sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

comércio brasil x venezuela: BNDES e desabastecimento




Agora, similar a análise feita para Cuba, postarei uma feita para a Venezuela.

Entre 2000 e 2002 (antes do PT):

·         Exportação para Venezuela: US$ 882 milhões / ano (média)
·         Importação de Venezuela: US$ 902 milhões / ano (média)
·         Saldo: US$ 20 milhões/ano (negativo)

Entre 2003 e 2014 (governo PT antes do processo de golpe):

·         Exportação para Venezuela: US$ 3,64 bilhões / ano (média)
·         Importação de Venezuela: US$ 686 milhões / ano (média)
·         Saldo: US$ 2,95 bilhões/ano

Antes do governo PT, a balança comercial entre Brasil e Venezuela estava relativamente equilibrada (pois o volume de exportação e importação eram semelhantes).
Durante o governo PT, o saldo médio de balança comercial entre Brasil e Venezuela subiu para o Brasil de forma muito desproporcional. Isso na prática representa uma entrada de fluxo de capitais para o Brasil da ordem de US$ 3 bilhões por ano (R$ 9 bilhões/ano).
O Brasil também financiou várias obras para o governo venezuelano usando o BNDES e algumas construtoras brasileiras como a Odebrecht, também estavam presentes na Venezuela.
A Venezuela não é um pais industrializados como o Brasil e depende da importação de muitos produtos para manter seu mercado consumidor. Até 2014 de certa forma o Brasil, durante o governo PT, forneceu produtos industrializados para a Venezuela e isso foi quebrado após o início de 2014 (segundo mandato de Dilma), que foi quando se iniciou o boicote ao governo e de certa forma, quando a Lava Jato começou a bloquear empréstimos do BNDES as construtoras.

O cenário pós-impeachment

Como o impeachment se deu no ano de 2016, precisaria ter os resultados consolidados de 2017 para avaliar melhor se houve impacto do impeachment nas relações comerciais Brasil-Venezuela. No caso específico da Venezuela, pode-se verificar o seguinte:

Em 2016, o resultado comercial fechou da seguinte forma:

·         Exportação para Venezuela: US$ 1,28 bilhões / ano
·         Importação de Venezuela: US$ 415 milhões / ano
·         Saldo: US$ 865 milhões/ano

Em 2015, ano anterior, os resultados comerciais foram:

·         Exportação para Venezuela: US$ 2,99 bilhões / ano
·         Importação de Venezuela: US$ 680 milhões / ano
·         Saldo: US$ 2,3 bilhões/ano

Em 2014, ano anterior, os resultados comerciais foram:

·         Exportação para Venezuela: US$ 4,63 bilhões / ano
·         Importação de Venezuela: US$ 1,17 bilhões / ano
·         Saldo: US$ 3,46 bilhões/ano

Comparando 2016 (ano do impeachment) com o ano de 2014, concluímos o seguinte:

·         Exportação para Venezuela caiu 72% (US$ 3,36 bilhões / ano)
·         Importação de Venezuela caiu 64% (US$ 759 milhões / ano)
·         Saldo caiu 75% (US$ 2,60 bilhões/ano)

A exportação de produtos para a Venezuela, de certa forma, geravam no Brasil algo em torno de 500 mil a 1 milhão de empregos por conta da exportação de produtos fabricados no Brasil.
O numero que tenho do BNDES é que a Venezuela recebeu empréstimos do BNDES da ordem de US$ 15 bilhões e que seriam pago ao longo dos próximos 20 anos. A mídia tradicional, quando anuncia isso, usa a palavra “pagou” obras na Venezuela  com dinheiro do BNDES em vez de falar que “emprestou com juros baixos”. Mas na prática, esses empréstimos foram negociados com juros baixos em troca da Venezuela comprar produtos e serviços do Brasil.
Essa compra fez a Balança comercial do Brasil no governo PT disparar para um saldo de US$ 3 bilhões por ano e gerou para o Brasil, nesse período (2003-2015), um superávit de capitais de US$ 38 bilhões (que seria quase o dobro do que foi emprestado pelo BNDES)
Durante o governo PT, o Brasil exportou para a Venezuela US$ 47,3 bilhões (R$ 140 bilhões). Se imaginarmos que 20% do valor exportado foi usado para pagar impostos (cuja carga tributária no Brasil é da ordem de 50%), estimaríamos que o governo arrecadou cerca de US$ 9 bilhões em impostos com exportação de produtos para a Venezuela e na prática, dos US$ 15 bilhões de empréstimos do BNDES para a Venezuela, já teriam voltado US$ 9,4 bilhões diretamente para o governo e dado o saldo positivo de balança comercial, indiretamente a Venezuela já teria pago o empréstimo multiplicado por 2.
Infelizmente, os acordos comerciais que envolvem as construtoras e o BNDES vai muito mais além do que valores emprestados e no caso específico da Venezuela, foi muito vantajoso para o Brasil.
A Venezuela hoje está com crise de abastecimento e o Brasil está em processo de desindustrialização. O Brasil, se optasse por fornecer produtos para a Venezuela, poderia frear um pouco a desindustrialização e o desemprego e poderia ajudar a Venezuela a acabar com o desabastecimento local. No entanto por problemas políticos isso não é feito. Porém, caberia ao governo atual falar a população que está deixando de gerar cerca de 1 milhão de empregos ou mais porque não quer fazer acordos com a Venezuela.
Esse é o caso só da Venezuela, agora imagina isso ocorrendo para a América Latina (cerca de 20 países), África (em torno de 15 países) e Oriente Médio (5 países). Quanto a perda desses mercados representou para o Brasil em entrada de capitais e geração de empregos. Eu calculei algo da ordem de 3 a 4 milhões de empregos perdidos após o impeachment só por conta da perda dos mercados onde as construtoras atuavam junto com o BNDES.


quinta-feira, 25 de janeiro de 2018

comercio brasil x cuba: Porto Mariel e BNDES


Como trabalhei prestando serviços para Odebrecht fora do país, vi que ao longo dos tempos, nos mercados e lojas desses países a cada dia que passava, encontrava cada vez mais produtos fabricados no Brasil.
Quando estourou os problemas da Lava Jato e os empréstimos do BNDES para as construtoras foram paralisados, os produtos brasileiros começaram a perder espaço nos mercados desses países.
Estou eu, deduzindo por minha própria lógica, que os empréstimos do BNDES, a juros relativamente baixos, estariam ligados a algum tipo de acordo comercial entre o Brasil com os países tomadores do empréstimo.
Fui ao site do Ministério de Indústria e Comércio Exterior e eis que resolvi baixar todas as informações de importação/exportação do Brasil para os países onde as Construtoras Brasileiras estavam presentes. Os dados disponíveis eram de 2000 a 2016 (na época).
Os números do governo PT, e após a atuação do BNDES mostraram uma situação que poucas pessoas realmente conhecem. A exportação de produtos e serviços para os países onde o BNDES atuava foi multiplicada por 4 ou 5 vezes e a balança comercial brasileira com esses países teve um boom.
Resolvi pegar um caso específico do comercio Brasil x Cuba.

Entre 2000 e 2002 (antes do PT)

·         Exportação para Cuba: US$ 94 milhões / ano (média)
·         Importação de Cuba: US$ 15 milhões / ano (média)
·         Saldo: US$ 79 milhões/ano

Entre 2003 e 2014 (governo PT antes do processo de golpe)

Exportação para Cuba: US$ 384 milhões / ano (média)
Importação de Cuba: US$ 61 milhões / ano (média)
Saldo: US$ 323 milhões/ano

No ano de construção do Porto de Mariel, essa exportação alcançou valores acima dos US$ 500 milhões / ano.
O Brasil, através do BNDES, concedeu empréstimos de cerca de US$ 900 milhões para a construção do Porto. Esse empréstimo foi vantajoso para o Brasil.
Analisando os dados de balança comercial, ao longo do governo do PT (2003-2015), temos o seguinte:

·         Exportação para Cuba: US$ 5 bilhões
·         Importação de Cuba: US$ 795 milhões
·         Saldo: US$ 4,2 bilhões

Pela balança comercial Brasil-Cuba no período do governo do PT, o país teve uma entrada de capitais de Cuba da ordem de US$ 4 bilhões (ou R$ 12 bilhões) e emprestou US$ 900 milhões para Cuba fazer seu porto. Isso na prática, representa dizer que Cuba já pagou para o Brasil a Obra do porto multiplicada por 4 e o empréstimo foi muito vantajoso para o Brasil se levarmos em consideração que Cuba passou a adquirir muito mais produtos e serviços do Brasil e ajudando a gerar empregos no Brasil.
Os números que pesquisei mostraram que o Porto de Mariel gerou cerca de 20000 empregos no Brasil além de ter gerado muitos empregos em Cuba também.

Para Cuba, esses acordos comerciais foram vantajosos?

Eu particularmente entendo que sim pelo seguinte motivo. Cuba não tem um país autossuficiente e não possui fontes de energia e água suficiente para instalação de indústrias de grande porte, e necessariamente precisa importar produtos. O que Cuba importava do Brasil por acordos comerciais, provavelmente já importava de outros países (ou seja, o dinheiro saía do país de qualquer jeito) e não tinha contrapartida. O Brasil de certa forma ofereceu contrapartidas para isso que levaram vantagens aos cubanos sem que o país tivesse que ter prejuízo em algum aspecto relevante.

O cenário pós-impeachment

Como o impeachment se deu no ano de 2016, precisaria ter os resultados consolidados de 2017 para avaliar melhor se houve impacto do impeachment nas relações comerciais Brasil-Cuba.

Em 2016, o resultado comercial fechou da seguinte forma:

·         Exportação para Cuba: US$ 321 milhões / ano
·         Importação de Cuba: US$ 55 milhões / ano
·         Saldo: US$ 266 milhões/ano

Em 2015, ano anterior, os resultados comerciais foram:

·         Exportação para Cuba: US$ 513 milhões / ano
·         Importação de Cuba: US$ 51 milhões / ano
·         Saldo: US$ 462 milhões/ano

Comparando 2016 (ano do impeachment) com o ano de 2015, concluímos o seguinte:

·         Exportação para Cuba caiu 48% (US$ 513 milhões / ano)
·         Importação de Cuba subiu 7% (US$ 4 milhões / ano)
·         Saldo caiu 42% (US$ 462 milhões/ano)

No comercio com Cuba, houve perda de aprox. US$ 200 milhões/ano (R$ 600 milhões) e perda potencial de cerca de 20 mil empregos diretos+indiretos que estavam ligados a Odebrecht e as suas subcontratadas/prestadoras de serviços e fornecedores.
Eu fiz esse cálculo estimado para os países onde as construtoras brasileiras atuavam e cheguei em perdas da ordem de US$ 50 bilhões / ano em exportações para esses países.
Durante o processo do golpe, posto em prática em 2014, houve uma perseguição forte sobre os empréstimos do BNDES as construtoras e muita pressão da mídia sobre esse tema associando que o BNDES estaria praticamente “doando” dinheiro para esses países em vez de investir em obras dentro do Brasil e que isso estaria dando prejuízos ao Brasil.
Analisando esse caso de Cuba, podemos ver que para o Brasil o empréstimo concedido de US$ 1 bilhão geraram para o país US$ 4 bilhões e, se levarmos em consideração que, do valor total exportado de US$ 5 bilhões para Cuba, 20% tenha voltado em impostos, isso representaria US$ 1 bilhão que voltaram para o tesouro e conseqüentemente, o dinheiro emprestado pelo BNDES já voltou para o tesouro de forma direta.
O problema maior foi que, com a atuação da Lava Jato e a paralisação do BNDES, o Brasil teve uma perda estimada de US$ 50 bilhões por ano de entrada de capitais (R$ 150 bilhões) e isso foi um dos fatores que impactou nas receitas de 2016 e 2017 a ponto do país fechar 2017 com déficit de R$ 200 bilhões e não saber como fechar as contas.
O país teve queda de receita e precisaria, em contrapartida, reduzir as despesas. Eu imaginei que o governo Temer iria fazer isso e que ele tivesse uma carta na manga para compensar essas perdas de exportação na America Latina e África (algo conseguido por Lula), mas pelo visto não tinham, e também não tiveram coragem de reduzir o contingente e verbas para o Judiciário e para a Policia Federal e Ministério Público.
Dentro desse cenário, eu não vejo solução nem a curto e nem em longo prazo e nem sem Lula (porque todo esse superávit comercial com países da África e America Latina foi conseguido pelo Lula)

Irei postar mais dados de Comércio Exterior do Brasil com outros países da America Latina e da África, especialmente onde as construtoras brasileiras atuavam.