Malacanews de junho
Fala galera!
A malacanews desse mês será
"à moda antiga": diversos assuntos que visam gerar diversos debates. Como
sempre, fiquem à vontade para opinar e espalhem aos quatro ventos nosso artigo.
Aos fatos!
Leifertização? Não, muito obrigado
Assistimos ao jogo Atlético-GO 2 x 1 Vasco, transmitido pela TV Brasil. Mais que comentar sobre o
fim da invencibilidade do clube da Colina, gostaríamos de chamar atenção para
um aspecto bastante revelador no que tange ao modo de se transmitir um evento.
Antes da partida, ficamos conjecturando
sobre se seria possível uma transmissão que fosse o oposto do galvobuenismo (sinônimo de pachequismo, versão esportiva da síndrome de viralata). Pois eis que a
transmissão esportiva da TV Brasil foi algo bacana, sóbria e bem-humorada,
totalmente isenta da maldita leifertização
vigente que querem empurrar goela adentro da nova geração de profissionais do
jornalismo esportivo. Pois a globbels, que adora uma padronização sempre daninha,
cismou que aquele bobo alegre deve ser a tônica de sua programação e isto em
toda a sua grade.
Se vocês observarem com um olhar
bem crítico, perceberão a pobreza vigente em termos de apresentações na TV.
Parece que mesmo alguns que tinham uma linha sóbria resolveram aderir a essa
bobagem de interagir com o público dessa forma caricata, como se isso fosse
sinônimo de se aproximar mais do público com uma linguagem próxima. Quanto
engano em se pensar dessa forma!
Nossa linha crítica se fortalece
quando lembramos de Serginho Groisman.
Desde os tempos de Programa Livre observamos
uma forma extremamente despojada de se apresentar um programa, totalmente compatível
com seu público, em geral adolescente e jovem. Ele conseguia atrair a atenção
de todos sem recorrer a fanfarronices tolas. Se era para tomar alguém como
exemplo, por que não ele?
Entretanto, o que vemos hoje (e
Groisman até se esforça para não ser mais um desses tolos), os contratados da
globbels não passam de entretenedores
baratos e essa lógica respinga em praticamente toda a programação. Percebam
como mesmo o setor de jornalismo tem um pouco dessa verve, que é diferente de
se apresentar um jornal de forma mais descontraída. Mesmo os concorrentes já
notaram e imitam esse jeito estúpido de ser de Thiago Leifert, o bobalhão da
mídia.
É possível que TL tenha se inspirado
na produção artística atual, que privilegia esse tipo de comportamento, pois
tal mascara a inutilidade de suas obras sem conteúdo algum e então apela-se
para a bobice, a palhaçada, e assim não se tem mais o arrojo daqueles que desafiam o público com seu trabalho. Assim
mesmo uma vaia parece estar fadada à extinção, o que significa o fim de uma
tentativa de se tentar algo novo em detrimento daquilo que arranca aplausos e
sorrisos fáceis.
A leifertização é uma praga!
Boicote a essa filosofia já!
Do cacete!
Rápido comentário sobre mais um
vexame do futebol brazuca.
O lance do gol peruano era tudo
que Dunga precisava pra justificar essa eliminação – além da ausência de Neymarketing,
claro. Afinal, a irregularidade foi tão clara que somente um Castanhera da vida
(o que não viu o gol de falta de Douglas pelo Vasco contra o Flamengo em 2014)
pra não vir...
Por outro lado e fora isso,
pensemos bem:
1) Não fez gols no EQUADOR
2) Tomou gol do HAITI
3) O técnico é DUNGA
Tinha como dar certo?!?!?
É selenike, agora o 7 a 1 foi na
palma da mão...
Viver ou morrer
Dia desses, assistimos um clipe do
rapper Emicida no Youtube que nos chamou atenção para algo que também é
recorrente em nossas análises: a forma como a mídia se utiliza das pessoas exatamente
como se estas fossem meros produtos sem alma.
Num dado momento da canção
("Mãe", por sinal uma bela canção), o paulistano diz o seguinte:
"... ou você vive Lady Gaga ou
morre Pepê e Neném". Esse
trecho causou certa polêmica porque algumas pessoas viram nisto uma crítica
feroz à dupla, um tom mesmo de deboche,
como quem ridiculariza as cariocas. Respondemos a um dos comentários por
crermos que ali estava havendo uma denúncia mui importante por parte de
Emicida.
Presumimos ter sido o contrário do
que as pessoas entenderam. O próprio clipe, que é bem emocionante, já traz
algumas pistas.
A citação, em verdade, é uma
homenagem bem sacada porque ao mesmo tempo é uma crítica ácida e um grito de
alerta para todos os que estão na estrada buscando seu lugar ao Sol. Emicida
não está galhofando o fato de Pepê e Neném terem "morrido" como
artistas. A crítica é justamente para
quem as criou porque puseram as duas no mercado, exploraram o máximo que
puderam e depois que conseguiram o que queriam deixaram-nas "a Deus
dará". Elas foram tratadas tão-somente como produto, como fonte de renda, nada mais que isso. E é disto que
todo aquele que quer viver de sua arte tem de fugir. Porque se já está difícil
para quem percebe e não cai em esparrelas de bobeira, imagina pra quem está
vulnerável e não conhece as artimanhas cruéis dessa gentalha oportunista...
Algum tempo atrás, soubemos dessa
dupla. Ficamos chocados com o que vimos. Não são nem mesmo resquícios daquelas
mulheres que (en)cantaram em todos os programas de televisão, que tiveram suas músicas
executadas em todas as rádios... É como
se elas nunca tivessem existido. Portanto, Emicida tê-las mencionado daquela forma e com
aquele significado é de muita sensibilidade e perspicácia, ainda mais sabendo
que tem muita gente que quer seguir o caminho da arte que curte seus raps,
pessoas talentosas que apenas precisam de uma chance para mostrar seu valor e
que certamente teriam vida bem mais longa que as gêmeas cariocas.
O duro é saber que certamente a
mesma canalhice feita à Pepê e Neném se repete em inúmeros artistas que foram
criados natimortos, com prazo de validade pré-determinado. Temos certeza que se
Gaga não tivesse sido mais esperta em termos de gestão de sua fama estaria na
mesma situação, ainda que muitos afirmem que a gringa "tem mais
talento" que as brasileiras. Pois nesse ambiente, onde o efêmero ganha
milhões com um vídeo no Youtube, nem mesmo o talento importa. As cifras valem
mais que qualquer boa rima...
Sem açúcar
Não, não se trata da canção de
Chico Buarque, interpretada magistralmente por Maria Bethânia em 1975. É o
subtítulo de um texto muito bacana de um de nossos leitores, o sempre objetivo Ronaldo Russo Marcelino. Uma reflexão
bastante lúcida sobre o momento atual e que nos convida à reflexão desse triste
momento que a educação no Estado do Rio de Janeiro está passando.
Olá, caros amigos professores!
A situação da educação no Estado do RJ - e possivelmente em boa parte
do país - chegou a um ponto em que é urgente a criação de um fórum permanente
envolvendo todos os órgãos da educação e a sociedade civil para discutir o que
se espera afinal da Educação na formação do cidadão. Não é possível olhar para
o que acontece atualmente e achar que isso "depois resolvemos". Os
desabafos que temos lido e/ou escutado nas redes sociais, não só o de vocês mas
também o de muitos outros, ilustram o processo de descaso de boa parte da sociedade
para com a Educação.
Fui professor do Estado apenas por cinco anos, mas o suficiente para
perceber como o sistema educacional está fadado ao fracasso. Ele é feito para
dar errado. Eu olhava para o lado e me perguntava por quanto tempo continuaria
naquele processo. Nenhuma sociedade que leve a sério a educação permitiria que
uma greve chegasse a três meses sem nenhum esforço para querer resolver o
problema.
Todos perdem com essa longa greve, mas ela só mostra como a educação
pública é vista pela sociedade. Por que uma greve de gari não dura nem um mês?
Porque ela afeta a todos. E a educação, também não afeta a todos? A sociedade
age como se as crianças e os jovens sem uma boa formação não fossem se
transformar em um baita problema social no futuro. Parece que ignora que a
Escola é a primeira ou única porta de entrada na cidadania - para não falar em
civilidade - que muitas pessoas terão oportunidade, uma vez que a sociedade é
cada vez mais excludente.
São percepções óbvias, e por isso é que assusta o descaso. O Estado
joga com o tempo para a opinião pública ficar contra a greve e os professores.
Mas poucos da sociedade civil - não espero isso da grande mídia - colocam o
dedo na cara dos responsáveis para exigir uma solução. Se não tem como dar
aumento, abram então o orçamento para provar. Não há o que esconder, o
recurso/dinheiro é público.
Sei que a pauta de reivindicações é longa. Mas pra que resolver logo?
Quem perde com isso? O governo faz esse cálculo. Mas, infelizmente não será com
greves longas, fechamento de ruas e ocupação de escolas que a educação pública
vai atrair positivamente a atenção de todos. Eu também não sei como fazer
melhor, mas vocês não acham que estes recursos já estão sendo
contraproducentes?
Eu lembro que aquela greve longa do governo Moreira Franco em 1988 foi
o começo do processo de desprestígio que foi relegado à educação pública e aos
professores. Depois daquilo, a educação pública nunca mais foi a mesma e os
governantes perceberam que a sociedade não se escandalizava com aquilo.
Por isso, meus caros resistentes, é preciso criar outro paradigma de
reivindicação e negociação. Os professores sempre estarão do lado mais fraco
nas negociações, até porque a classe é grande, complexa e heterogênea. E isto
dificulta muito afinar o discurso de classe, dando margem para o fogo amigo. A
começar pela direção que parece ter pavor de voltar à sala de aula e perder a
gratificação. Por isso, vejo como avanço a aprovação da eleição para direção
com mandato fixo. Quem é professor sabe o quanto a direção se borra do
Secretário e faz qualquer coisa pra ficar no cargo.
Enfim, amigos, desculpem pela mensagem longa. Como disse, é preciso um
fórum permanente de discussão. Teríamos que criar um grupo só pra discutir os
problemas da educação. Até quando a sociedade vai ignorar que, se alguém não
tem nada, nada poderá oferecer? E o pior, o instinto de sobrevivência a levará
a tomar o que estiver pela frente. É a lei da natureza, depois não adianta
lamentar. Abraços a todos.
E pra fechar...
Finalizamos nossa malacanews mês
com um breve comentário sobre a chacina ocorrida em Orlando (EUA) neste
fim-de-semana. O acontecimento em si não poderia ter sido mais trágico, triste,
revoltante. Porém, como o ditado ensina, sempre pode piorar.
Pois eis que alguns resolveram
usar as redes sociais para desfilar as mais pavorosas sandices sobre os fatos.
Desde apoio à chacina até comparações esdrúxulas do tipo "Quando são lésbicas, ninguém
chora igual". Isso mesmo que vocês leram. Sem tirar vírgula.
Por isso, nos posicionamos
exatamente como fizemos à ocasião do ocorrido com a menina no Morro do Barão.
Ou seja:
As panelas
seguem em silêncio, tendo sido substituídas pelo "Ah, mas ela..." em
favor do estupro e de quem estupra e agora caminhando lado a lado com o
"sou contra matar gays, mas...", em defesa do extermínio LGBT.
Simples assim. Ponto final.