sábado, 24 de dezembro de 2016

resumo

já está chegando a hora de ir...

Fala moçada, beleza pura!
Hoje estamos aqui apenas de passagem. Exatamente como o ano de 2016 está passando e que está chegando ao fim finalmente. Que ano foi esse, quentíssimo!
Ficamos um bom tempo sem nos comunicarmos com os distintos por motivos de força maior. Queríamos ter tido tempo e cabeça para comentar sobre o resultado do espancamento de panelas e a aquisição de camisas da selenike, porém as redes sociais já fizeram isto por nós e os amigos se pronunciaram devidamente, tanto de próprio punho quanto espalhando bons textos de outros competentes ensaístas. Ainda assim, entendemos que algumas palavras se fazem necessárias para encerrarmos nossa jornada.
Sim, mesmo em momentos como esse, às vésperas da chamada Confraternização Universal, admoestar os cretinos e ironizar os incautos sempre será obrigação, hahahahahaha!!!
O blog malacanews termina 2016 com um saldo pra lá de positivo. Muitas discussões travadas aqui, sempre com muito conteúdo, onde todos nós aprendemos bastante, mais do que ousamos ensinar. E esse sempre foi o objetivo: fomentar discussões, seja elas pró nossas idéias ou contra, mas em alto nível com ótimo humor (sempre).
E nesses tempos difíceis, com o Brasil do jeito que está, ainda tivemos espaço para comentar as Olimpíadas e assuntos ligados à arte e cultura (música principalmente).
E sendo assim, gostaríamos de encerrar os trabalhos de 2016 (a menos, é claro, que algum comparsa queira fazer alguma colocação), agradecendo rica e abundantemente a todos aqueles que de uma forma ou de outra nos ajudaram a montar esse espaço transado e malacabado, seja divulgando nosso espaço para o mundo inteiro (hipérbole detected, hehehehe!), seja simplesmente acessando o link por acessar...; e também aos que participaram nos fóruns com comentários e mesmo dicas visando melhorias para o blog, pois é fundamental esse feedback da galera, sem o qual seria impossível saber se estamos no caminho certo. É fato que temos muitos projetos ainda para esse espaço e colocaremos todos em prática no seu devido tempo, contudo ficamos satisfeitos em saber que poderemos sempre contar com todos, seja opinando ou sendo parte desses projetos ativamente!
Esperamos que leitores e leitoras tenham uma celebração de 25 e 31 de dezembro de muita energia e vibrações positivas, paz, saúde, juízo, euros, Brahmas, ervas, chesteres, rabanadas, cidras, churras, etc., e que esses votos se estendam por todo o período não só de 2017, mas eternamente, para que possamos sempre seguir em frente!
E pra finalizar essa última edição nossa de 2016, uma mensagem escrita por nosso amigo Guilherme Vargues em 2009, que traduz com perfeição o que queremos para todos nós!
Abraços e beijos fraternos a todas e todos!!!


Desejo a todos nós:
Um ano especial, um ano com muita vida e mudança, com energia para enfrentar todas as dificuldades;
Uma existência melhor, com menos fumaça, ódio e tropa de choque, com menos preconceito, exploração e desigualdade;
Um mundo com mais paz e harmonia;
Uma vida onde ser bom, solidário e humano seja lugar comum;
O impossível só para que possamos melhorar todo dia;
E fazer dos votos de ano novo o movimento do futuro de nossas vidas!!!


VALEU GALERA!!!


terça-feira, 11 de outubro de 2016

o dia da maldade 1

Nunca foi tão fácil governar

10 de outubro de 2016.
Instituído no Brasil o dia nacional da maldade.
366 SIM. 111 NÃO.
111. Atentem para este número.
A PEC (proposta de escravidão contemporânea) 241 foi aprovada em primeiro turno na Câmara e a tendência é ser aprovada novamente para depois ser confirmada pelo Senado.
De nada adiantou explicar.
De nada adiantou ser contra.
De nada adiantou dizer em português bem claro e chulo "vamos nos f...!!!"
E agora, o que dizer?
Deixamos que meu caro afroameríndio Alberto Patrício faça as honras:

Onde estão as panelas?
Onde estão as camisas selenike?
Onde estão os cartazes "Cunha é meu amigo"?
Onde estão os discursos de "intervenção militar constitucional"?
Onde estão as selfies com a Polícia Militar?
Onde estão os festivais de relinchos tão bem publicados pelos Jornalistas Livres?
Onde está essa galera que era tão indignada "contra tudo que está aí?"
PARABÉNS, "MILITANTES". SEUS PRIVILÉGIOS ESTÃO GARANTIDOS NUM PRAZO DE, PELO MENOS, 20 ANOS.
Lutemos para não voltar às senzalas, mas para nos aquilombarmos mais ainda!!!


À espera de um milagre, isto é, a primeira panela a ser, pelo menos, pega para ser tocada.
Nós avisamos.
Sem mais.

terça-feira, 4 de outubro de 2016

punhos cerrados, peito adornado

Um simbólico e forte gesto, ao lado de outros dois também marcantes

Olimpíadas de 1968 no México.
Na foto do gesto heróico dos famosos negros estadunidenses John Carlos e Tommie Smith no pódio dos 200 metros rasos está também o "desconhecido" Peter Norman. Mas o que poucos souberam é que se tratava de um branco australiano que de forma incógnita aderiu a um dos mais marcantes protestos contra o preconceito racial e pagou um preço altíssimo por isso.
Naquele longínquo 1968, a disputa para saber quem era o homem mais rápido do mundo foi marcada por quebras de recordes e uma batalha quase particular entre Smith e Norman. Quando o australiano estabeleceu o recorde mundial (ainda hoje é o homem mais rápido da Austrália), o estadunidense não deixou por menos e baixou o tempo nas finais, que já era impressionante para a época (foram 19.83 contra 20.06 de Norman). Carlos foi o terceiro colocado.
No entanto, o que era pra ser apenas um feito esportivo para a história, se tornou um feito histórico para o esporte. A dupla norte-americana resolveu aproveitar o momento em que seriam vistos por milhares no estádio e milhões ao redor do mundo e evocou o gesto dos Panteras Negras, o partido que combatia implacavelmente o preconceito racial nos EUA. Punhos em ristes, luvas-símbolo do partido, eles silenciaram todo um estádio que já ensaiava cantar o hino estadunidense pelo triunfo de seus compatriotas.
Ao mesmo tempo, numa atitude que causou total surpresa para os dois atletas negros, o caucasiano Norman pediu para participar daquele ato à sua maneira. Ele conseguiu um dístico da campanha "Projeto Olímpico para os Direitos Humanos", do qual Carlos e Smith faziam parte, e o ostentou no pódio como uma medalha de ouro para todo o mundo vir.
A partir daquele instante, nada mais seria como antes, especialmente para Norman. Se para Carlos e Smith a perseguição era certa por serem negros (foram banidos da delegação estadunidense e ameaçados de morte em seu país), para o australiano não podia ter sido mais dramático. Preterido em seu próprio país, que a exemplo da África do Sul, praticava uma rígida política de apartheid, ele foi sistematicamente boicotado, a ponto de sua família ter sido perseguida e ele, além de não ter ido aos jogos de Munique em 1972, nem mesmo foi lembrado para fazer parte do comitê dos jogos olímpicos de Sydney, em sua terra-natal, em 2000.
Sabemos que as olimpíadas já acabaram. Porém julgamos pertinente essa nota, que redigimos durante os Jogos e guardamos para publicar hoje.

Carlos e Smith ainda estão vivos; Norman nos deixou há 10 anos completados ontem. Porém o legado desses três permanece vivo e atual. Por um mundo com mais coragem, humanidade e, acima de tudo, respeito ao próximo!


terça-feira, 13 de setembro de 2016

malacanotas 3

Salve salve gente boa!
Aqui mais uma vez fazemos um apanhado de fatos que nos chamaram atenção e que merecem ser mencionados e debatidos. Fiquem à vontade para opinar, concordando ou discordando. Aos fatos!

É preciso saber musicar

Durante a cerimônia de abertura das Paralimpíadas (emocionante, por sinal), houve um momento em que a versão asséptica música "É preciso saber viver" foi executada pela voz poderosa e singular de Seu Jorge. Gostaríamos de comentar sobre essa música com mais profundidade.
Infelizmente o ex-vocalista do grupo Farofa Carioca cantou (embora com muita competência como sempre) uma versão com o mesmo arranjo sem sangue e sem alma que foi feito primeiramente pelos Titãs já em fase de mortalidade com tez acústica e que caiu nas graças do povo "inexplicavelmente". Entre aspas mesmo porque é evidente que a mídia jabazeira fez bem sua parte e a exposição que o grupo paulistano teve em rádios e TVs com essa versão foi enorme.
Particularmente nós nunca gostamos dessa versão feita pelos roqueiros oitentistas, embora gostemos bastante dessa música. Canção composta nos anos sessenta por Roberto e Erasmo Carlos, "É preciso saber viver" foi primeiramente gravada pela dupla jovem-guardista Os Vips em 1968, com uma pegada de rock psicodélico, seguindo a tendência do rock britânico da época. Os irmãos Marco e Ronaldo Antonucci interpretaram com maestria a canção de tom pacifista, um tom que era tendência na época, rescaldo do flower power que tomou conta do mundo e foi bastante ampliada graças à gravação de "All you need is love" ao vivo em formato de clipe pelos Beatles em 1967.
Dois anos depois da gravação dos Vips, o trio-símbolo da Jovem Guarda (Roberto, Erasmo e Wanderléa) usou esse mesmo arranjo, executado pelos irmãos blue caps Renato e Paulo César Barros, para cantar o rock ao fim do filme O diamante cor-de-rosa. Graças às cenas em que eles aparecem interpretando o rock, todos vestidos de forma bem "paz e amor", a letra pacifista pra sempre ficou associada a psicodelismo e hiponguices.
As versões do duo Antonucci e do trio bárbaro em comum também têm em comum um trecho que foi excluído de gravações posteriores:

"Mas se você caminhar comigo
Seja qual for o caminho eu sigo
Não importa aonde eu for
Eu tenho amor, eu tenho amor..."

Em 1974, Roberto gravou uma versão para seu elepê, que consideramos excelente porque tem uma pegada de rock setentista com os motivos hippies que são marca da época. Esta já não continha o trecho que mencionamos acima, mas também ficou bem popular à época.
Foi em 1998, que os Titãs resolveram regravar a canção, usando esse arranjo sem vida e se tornando um sucesso total em todo o país. Gravada no disco Volume dois, essa canção deixou de ser um hino hippie para se tornar uma música de tratamento psicológico, de terapia em grupo, tal o tom desanimado que Paulo Miklos pôs na voz ao interpretá-la (e olha que ele tem muito punch). O Rei, já em fase de negação dos hits e arranjos mais rascantes, também aderiu a esse lance. Se bobear, ele em pessoa deve ter convencido os já mortais Titãs a gravar desse jeito, quando estes foram-lhe pedir autorização para gravá-la. Afinal de contas, como seria reproduzir um espírito presente nas gravações nervosas de "Bichos escrotos" ou "Porrada" no RC de fim-de-ano?...
É uma pena que não se dê a "É preciso saber viver" uma roupagem condizente com sua motivação roqueira/hiponga/pacifista. Defendemos explicitamente as versões mais antigas, condizentes com o clima da canção e em total acordo com a época ida. Triste entender que essa versão asséptica e pasteurizada feita pelos mortais Titãs é a que dá o tom. Uma versão que matou totalmente o espírito transado da parada, de tão livro de autoajuda que ficou. Que horror... Brrrrr!!!


Quero ver você escutar...

Era tarde.
Não lembro o mês, mas o ano era 1991.
A TV estava sintonizada na Bandeirantes, mas não estávamos assistindo nada em especial. Em verdade, estávamos fazendo algum trabalho de escola e minha mãe assistindo Sílvia Poppovic (alguém lembra, será que ainda é viva?!?).
O fato é que resolvemos dar uma descansada na sala e eis que uma propaganda da gravadora RGE (extinta, tendo seu catálogo todo comprado pela SomLivre) nos chamou muito a atenção. Eram dois lançamentos de samba "para fazer sucesso nos churrascos e quadras de todo o país". Um dos lançamentos realmente não me recordamos (pode ser um dia o youtube nos ajude nisto, eles ressuscitam cada parada...); mas o outro, esse sim foi marcante e realmente foi o embrião de uma descoberta que fizemos anos depois em termos de músicas que ouvimos, pesquisamos e cultuamos e que mais tarde seria nossa escola de violão pra sempre.
O que nós lembramos da primeira aposta da RGE é que era um grupo de samba de raiz; a segunda, era uma sonoridade de samba diferente do que conhecíamos. Uma levada incomum de samba, uma batucada rítmica diferente, outra marcação de surdo, sem aquelas viradas de repique muito características de um bom pagode – aliás, de pagode como entendíamos pouco aquela música lembrava. Sem contar com o som do violão, bem diferente do que já tínhamos ouvido antes. "Quero ver você chorar / Sem carinho e sem amor..." foi o trecho que ouvimos daquele samba, cheio do que depois descobriríamos que era um teclado com um sax (ainda não tínhamos muita noção de instrumentos musicais). Era a Banda Raça Negra, segundo a propaganda.
Atraídos pelo som, resolvemos juntar uns trocos da mesada. Havia uma loja de discos na Oldegard Sapucaia, rua da escola em que estudamos, e tendo juntado o suficiente, conseguimos arrematar aquele elepê. A capa preta trazia os seis integrantes (Fininho, Fernando, Luiz Carlos, Gabu, Fena e Paulinho) vestidos como pagodeiros, executando seus instrumentos (tumbadora, tantã, violão, pandeiro, surdo e baixo, respectivamente). Na contracapa, eles se repetiam e mais dois elementos fechavam o ciclo, o tecladista (Júlio Vicente) e o saxofonista (e também flautista Irupê). Músicas autorais, tendo Luiz Carlos como principal compositor, sendo ele o compositor da música que nos chamara a atenção.
Chegando em casa, pusemos o disco na vitrola e, como sempre fazemos quando tem novidade, ficamos sentado diante da radiola ouvindo o som atentamente. Em geral, ouvimos duas vezes: a primeira para saber se está perfeito, sem nenhum arranhado (a gente podia trocar, dependendo da avaria, lembram?); e a segunda com mais atenção às músicas em si. Hoje em dia, a primeira audição já não nos importa muito... Mas podemos dizer que naquele dia ouvimos umas três vezes, repetindo as músicas mais significativas, como a que abre o disco ("Quero ver você chorar"), "Somente você", "Chega", "Carência" e "Sem motivo". E a partir daquela audição, passamos a acompanhar todos os trabalhos dessa banda paulistana, tendo do primeiro ao sétimo disco.
Depois soubemos que em Sampa eles já tinham um tempo de carreira e já eram muito conhecidos, porém podemos dizer que curtimos o som do Raça Negra "antes de todo mundo" aqui no Rio. Ninguém jamais tinha ouvido falar na banda: perguntava a colegas e nada; meus parentes também nada; nem a propaganda na Band, ninguém viu... Era como se somente nós conhecêssemos a rapaziada, hehehehe!
E o curioso é que essa banda foi quem nos abriu caminhos para que hoje sejamos adeptos incontestes do samba-rock, tendo feito o caminho inverso da maioria. Pois foi através do balanço da Banda Raça Negra que descobrimos o swing de Bebeto e depois o violão de Jorge Ben. Costumamos dizer que, sem se dar conta, o Brasil foi reapresentado o samba-rock graças ao sexteto. Anos depois, outras bandas também surgiram no cenário, propagando o balanço característico desse tipo de som.
E de forma sui generis, descobrimos uma vertente da música brasileira popular, uma forma contestadíssima de se fazer samba. Afinal, nosso primeiro contato com o samba-rock (um ritmo em si controverso dentro das rodas de bamba) foi a banda que a maioria esmagadora de nossos amigos detesta e que os "puristas" da MPB se recusam a chamar de música ou mesmo de samba (não exigimos dos incautos saber distinguir samba ou pagode do samba-rock, hehehe!). Não importa, pois é assim que a gente encontra terreno fértil para ofender pessoas, ainda mais quando nos pedem pra pôr um som... HAHAHAHAHAHAHAHAHA!!!!
Bom, essa é a resenha musical do mês. 25 anos do primeiro trabalho registrado de um dos maiores fenômenos de música popular no Brasil, um disco que fizemos questão de ter e que não permitimos que ninguém fale um ai! Nesse ponto somos extremamente sectários: fale mal do som do violão e dos teclados da banda que a gente põe uma seqüência de pagodes paulistas anos 90 à moda Rádio Tropical...
Divirtam-se ouvindo o disco número 1 da Banda Raça Negra, com uma gelada no copo e uns petiscos no prato... e babem de ódio (e recalque) da voz marcante de Luiz Carlos!!! HAHAHAHAHAHAHAHAHAAAAA!!!


E a culpa é do...

Estávamos assistindo o Jornal da Band mais cedo e soubemos que Marcos Valério (o do mensalão) foi depor diante de Sergio Moro. Papo vai, papo vem, falaram de um elemento que estava associado ao finado prefeito Celso Daniel. Pelo que entendemos, o tal elemento estaria chantageando numa só tacada Lula, José Dirceu e Gilberto Carvalho (um dos homens de confiança no governo Lula).
Ficamos matutando aqui em casa como a direita conseguiu se apropriar do cadáver de Celso Daniel. É como se o falecido prefeito de Santo André fosse do PSDB ou do DEM ou do PMDB. Incrível como falam da morte desse homem com um denodo, uma reverência. Que surto de distinção a CD é esse que acometeu esses cretinos??? Que preocupação toda é essa em vir esse crime esclarecido?!?
E por que isto nos incomoda? Não, não estamos defendendo com histeria a inocência do PT – ao menos não estamos sendo rasos em tal defesa, se estivéssemos aqui debatendo sobre a tal culpa... Apenas é muito curioso esse quase pedido veemente de justiça pelo que aconteceu a Celso Daniel. Estão mais indignados que os próprios petistas. Só falta a gentalha golpista puxar uma passeata em prol do falecido, que certamente tinha pensamentos que passavam longe de qualquer neoliberalismo que a corja defenda...
Os motivos parecem óbvios. Eles alegam que o PT é uma máfia e pra isso usam o assassinato de Santo André como prova. Usam os problemas do próprio partido para pulverizá-lo. Que os incautos não se iludam: não se trata da vontade de se ver esclarecido esse crime, que ainda está envolto em muito mistério. É somente e tão somente mais uma arma para ser usada pelos canalhas de plantão. E é lógico que o PIG é de fundamental importância nesta campanha, reforçando ainda mais essas noções com suas matérias extremamente tendenciosas.
Querem um exemplo de que nem tudo é o que parece? Imaginem se Aécio Neves amanhecesse morto amanhã. Assassinado brutalmente ou simplesmente de modo que deixasse a nação toda estupefacta. Será que alguém acusaria (ou ao menos desconfiaria deJosé Serra, seu adversário declarado dentro das rodas da alta plumagem tucana? Um sujeito que nem mesmo pisou no palanque do colega à época do último pleito presidencial e que só o fez depois porque pegou mal a rodo? Claro que não!!! Repetiriam o mantra ad nauseam "A culpa é do PT!!!" - e ai de quem insinuasse de um assassinato encomendado internamente, exatamente como fazem com o Partido dos Trabalhadores em relação a Celso Daniel. Algum bobo alegre ou caneta-de-aluguel (ou ambos em um só...) se prontificaria em escrever um textão falando sobre "como as hostes petralhas odiavam o neto de Tancredo". E o PIG em pouquíssimo tempo teria "acesso aos arquivos e escutas telefônicas que evidenciam uma possível conspiração de oposicionistas ao senador"...
Portanto, fiquemos muito atentos e desconfiados quando o assunto for Celso Daniel. Porque se essa gentalha está tão empenhada em deixar claro que quem puxou o gatilho foi o PT, é porque aí tem!!!


E pra fechar...

Façamos as contas.
367 disseram SIM ao golpe em cima de Dilma Rousseff. 137 disseram NÃO.
450 disseram SIM à cassação de Eduardo Cunha. E apenas 10 disseram NÃO.
É evidente que quem disse NÃO ao golpe votou a favor da cassação. Ou será que até nisso teve contrassenso? Não acreditamos. Portanto, os que queriam a cabeça de Cunha tiveram uns bônus de pelo menos 313 deputados favoráveis ao golpe.
(Essa constatação nos fez ficar contidos em relação a comemorar a cassação, inclusive. É menos um calhorda no poder, mas...)
Então vejamos:
Não foi justamente por causa da decisão do então presidente da Câmara que o golpe foi pra frente? Os 367 que disseram SIM, com efeito, têm uma dívida de gratidão com Cunha, pois não teriam tido o prazer de votar naquela sessão onde falaram em nome de tudo para tirar Dilma do Planalto, com uma mídia que certamente 70% dos que disseram SIM jamais teriam em outra ocasião. Ficaram nacionalmente conhecidos por representarem tudo que falaram nos discursos antes do SIM. Pois é... E no entanto somente DEZ se puseram como aliados declarados do deputado.
PERGUNTA: e os outros 357, por que não se apressaram pra tentar salvar o meliante da degola?
CONCLUSÃO: Eduardo Cunha foi TRAÍDO!!! Por que não estamos surpresos?
Cartas à redação.


terça-feira, 30 de agosto de 2016

do circo de horrores ao teatro do absurdo

DO CIRCO DOS HORRORES AO TEATRO DO ABSURDO
Jorge Alexandre Alves

Sobre essa farsa sob o nome de impeachment, que até mesmo jornais conservadores como o "The New York Times" e o "Le Monde" admitem ser, no mínimo, uma ruptura com a democracia.
Sobre o estupro de 54 milhões de votos que elegeram Dilma Rousseff em 2014.
Sobre o retrocesso que já se abate sobre a sociedade brasileira. Poderia enumerar um monte deles só na minha área de atuação profissional: A Educação. E nesse caso, o estado do Rio de Janeiro governado pelo PMDB é uma bela amostra grátis do que isso pode representar.
Sobre a patifaria explícita que vemos em cadeia nacional, em que bandidos se arvoram de juízes de uma pessoa honesta.
Sobre a falência do Poder Judiciário, do qual eu já desconfiava há muito. E que hoje eu não tenho a menor crença na sua idoneidade como Poder constituído da República. O império da lei no Brasil é uma construção subjetiva, manipulável conforme o interesse do poderoso de plantão.
Sobre o nefasto papel da grande mídia. Se porta como partido, relata os fatos sem nenhuma isenção e a partir dos seus interesses empresariais. Por isso que chamam a mídia de PIG, o Partido da Imprensa Golpista.
Sobre tudo isso já se argumentou, se debateu, se explicou. Até desenhar, foi desenhado. Mas nada disso entra na cabeça de uma parcela significativa da população. Não insisto mais que é um golpe. É um golpe, mas faz diferença agora que sabemos qual será o resultado final?
Seja porque se confunde oposição com deposição. Porque acham mais importante retirar quem odeia cegamente, de quem se discorda, a qualquer custo do que respeitar a democracia... Será que creem numa democracia de conveniência?
Seja porque não suportam mais direitos e mais consumo dos pobres.
Seja porque o mais importante e voltarmos aos tempos em que cada um sabia qual era o seu devido lugar...
Os argumentos e a razão jurídica nada mais têm a dizer. Aliás desde o início nunca tiveram nada a dizer.
Porque era um julgamento político, e não jurídico.
Pouco importa se existe culpa.
Pouco importa se pedalou ou não.
Pouco importa se é corrupta ou não.
O resultado já era sabido antes de começar a partida. Jogo de cartas marcadas. O importante era legitimar, justificar a prévia condenação.
Ela se enrolou em algumas respostas e sua oratória sempre foi truncada? Sim.
Os governos de Dilma foram péssimos? Sim.
Ela fez em parte muito daquilo que hoje quem se coloca contra essa farsa toda critica? Sim.
Sua base de apoio era composta por aqueles que lhe usurparam o poder? Também.
Mas ela foi eleita por 54 milhões de brasileiros. Não deveria bastar? Na democracia, governo ruins não deveriam ser mudados pela força do voto?
Porém, do Circo dos Horrores de 17 de abril, em que o país conheceu o picadeiro pelo qual desfilaram tristes palhaços que a sociedade mesma elegeu; até o Teatro do Absurdo (encenada por um bando que em nada deixa a dever a Cosa Nostra, mas que por aqui foram eleitos senadores da república) de hoje, o certo era que a condenação de Dilma e seu definitivo impedimento não era mais que a crônica de uma morte anunciada.
Só uma coisa poderia ter impedido isso: uma grande comoção nacional contra essa corja do PMDB, coisa que não aconteceu. E não aconteceu por três motivos:
Não aconteceu porque o PT, apesar dos avanços e das conquistas que melhoraram a vida de milhões de pessoas, promoveu uma economia que minimizou essas melhorias quando a crise chegou, em 2015. Além disso o PT fez vista grossa com a corrupção dos seus aliados. Como disse um amigo querido (e petista): "Isso tudo está acontecendo não somente pelos inúmeros acertos do PT, mas principalmente pelos erros que o PT cometeu".
Apesar da liberdade de investigação.
Apesar da maioria dos petistas serem pessoas honestas.
Não aconteceu porque a denúncia do golpe contagiou apenas a quem tem um mínimo de consciência crítica ou exerce algum tipo de militância. Falamos para nós mesmos. Não podemos deixar as ruas em tão grave momento. Conseguiremos reverter um quadro que a própria razão não conseguiu?
A classe média que foi as ruas com a elite nacional até botou mais gente, mas também não chegou a 5% da população no total. A divisão do país opôs muita gente. Mas essa gente toda não representa nem a décima parte dos brasileiros. Os que mais sofrerão com o desgoverno Temer não tomaram partido. Quando tomarão? Será que farão alguma opção?
Não aconteceu porque o campo progressista, os movimentos sociais, as pessoas com um mínimo de juízo crítico foram incapazes de convencer e contagiar o "povão". Este não pode estar na luta política cotidiana porque em parte não se vê representado nela. Por outro lado não se identificaram também naqueles que estiveram protestando us(urp)ando as cores da bandeira. Ninguém faz protesto junto com o patrão...
Mas também o povão não vai para ato, protesto ou caminhada em dia de semana porque precisa chegar rápido em casa, antes que a "chapa esquente". E porque no dia seguinte começa sua luta mais importante, a pelo pão de cada dia. E nas periferias e morros Brasil afora, a cidadania plena e a Justiça há muito não existem para eles...
Fazemos educação de base, estamos nas periferias, mas não percebemos que precisávamos de um rápido poder de mobilização, incompatível por hora, com o "trabalho de formiguinha" típico da educação popular. Aqui, perdemos a batalha.
Por fim, quando a separação de um casal de jornalistas mobiliza mais gente nas redes sociais que a mais séria, grave e tensa ruptura política dos últimos 30 anos, aí temos um sinal de que muita gente talvez só se dê conta do que vai acontecer quando for muito tarde para voltar atrás...
O que nos resta fazer? Como diria Drummond: "E agora, José?"


segunda-feira, 22 de agosto de 2016

100%... o quê mesmo?

... ou nada mais que um menino...

E ele conseguiu entrar pra história. Após a defesa de Weverton na última cobrança da seleção alemã, Neymar converteu o último pênalti brasileiro e um tabu finalmente chegou ao fim. Pela primeira vez em toda a sua história, o futebol brasileiro finalmente conquistou o título que lhe faltava, após bater na trave diversas vezes com esquadras compostas por jogadores memoráveis, entre elas alguns que conseguiram Copas do Mundo. Agora temos uma medalha de ouro em nosso invejável currículo futebolístico.
Foi uma conquista que se fazia necessária por muitos motivos. Entre eles, o incômodo 7 a 1 em terras brazucas, que ainda não foi assimilado. E que não sabemos ao certo se mesmo depois dessa medalha ainda será. O fato é que toda a enxurrada de críticas feitas ao grupo comandado por Rogério Micale (principalmente depois do inacreditável empate com o Iraque) surtiu efeito. As inevitáveis comparações das performances com a seleção feminina foram também determinantes, não temos dúvidas. Principalmente por causa do meme viralizado duma camisa da selenike onde o menino teria riscado o nome do 10 masculino e escrito o da 10 feminina (Marta), deixando claro quem era digna de menção.
Enfim, uma conquista prenhe de significados.
Porém, como se não bastassem os aspectos esportivos intrínsecos, eis que mais uma vez Neymar se envolve numa nova polêmica. E nem estamos falando da faixa "100% Jesus" que ele pôs após o triunfo, que estão tentando transformar num espetáculo que está muito além de qualquer tipo de regulamento proibitivo em relações a manifestações extraesportivas como as de cunho religioso ou ideológico. Desta vez, ele se dirigiu a alguma pessoa que estava na platéia e desfilou impropérios porque teria sido achincalhado no momento em que se preparava para cobrar a falta, pondo a bola na gaveta, segundo informações colhidas em diversos sites. A reação do futebolista dividiu opiniões: de um lado, pessoas que defenderam que ele deveria "ter coberto a mulher ou o homem de sopapos"; de outro, gente que enxergou "mais um estrelismo exagerado de quem não aceita críticas".
Sob a luz de pontos, vamos aos fatos!
Quando surgiu em 2010 com um futebol envolvente e digno de um craque, Neymar, então um garoto de 17 anos, era mais um caso de um garoto que surgia na Vila Belmiro com sinais de que um novo Pelé estava surgindo. Ao lado dele, Paulo Henrique Ganso, outra promissora joia. Estória similar à que foi contada quando Robinho e Diego apareceram com idade adolescente. "Os meninos da Vila".

E o engraçado é que as duplas têm uma trajetória muito parecida, pois assim como Diego (que se machucou na final do Brasileiro de 2002, possibilitando a aparição de Robinho neste mesmo jogo), PH Ganso teve uma contusão gravíssima no auge e Neymar seguiu protagonizando. E os dois 10 eram apontados como as promessas de craque, inclusive de serem o 10 que há anos o Brasil perseguia para a seleção. Infelizmente não deu, embora eles ainda tenham sido convocados. (Talvez a diferença seja que Diego se recuperou mais rápido, foi pro Exterior e conseguiu jogar bem e em alto nível, ao contrário de Ganso, que não conseguiu a exuberância inicial e patinou em oscilações no Santos e no São Paulo.)

Mas o fato é que, como o ocaso de PH Ganso, os holofotes caíram em cima de Neymar. Tomaram logo conta do "menino". As atuações dele continuaram sendo de muito bom nível, porém como sempre acontece quando se elege uma celebridade para se chamar de sua, uma hiperexposição aconteceu em torno de sua imagem e isso começou a extrapolar o aspecto esportivo.  E as primeiras "polêmicas" em torno de seu comportamento começaram. Renê Simões foi o primeiro a alertar os técnicos brasileiros nesse sentido: "Estão criando um monstro!". Outros analistas esportivos haviam também comentado que toda essa mídia em cima desse menino seria a sua maldição. Isso porque, para além de suas características técnicas, se tratava de um jovem ainda em fase de crescimento como jogador e, principalmente, como ser humano.
O que todos sempre deixam claro nas análises é que Neymar tem todo o perfil dum atacante extraclasse: técnica apurada, habilidade inconteste e poder de conclusão. Potencial ídolo, com tudo para ser aquilo que foram Romário e Ronaldo (apenas para ficar nestes exemplos) em termos de Brasil e mundo. Ainda está longe deles, porém com totais condições de chegar lá. Sem nenhum exagero de nossa parte, julgamos ser possível que alguém possa se consagrar tendo mais idade, em verdade é como geralmente acontece. Basta lembrar exemplos de jogadores que são freqüentemente lembrados, mas que sua excelência foi melhor percebida depois de atingida a maturidade (pra ficar num exemplo que pouca gente comenta, Evair foi esse caso).
Porém e infelizmente, não houve esse cuidado no trato da jóia santista, hoje no Barcelona, enquanto ainda estava por aqui. Ao contrário, a mídia (em especial seu mais poderoso braço, a globbels), se apropriou de seu corpo e sua alma e agora faz o que quer. E graças a essa falta de preparo com um garoto que se descobre o centro das atenções e começa a ganhar grana e fama, ele mesmo também acabou se deixando levar por isso, aceitando a condição de mero produto mercadológico, para além dos trocados ganhos com propagandas e merchandising.
Não é de se estranhar a quantidade de programas daquela emissora em que ele já se apresentou, até em novelas o cara atuou. "Ah, mas Zico e outros apareciam na TV e ninguém criticava!", lembrarão os defensores do cidadão, esquecendo-se, entretanto, que eles eram jogadores de futebol que apareciam na TV e não celebridades midiáticas que jogavam muita bola. Essa é a diferença. Entendemos que o conceito de mídia e celebridade mudou muito nesses últimos anos, porém não cremos que o suficiente para que não se possa separar o astro em campo do famoso na tela...
E ao aceitar o papel de mero produto, Neymar se tornou Neymarketing. O que aumentou consideravelmente o número de pessoas ganhando muito à custa da imagem dele, e não só em termos financeiros diretamente. Está além até mesmo de sua trajetória no próprio Barcelona. As mulheres com quem já teve caso, os cortes de cabelo, seus fones de ouvido, seu gosto musical, suas propagandas, tudo isso passou a ser mais relevante que suas jogadas. E quando isso acontece, a menos que o elemento tenha muita bola, o começo do fim duma carreira é certo, haja vista a efemeridade desse tipo de condição. Ainda bem que o pai, com tudo que se possa questionar dele, tomou conta da carreira do filho. Querendo ou não, na mão de empresários (um câncer real na realidade de nosso futebol), ele talvez já tivesse sucumbido bem antes.
E nós francamente acreditamos muito que o camisa dez da selenike não se resume a algo tão menor quanto esse papel. Ele é o tipo de jogador em falta no futebol e ultimamente percebe-se certa tenência técnica em seu modo de jogar - certamente o Barça deu-lhe isto através de seus companheiros de equipe e é certo que Tite também terá fundamental papel nisto. Alem do quê, as conquistas em solo europeu, tendo sido protagonista na reta final da Champions League 2014/15, também renderam elogios similares aos que recebeu ainda no Brasil, tendo ganhado títulos no Santos. Tudo isso somado e temos um jogador com um currículo invejável em termos de conquistas, isso aos 24 anos.
Alguns pachecos acreditam que o ex-santista é quem deveria ensinar alguma coisa, porém sempre retrucamos que deve ser uma via de mão dupla: o mais habilidoso abrindo caminho para outros que tenham aptidão e os outros que tenham "disciplina tática" e sobretudo experiência, sinalizando a melhor forma de se chegar ao gol. Qual o problema de ensinar e aprender? Até Pelé, que nasceu pro futebol, ao menos deve ter aprendido com alguém a bater um lateral...
Então é isso. Pensamos ser possível "salvar" Neymar dessa sina terrível de ser Neymarketing. Se alguém conseguir convencê-lo de que ele não precisa de mídia e sim de gols já será um bom começo. Todavia, mais complicado que isto, será afastar dele as influências nefastas que ficam circundando-o todos os dias e a toda hora, inflando seu ego, bajulando seu espírito e subtraindo sua grana. Até porque é preciso que se entenda: ele é apenas um, não salvará a lavoura sozinho, e nem pra sempre. É um milagre (e que bom!) que um jogador como ele ainda não tenha tido uma contusão muito grave, nesses tempos de futebol brucutu, onde a força está sobrepujando a ginga, num claro sinal de "europeização técnica", pra além da tática.
Outra coisa: pôr tudo na conta e nas costas dele não é a solução, embora seu comportamento nos induza a realmente fazer isto. Pois por mais que se possa ter boa vontade em querer vê-lo brilhar, se ele próprio não quiser se livrar desse estereótipo de "menino mimado e idiotado que pode tudo porque é craque", será difícil. Sim, esse excesso de mimo em cima também é frequentemente esquecido na análise. É justamente por conta dessa bajulação intermitente que seu destempero soa explicitamente infantil. Sua reação raivosa mencionada no início de nosso artigo foi mais uma mostra de que outros mais expertos teriam sido mais espertos. Neymar deveria ter ficado quieto ante as ofensas? Nem tanto, tem horas que é impossível ser calmo... Mas é fato que faltou malandragem para lidar com a situação. Ele acabou vítima de sua própria imaturidade. Resultado: a globbels, que já o tomou pra si através de seu lacaio esportivo (Galvão Bueno, o mesmo que escrachou a selenike com virulência depois do empate com o Iraque), vai constrangê-lo com algum programa chorumesco e ele será "obrigado" a pedir desculpas... Ora prezados, pensem bem, Romário já caiu nesse ridículo? E Renato Gaúcho? Pois é.
Pra fechar. Não vemos a princípio problema na faixa "100% Jesus" que ele usa (ou ostenta). O problema é quando a humildade e a sabedoria que o galileu deixou como legado de sua trajetória neste planeta passam longe...
Abraços fraternos e excelente semana a todos!


A VITÓRIA DE PIRRO NO COB

No dia seguinte ao encerramento dos Jogos Olímpicos, as manchetes e reportagens da grande mídia saúdam a nossa cerimônia de encerramento e enaltecem a boa repercussão internacional da festa. Timidamente alguns veículos de imprensa sinalizam que o "Time Brasil" (nome oficial da delegação brasileira nos jogos) não atingiu as pretensões do Comitê Olímpico do Brasil – COB. Ao final das olimpíadas, ficamos com 19 medalhas, duas a mais que os Jogos de Londres – 2012. A maioria dos órgãos de mídia superestima esse dado, dando ênfase exagerada ao fato deste ser o nosso melhor resultado na história olímpica.
Além disso, o COB desejava colocar o Time Brasil entre as dez melhores colocações no total de medalhas obtidas e no ranking por medalhas de ouro conquistadas. Tanto em um como no outro, nosso resultado foi o 13º lugar. Não muito longe dos resultados obtidos em cada olimpíada desde Atlanta – 1996, quando ultrapassamos pela primeira vez a marca das dez medalhas em uma só edição do evento. Sobre o desempenho do Brasil nos jogos, cabe pensar os resultados em função do investimento feito em esporte durante cada ciclo olímpico, e compararmos este ciclo olímpico com o anterior e, se possível, com os demais. Isso se tomarmos como acertada a decisão de se investir a maior parte dos recursos destinados ao desporto apenas no chamado alto rendimento.
Aqui encontramos a primeira dificuldade, o de acessar com exatidão os recursos investidos pelo Estado Brasileiro e pelo COB e repassados às confederações de cada modalidade. Pesquisando na internet, tive uma enorme decepção porque não se consegue localizar nenhum valor de gastos com esporte nacional para as olimpíadas de Atlanta -1996, Sidney – 2000, e Atenas - 2004. A partir de Pequim, os dados variam muito. De toda forma, descobri que entre Atlanta e os jogos do Rio, o volume de recursos arrecadados pelo COB aumentou VINTE vezes, e o governo federal (seja através das forças armadas, de verbas do Ministério do Esporte ou das empresas estatais) colocou 200 vezes mais recursos do que os aplicados para a mesma olimpíada de Atlanta. Se essas parcas informações estiverem corretas, nosso resultado em termos de medalha foi pífio. Em Atlanta conquistamos 15 medalhas. Aqui no Rio foram 19 medalhas. Um aumento de 26,6% apenas em um intervalo de 20 anos. No mesmo período os britânicos também saíram das 15 medalhas para 67. Eles obtiveram um aumento de quase 450% em medalhas conquistadas, no mesmo período.
Se continuarmos a comparação com a terra da Rainha, fica explícito o resultado medíocre do Brasil. Aqui, esses vinte anos olímpicos foram carregados de idas e vindas, oscilando entre 10 (Atenas) e 19 (Rio de Janeiro). Os britânicos tiveram crescimento espetacular, sempre ascendente, e se tornaram o segundo maior ganhador de medalhas nos jogos que se encerraram ontem. Se compararmos valores investidos em esporte, a mediocridade do COB em relação aos resultados é mais evidente ainda. E aqui não estão contabilizados os gastos com as obras das arenas esportivas. Segundo a Folha de São Paulo, o Brasil gastou R$ 3,7 bilhões neste ciclo olímpico. Um custo de R$ 193 milhões por medalha. Os britânicos dedicaram R$ 1,5 bilhão, abaixo da metade dos R$ 3,7 bilhões do Estado brasileiro. Ganharam 67 medalhas, onde cada uma delas custou R$ 22,4 milhões.
No ciclo olímpico anterior, para Londres – 2012, o Brasil alocou R$ 2 bilhões para o esporte e levou 17 medalhas, com um custo de R$ 117 milhões por medalha. Sediando a olimpíada, o país aumentou em apenas duas medalhas seu desempenho. De Helsinque - 1952 até hoje, foi o pior resultado de um país sede em termos de medalhas quando compararmos o desempenho deste mesmo país nos jogos imediatamente anteriores.
Cabe dizer que não podemos cair na armadilha perigosa de culpabilizar atletas, treinadores ou seleções olímpicas. Resultados em esporte de alto rendimento não dependem apenas dos esforços pessoais daqueles que disputam as provas nas mais diferentes modalidades. O sucesso depende fundamentalmente de uma política esportiva e de opções corretas na gestão do esporte e dos recursos a ele alocados. E nem podemos, sob o risco de cairmos em um simplismo sectário que pouco colabora para o debate, achar também que a culpa é dos torcedores e da população em geral por festejar cada resultado conquistado por nossos atletas.
É grave que tenhamos aumentado os recursos em esporte em 85% entre Londres e o Rio e aumentamos nossa presença no pódio em apenas 13,4%. Mais grave se considerarmos que hoje, diferente de 20 anos atrás, não faltam recursos e mesmo assim gastamos muito mais que o dobro quando comparamos com verdadeiras potências olímpicas como o Reino Unido, Canadá e Austrália. Em Tóquio - 2020, o desempenho japonês deixará mais evidente que aqui no Brasil fizemos uma gestão muito temerária desses recursos. Para completar, é gravíssimo que todos esses recursos tenham sido investidos basicamente em esporte de alto rendimento ao invés de se investir na prática desportiva como política social, como política pública para juventude, e como prática de formação cidadã a partir do desporto escolar.
Seria possível ou mais eficiente ou ainda melhor para a sociedade brasileira fazer diferente? Se achamos que sim, é preciso concluir que foi equivocada a opção feita a partir 1996 e sobretudo nos dois últimos ciclos olímpicos pelo COB. Para melhor entendermos isso, será necessário verificar as causas e os responsáveis diretos por essas opções infelizes.
Sobre os responsáveis do ponto de vista esportivo, precisamos começar por aqueles que controlam o COB há mais de duas décadas. Seu presidente, Carlos Arthur Nuzman, não se cansa de enaltecer os jogos como se fosse os melhores da história e de cinicamente comemorar os resultados esportivos. O cartola foi dirigente por duas décadas da Confederação Brasileira de Voleibol (CBV). A ele se credita o fato de ter alçado a modalidade para o 2º lugar na preferência esportiva nacional. E de ter estabelecido os fundamentos que transformaram nosso vôlei numa potência mundial a partir da chamada "Geração de Prata", vice-campeã olímpica e mundial nos anos 80. Mas o sucesso não significou aumento significativo no número de praticantes e se deu através de patrocínios que transformaram equipes locais de vôlei em franquias. Além disso, em 2014 viram a público irregularidades graves (superfaturamento, caixa-dois) envolvendo dirigentes da CBV. Todos eles ligados a Nuzman. Se for puxada uma linha do tempo dos esquemas irregulares, será que eles não remontam aos anos 80 e 90? Mesmo assim, nada foi feito de mais grave hoje, ele já articula sua reeleição para mais um mandato de 4 anos à frente do COB. Suas declarações são controvertidas porque afirma não receber salário (alegar ter suas "fontes de renda") e não considera investimentos e patrocínio estatal como uso de dinheiro público.
Seu lugar-tenente, Marcos Vinícius Freire, ex-jogador de vôlei medalhista em Los Angeles – 1984, é diretor esportivo do COB. Foi um dos mentores e principal gestor desse modelo de resultados esportivos de pouca robustez. Ele e Nuzman protagonizaram situações pouco condizentes com os chamados valores olímpicos ao longo desses 21 anos de hegemonia do esporte olímpico brasileiro. Nesse aspecto, a gestão do COB em muito se parece com o que se faz na CBF e na FIFA, cujo principal mandatário no século XX, João Havelange, era muito próximo a Nuzman que acabou reproduzindo o mesmo modelo de gestão baseado nas amizades e em contratos pouco transparentes que às vezes vem à tona e revelam coisas no mínimo, suspeitas. Em 2004, a delegação usou uniformes desenhados por uma estilista contratada pelo comitê olímpico. A senhora em questão era sua cunhada. Em 2007, a empresa responsável pela emissão dos tickets para as competições era de um empresário que mantinha sociedade em outra atividade com Marcos Freire. Nos jogos de 2016, a empresa responsável pelas lojas de alimentação nas praças de competição pertence ao herdeiro e neto do dono da construtora (Odebrecht) responsável pela maior parte das obras de construção das arenas esportivas do Parque Olímpico e de Deodoro.
Lamentavelmente, são minoritárias as vozes na grande mídia brasileira que realizam um debate mais crítico e qualificado a respeito. Questões mais profundas a respeito do legado esportivo desses jogos olímpicos não são levadas à pauta pela imprensa. Ao contrário, boa parte da cobertura se atém ao desempenho esportivo dos atletas em si mesmo. E mesmo assim em uma perspectiva que enxerga o esporte como mercadoria cultural de grande valor comercial, transformando-o numa fábrica de emoções para sensibilizar a população.
O Rio de Janeiro foi anunciado como sede dos Jogos de 2016 há sete anos. Naquela época uma parcela (de maior consciência crítica) da crônica esportiva, estudiosos em gestão do esporte, intelectuais e ex-atletas sinalizaram que teríamos uma grande oportunidade para transformar o país em potência olímpica, disseminando a prática desportiva como elemento formação cidadã e de integração das pessoas, a começar por crianças e adolescentes. No entanto, mais preocupados com aspectos comerciais de natureza duvidosa, o COB optou por outro caminho, menos transparente e de muito menor impacto social.
As autoridades em plano federal se associaram a essa opção pela sede de resultados rápidos em curto prazo que pudessem ser capitalizados do ponto de vista político. Os governos estadual e municipal do Rio de Janeiro perceberam isso e tornaram a promoção dos chamados megaeventos o pilar de suas administrações. Inauguraram um modelo de governança pública que enxerga a administração pública como gestão empresarial e pensam o espaço público, urbano, a partir de um modelo que pode ser nomeado de cidade-mercadoria.
Talvez isso tudo ajude a explicar a falta de certa "cultura esportiva" no país, que inclusive se evidenciou no comportamento da "plateia" em algumas modalidades pouco frequentadas no Brasil. Mas para além disso, dois aspectos devemos considerar em nossa análise:

1)    Uma das ferramentas para se massificar o esporte em um país e a divulgação pelos meios de comunicação, sobretudo a tevê aberta. Quantas competições de natação e de atletismo passaram nas emissoras de televisão nos últimos anos? Bom lembrar que o vôlei se tornou a potência que é por causa dos canais de televisão convencionais nos anos 80 e 90 do século passado. Mesmo os canais de esportes da tevê fechada destinam mais da metade do tempo de sua grade de programação para falar apenas do futebol.  Rádio então nem se fala... Como a televisão no Brasil tem uma formatação comercial, e a audiência do momento é o que importa, divulgar outros esportes é um investimento de longo prazo sem certeza de retorno financeiro. E como não temos um planejamento estratégico das TVs públicas para o esporte, e as empresas de mídia não acham lucrativo disseminar esportes de baixa audiência, ficamos na mesma.

2)    O Brasil não possui uma política pública de disseminação da prática desportiva. Tampouco o Comitê Olímpico Brasileiro (COB) tem essa preocupação. Foi-se o tempo em que se faltavam recursos ao esporte brasileiro em geral. Na verdade, perdemos enorme oportunidade em nos tornamos uma potência olímpica desde que fomos anunciados como sede dos jogos, em outubro de 2009. Tivemos tempo, mas ao invés de se investir no esporte de base, no desporto como prática de saúde coletiva, preferiu-se concentrar recursos apenas no chamado esporte de alto rendimento. Para começar, como podemos alvejar sucesso esportivo se nem nas escolas se pratica esporte com um mínimo de condição e de seriedade. Em cada dez escolas públicas brasileiras, S E I S sequer dispõem de uma mísera quadra!

Quantas piscinas e quantas pistas de atletismo foram construídas no Brasil nos últimos anos? Por que nunca fomos potência no handebol, já que é o esporte mais praticado nas escolas brasileiras, quando os colégios têm quadra e professores de Educação Física formados, é claro?

O resultado está aí. Nem as suas próprias metas de desempenho nos jogos olímpicos o COB vai atingir (entre 22 e 25 pódios olímpicos e estar entre os dez primeiros países no quadro de medalhas). Infelizmente, cometeram-se muitos equívocos não só no campo estritamente esportivo. Se formos discutir política, gestão pública e administração municipal associados a estas olimpíadas, seria necessário outro textão feito esse. O olimpismo (sobretudo no Brasil) é um grande negócio travestido de valores éticos e de uma moral que se encerra quando interesses econômicos ganham força. Quando tais valores olímpicos aumentam os lucros, ótimo. Quando não, que se garanta o sucesso financeiro primeiro. O resto fica para segundo plano.
Em 2020, os jogos serão em Tóquio, no Japão. Lá talvez possamos ver novamente (chineses e australianos já nos mostraram antes em 2000 e 2008) o que se deve fazer para se tornar potência olímpica. E ficarão mais escancarados nossos equívocos esportivos. E ainda teremos uma medida do quanto a ressaca olímpica atrapalhará nosso desempenho desportivo. Os recursos destinados aos atletas provavelmente terão enorme queda. E a maioria das escolas continuará sem ter sequer uma quadra de esportes... A conferir.


quinta-feira, 18 de agosto de 2016

um triste paradoxo

A terça-feira olímpica do Brasil nos esportes coletivos foi um daqueles dias para se esquecer. Foram três eliminações muito dolorosas: A do handebol feminino, a do futebol feminino e a do voleibol feminino. Isso sem contar a derrota de Talita e Larissa – que simplesmente não entraram em quadra - na semifinal do vôlei de praia para a dupla alemã, a melhor do mundo, diga-se. Em uma olimpíada que teve como destaque na primeira semana de competições a participação das mulheres brasileiras, tivemos um dia para ser esquecido.
Ontem, apesar da classificação para a final do futebol masculino (diga-se, não fez mais que a obrigação), tivemos um jogo de nervos no vôlei masculino e, na raça, despachamos "nuestros hermanos e vecinos" que, jogaram muita bola, e venderam caro sua derrota. A seleção brasileira venceu um jogo tecnicamente fraco demais, mas extremamente carregado de emoção. Aos trancos e barrancos chegou a uma semifinal dificílima contra a Rússia. É meus amigos e minhas amigas, a coisa tá russa pro nosso lado agora. Porém, o dia teve o gosto amargo de duas derrotas no vôlei de praia. Talita e Larissa tomaram uma virada e perderam o bronze para a dupla americana capitaneada pela grande Walsh, tricampeã olímpica. Na decisão, as alemãs não tomaram conhecimento de nossa outra dupla (Ágatha e Bárbara) e ganharam por 2 sets a zero.
Diante de tantas e tão dolorosas derrotas, é legítimo que nos perguntemos o que aconteceu com nossas mulheres. Aliás, poderosas mulheres que nos encantaram com tamanho brilho e nos fizeram sonhar com medalhas e com o lugar mais alto do pódio. Pessoalmente, duas derrotas me foram mais doídas: a do handebol e a do futebol feminino. Por todo o contexto que envolve as modalidades elas mereciam melhor sorte. Marta & Cia. ainda podem lutar por um honroso bronze, diferente das moças do Handebol. Destino semelhante teve a seleção feminina de vôlei. Com essa geração vivemos o sonho dourado por duas olimpíadas. Elas estiveram perto de repetir a façanha das cubanas na década de 90. Mas o esporte não é justo e nem previsível. Talvez por isso seja tão apaixonante e tão bem usado para instrumentalizar multidões mundo afora.
Mas retomemos a questão do parágrafo anterior: Afinal, o que aconteceu??? Nada demais... Isso mesmo, nada demais. Não foi falta de força mental, como ficou evidente no caso da derrocada do basquete masculino. Também não foi complexo de vira-latas, ninguém "entregou a rapadura", as meninas do futebol e do vôlei de quadra nem jogaram mal.
E tem outra coisa: a qualidade das adversárias. No handebol, as holandesas nos eliminaram jogando em cima de nossa única deficiência ofensiva, e fizeram muitos gols de contra-ataque. No futebol, australianas e suecas, reconhecendo nossa superioridade técnica, jogaram com muita disciplina tática, conseguiram não levar gols e levaram a decisão para a disputa de pênaltis. Numa partida, levamos nós. Na segunda vez, não deu. Contra a Suécia, cabe ressaltar o trabalho da sua técnica (bicampeã olímpica dirigindo as norte-americanas, diga-se) que estudou bastante nosso jogo. Da mesma forma a técnica da seleção chinesa de vôlei feminino, Lang Ping (foi excelentíssima jogadora). Ela, após o Brasil arrasar a China no 1º set, mexeu em sua equipe, mudou jogadoras de posição para explorar nosso talvez único ponto fraco: a sequência recepção – passe. E se tornaram melhores, vencendo merecidamente o jogo. Suas adversárias, a nossa seleção, havia vencido todo mundo sem perder nenhum set sequer até aquele jogo. E a chave era bem mais fácil...
Nas demais disputas, mesmo com a dor e a tristeza da derrota, houve o reconhecimento da crônica esportiva especializada e dos torcedores. Havia expectativa pela vitória, mas não houve cobrança pela derrota. É quase unânime dentre quem acompanhou os jogos a percepção de que todas elas deram tudo o que podiam. Até as partidas decisivas, elas haviam feito partidas excepcionais, que nos encantaram e nos fizeram acreditar que poderiam ganhar suas respectivas competições. Tanto que foram todas muito aplaudidas, apesar das derrotas. Mesmo com a derrota houve brilho e superação ao longo da campanha. Infelizmente, no momento decisivo, suas adversárias conseguiram jogar melhor ainda e foram superiores. E nós não repetimos nossas melhores atuações. São derrotas das quais se podem tiram valiosos aprendizados para o futuro.
A principal questão que envolve essas tristes eliminações e/ou derrotas decisivas de nossas meninas não está na análise do desempenho esportivo dentro dos gramados, das areias ou dos ginásios. O fato é que estas derrotas acabaram por evidenciar o maior equívoco esportivo que o COB cometeu na preparação: a opção por uma política esportiva centrada apenas e tão somente em atletas de alto rendimento e modalidades consideradas mais competitivas. Diferente de trinta anos atrás, hoje não se pode dizer que faltam recursos ao esporte brasileiro. Falta sim é política esportiva no país. Antes de terminar os jogos olímpicos, eu voltarei a esse tema com mais calma.
As eliminações solaparam definitivamente as pretensões do Comitê Olímpico do Brasil para o quadro de medalhas destes jogos. Antes de começarem as competições, o COB havia estabelecido uma meta de colocar o "Time BRASIL" entre os "top 10" no quadro de medalhas, ultrapassando a marca das 20 medalhas. Lamentavelmente perdemos uma grande oportunidade – que provavelmente jamais se repetirá – de nos tornamos uma potência olímpica. A não ser que apareça uma grande surpresa no tae-kwon-do, no atletismo, na ginástica rítmica ou no triatlon, dificilmente teremos mais alguma medalha de ouro conquistada por mulheres brasileiras, o que elevaria nossa posição no quadro geral de medalhas. Nesse aspecto, o COB fracassou feio. E induziu o Estado Brasileiro a uma política nacional desportiva muito equivocada. Gastaram recursos volumosos para esse desempenho pífio e que não está muito distante dos resultados dos dois últimos jogos olímpicos.
Assim, numa olimpíada em que as mulheres nos encantaram, somente os homens têm chances reais de medalhas de ouro: no futebol, na canoagem e no vôlei de praia. Seria uma grata surpresa, mas há uma pequena chance no arremesso do martelo também. Um choque de realidade que fez água nos sonhos da cartolagem do COB (Nuzman e Marcus Vinícius) e frustrou as expectativas dos torcedores brasileiros que, em sua maioria, apenas acompanha os esportes olímpicos a cada quatro anos. Triste paradoxo...


domingo, 14 de agosto de 2016

a conjuntura do golpismo

Salve galera!
Mais uma vez, abrimos espaço orgulhosamente para nossos leitores, dando voz a quem não tem.
Dessa vez, nosso amigo Renato Romano faz uma acurada análise sobre a conjuntura, com um enfoque e um vernáculo um pouco diverso de nossos redatores.
Esperamos que os amigos gostem do texto e que fiquem à vontade para concordar ou discordar das idéias de nosso caro companheiro.
Aos fatos!


A CONJUNTURA DO GOLPISMO
Renato Romano


A grande possibilidade de políticos envolvidos na Lava Jato serem anistiados no âmbito do Congresso, somada ao arrefecimento ou mesmo inação dos órgãos judiciários diante de novas evidências de corrupção em componentes da cúpula do governo ilegítimo de Temer, parecem confirmar-nos o óbvio: a existência, sob a tutela judiciária e política, de um projeto de poder que encontra seus alicerces surpreendentemente fortes, na conivência dos órgãos políticos, latu sensu, com a ilegalidade e a ilegitimidade.
É muito constrangedor verificarmos que as instâncias que deveriam resguardar a ordem republicana contra quaisquer afrontas investem todos os seus poderes e recursos de forma seletiva, atingindo determinados grupos políticos em prol de outros, derrogando os princípios informadores da justiça como uma transcendência que, na esfera pública, deveria prevalecer sobre interesses particulares ou mesmo de certas coletividades.
Como desdobramento da particularização da justiça, agora nas mãos de um determinado staff judiciário-politico que encontra sua suposta legitimidade no senso comum, observa-se certa e imprópria discricionariedade na aplicação de princípios basilares do direito público, como o in dubio pro reo, o qual foi derrogado quando da aceitação do julgamento político de Dilma pelo Senado, e tem sido cuidadosamente, por outro lado, observado por órgãos judiciários de diversas instâncias, com relação a políticos que se atrelam ao projeto de poder do governo ilegítimo.
Respaldando, de certa forma, a desigualdade de medidas dos julgados para os diferentes grupos políticos, o aparato midiático, de grande influência na opinião pública, tem prestado enorme desserviço a uma compreensão mais lúcida e equilibrada do atual cenário da política brasileira, o qual, eivado de forte polarização e falta de diálogo entre duas "supostas" tendências antagônicas, tende, perigosamente, a ter ressonâncias fragmentadoras para toda a sociedade, pelo arrefecimento dos já tênues laços de solidariedade que têm marcado nossa vida social, pelo menos desde 1988.
Assim sendo, o desmonte do pacto previdenciário, a reforma trabalhista com todos os aspectos draconianos que trará em seu bojo, a privatização de ativos públicos sem as contrapartidas necessárias (se é que as há) são alguns dos principais pilares que os agora legitimados (porém, inerentemente ilegítimos!) agentes governamentais poderão implantar ou cuja implementação podem ensaiar, contando para isso com o beneplácito de grandes parcelas da sociedade que já não entendem mais a República, em última instância, como um valor, preferindo escudar-se com seus particularismos em instâncias decisórias que tendem a reforçar soluções excludentes e corporativistas, em detrimento de uma visão mais ampla do corpo social.
A existência respaldada de instâncias políticas que flertam com o autoritarismo e com os particularismos parece, portanto, ressoar a vocação de amplos setores da sociedade brasileira com tais valores, reforçando os liames de um Estado schmittiano, supostamente forte porque atuante no atendimento de demandas particularistas e patrimonialistas.

terça-feira, 9 de agosto de 2016

O OURO DA SUPERAÇÃO, A EMOÇÃO DA HIPOCRISIA, AS VAIAS DA REVOLTA E O CARIOCA LESADO

Quando comentei os resultados da Copa do Mundo de 2014, escrevia sobre um único esporte e várias seleções. Nesta olímpiada escrevo sobre a participação brasileira em várias modalidades. Confesso que é mais difícil. Mas vamos tentar com o que faltou no texto passado.
A Ginástica Artística está de parabéns. Tanto no feminino quanto no masculino. Ficamos em sexto lugar por equipes no masculino, o feminino por equipes está na final e temos dois atletas de cada equipe nas finais individuais.
Já a condição do basquete feminino é de chorar. A seleção feminina acumulou duas derrotas, e nas duas com uma diferença significativa de pontos. E difícil de acreditar que há exatos 22 anos com um quinteto com Janete, Helen, Paula, Hortência e Marta, o Brasil era campeão do mundo e dois anos depois fora Vasc... quer dizer, vice-campeão olímpico, numa campanha memorável, a ponto da nossa melhor jogadora na competição passar a ser chamada de "Magic Paula". O caso e o ocaso do basquete brasileiro (de tantas glórias passadas, diga-se) deve-se a atuação da cartolagem, cuja gestão velhaca e corrupta fez com que o esporte da cesta deixasse de ser o segundo esporte na preferência nacional. Hoje as meninas do basquete estavam até ganhando da Belarus (antiga Bielorússia), mas passaram DEZ minutos, isso mesmo, dez minutos sem fazer uma única cesta. Pelo visto, não vamos nem nos classificar... E o masculino é o time do quase: quase vira, quase empata, quase faz cesta de três pontos. São todos bons jogadores, estão na NBA mas chega na seleção e... quase. Ahh, que saudades de Oscar, Marcel e cia... As vezes falta força mental a essa ótima geração. E tem dia em que ainda temos que jogar contra a arbitragem! Hoje, contra a grande seleção espanhola, o Brasil de novo quase... Perdeu. Foi por UM PONTO!!!!!!!!!! Mas a Espanha jogou muito mal hoje e nós poderíamos ter vencido com mais folga e sem passar por tantos sobressaltos.
A natação brasileira é outra que sofre com a cartolagem. O manda-chuva desse esporte lá está há quase trinta anos... Então se vive do surgimento de fenômenos de tempos em tempos. Depois da geração Scherer/Gustavo Borges e do fenômeno Cielo parece que vivemos tempos de entressafra. E corremos o risco de passar em branco em nossa própria casa.
O futebol masculino é outra modalidade que corre sério risco de ser eliminado na primeira fase. E dá um sonoro vexame nos gramados. A torcida perdeu a paciência com um time muito nervoso, sem esquema tático, com um técnico sem autoridade e sem recursos táticos. Parece que nem a seleção olímpica consegue escapar da ressaca do 7 X 1. Mais, Dunga se foi mas o futebol anacrônico que ele propunha parece ter impregnado as seleções masculinas de futebol.
O handebol feminino está em estado de graça. Nossas jogadoras fizeram hoje um partidaço. A vítima da vez foi a atual campeã mundial, a Romênia. Devolvemos a dolorida derrota que acabou com o sonho do bi mundial, e foi um passeio.  No masculino fizemos bonito na primeira rodada e vencemos a fortíssima Polônia por dois gols de diferença. Hoje, enfrentando os eslovenos, não fomos tão bem assim e eles nos venceram por 31X28. Vale dizer, não houve corpo mole e a torcida aplaudiu o Brasil ao final da partida.
O vôlei feminino não tomou conhecimento e venceu com facilidade as argentinas por 3 sets a zero. E jogou com muita seriedade. A seleção joga tão bem que dá até medo do dia em que jogar mal. O destaque negativo fica por conta do horário. O interesse comercial acima da necessidade do atleta. O Brasil jogará todas as suas partidas de vôlei (masculino e feminino, diga-se) até as semifinais no horário das 22:00h! Não gosto de teorias da conspiração, mas até parece até que tem gente na Federação de Internacional de Vôlei desejando a derrota brasileira no vôlei. Nas areias do Leme/Copacabana, os rapazes perderam seus jogos. Uma das duplas (Pedro Solberg e Evandro) perdeu a segunda partida e se complicou bastante para se classificar. As duplas femininas seguem invictas e venceram suas duas partidas. Será que teremos outra final feminina? E no vôlei masculino, uma nota para a maior zebra do masculino nessas olimpíadas. Campões olímpicos, os russos  foram derrotados pela Argentina, cuja torcida lotou o Maracanãzinho e deu um show, lembrando muito o que fizeram na Copa do Mundo de 2014.
Na vela, Robert Scheidt, competindo na classe laser, vive de altos e baixos e está em 8º lugar após 5 regatas. Talvez a medalha não venha...
E Rafaela Silva, traz a primeira medalha de Ouro para o Brasil nesses jogos de forma muito emblemática e carregada de simbolismos. O mais forte deles é uma questão de gênero. É a primeira medalha dourada em um evento onde as brasileiras parecem muito mais fortes e preparadas para jogar em casa. Futebol e judô que o digam.
O segundo simbolismo passa pela superação da atleta vítima de racismo porque foi desclassificada na olimpíada passada e hoje todos a enaltecem pela vitória. Não questiono a genuína emoção que muitos sentiram, mas há um quê de hipocrisia nisso. Hoje comemoram muitos que reforçam estereótipos e preconceitos de um país que não se assume como racista e preconceituoso com tudo aquilo relacionado aos negros, aos pobres ou que a origem esteja ligada à favela e à periferia. Tanto é verdade que coisa parecida ocorreu hoje na eliminação da nadadora Joana Maranhão. A diferença é que essa atleta posiciona-se muito claramente em termos políticos e, ao que tudo indica, essa postura incomoda a ponto dos covardes nas redes sociais se aproveitarem disso na hora mais dura para um esportista.
E tem o terceiro simbolismo, o de alguém que veio da Cidade de Deus (da região mais violenta, chamada de Coréia), tida por problemática, ganhar sua medalha em casa, há menos de dez quilômetros de casa. Esse é o resultado direto da sua vitória contra a pobreza. Mas não significa legitimar a tese que afirmar que todos que se esforçarem alcançarão a vitória. Isso não acontece com todo mundo, infelizmente. Muitos bons potenciais, em várias áreas, estão nas favelas e periferias, mas eles não chegarão ao topo por causa da falta de oportunidades, de infraestrutura em educação, por causa da violência e do preconceito.
A vitória de Rafaela Silva está diretamente liga as outras derrotas no judô. A política esportiva com vistas aos resultados de uma olimpíada em casa fez a equivocada opção por investimentos no chamado esporte de alto rendimento. O COB e as autoridades governamentais não foram capazes de produzir um programa de disseminação da prática desportiva. Foi assim que Austrália e China se tornaram potências olímpicas e que o Quênia despontou no Atletismo. Aqui no Brasil se fez uma opção elitista e perdemos a chance de nos tornar uma potência olímpica. E nem dava para virar mesmo em um país onde 6 em cada 10 escolas sequer possuem quadra de esportes... Assim sendo, quantas Rafaelas Silvas deixamos de ter??? Isso explica o porquê dificilmente teremos a quantidade de medalhas que o COB estabeleceu como meta.
Finalmente, não poderia encerrar esse texto sem mencionar minha descoberta e minha aventura hoje. Fui pegar uns ingressos que ganhei de presente hoje para competições que vou assistir amanhã. Como estava na Zona Norte da cidade, resolvi testar a história do acesso ao Parque Olímpico. A prefeitura e os organizadores dos jogos tem afirmado que para usar o metrô da linha 4 e os BRTs na Barra a pessoa tem que comprar um RioCard Olímpico (R$ 25 para usar um dia). TODOS  os turistas e muitos moradores da cidade estão gastando esse dinheiro todo e certamente não consomem nem a metade em passagens.
Pois bem, descobri várias coisas cuja a divulgação da prefeitura, dos comitês e da imprensa negligenciam. Primeiramente, meus ingressos eram para amanhã, mas ninguém conferiu data. Peguei o BRT especial em Vicente de Carvalho usando meu RioCard. Desci no terminal do morro do outeiro e verifiquei que não há bilhetagem na volta. Por isso, paga-se R$7,60 para entrar no BRT especial em Vicente de Carvalho (Peraí, mas e o bilhete único?). Lá verifiquei que tinha quiosques de alimentação. Em alguns deles falta comida depois de um horário. O pessoal do consórcio BRT está fazendo jornadas de doze horas diárias de trabalho... Com menos de R$15,00 não se come nada. E a empresa responsável pela alimentação nas praças esportivas dos jogos pertece ao neto e herdeiro do dono da Odebrecht. Isso lhe diz algo?
Só não entrei no parque olímpico porque o ingresso era para o Riocentro e a moça me "encaminhou para direção correta"... Resolvi voltar pela zona sul, já que moro em Botafogo. E entrei feliz da vida no BRT que ia para o Jardim Oceânico sem que ninguém me pedisse RioCard de quaisquer tipos. Ao chegar na Barra, desci para o metrô e... Bingo! Com meu Vale Transporte simples paguei a passagem de metrô e fui embora pra Botafogo feliz da vida...
Resumo da ópera: A prefeitura e a imprensa deliberadamente estão onerando a população e impedindo quando possível que turistas e moradores acessem o parque olímpico (creio que em Deodoro seja a mesma coisa) usando o vale-transporte ou RioCard. Para atender o interesse das empresas de ônibus e do metrô, que estão se locupletando em cima do público que está indo aos jogos, os responsáveis pelo evento (mídia, Prefeitura, COB, Concessionárias de transporte público) deliberadamente estão onerando a população e os nossos turistas. Mais uma vez fica evidente que nossos gestores (diga-se PMDB) organizam a cidade como se ela fosse uma mercadoria, colocando os interesses dos empresários acima do bem estar da popular. É complicado viver em um lugar com sensação de estar sendo assaltado pelo poder público o tempo todo...
Apesar da emoção que o esporte me provoca, pensar nisso dá muita raiva mesmo. Amanhã tirarei a prova dos nove. Tentarei ir pelo metrô da linha 4 até a Barra para ver as lutas de box. Relato depois minha experiência.