quando o assunto for Celso Daniel. Porque se essa gentalha está tão empenhada em deixar claro que quem puxou o gatilho foi o PT, é porque aí tem!!!


E pra fechar...

Façamos as contas.
367 disseram SIM ao golpe em cima de Dilma Rousseff. 137 disseram NÃO.
450 disseram SIM à cassação de Eduardo Cunha. E apenas 10 disseram NÃO.
É evidente que quem disse NÃO ao golpe votou a favor da cassação. Ou será que até nisso teve contrassenso? Não acreditamos. Portanto, os que queriam a cabeça de Cunha tiveram uns bônus de pelo menos 313 deputados favoráveis ao golpe.
(Essa constatação nos fez ficar contidos em relação a comemorar a cassação, inclusive. É menos um calhorda no poder, mas...)
Então vejamos:
Não foi justamente por causa da decisão do então presidente da Câmara que o golpe foi pra frente? Os 367 que disseram SIM, com efeito, têm uma dívida de gratidão com Cunha, pois não teriam tido o prazer de votar naquela sessão onde falaram em nome de tudo para tirar Dilma do Planalto, com uma mídia que certamente 70% dos que disseram SIM jamais teriam em outra ocasião. Ficaram nacionalmente conhecidos por representarem tudo que falaram nos discursos antes do SIM. Pois é... E no entanto somente DEZ se puseram como aliados declarados do deputado.
PERGUNTA: e os outros 357, por que não se apressaram pra tentar salvar o meliante da degola?
CONCLUSÃO: Eduardo Cunha foi TRAÍDO!!! Por que não estamos surpresos?
Cartas à redação.