Como trabalhei
prestando serviços para Odebrecht fora do país, vi que ao longo dos tempos, nos
mercados e lojas desses países a cada dia que passava, encontrava cada vez mais
produtos fabricados no Brasil.
Quando estourou
os problemas da Lava Jato e os empréstimos do BNDES para as construtoras foram
paralisados, os produtos brasileiros começaram a perder espaço nos mercados
desses países.
Estou eu,
deduzindo por minha própria lógica, que os empréstimos do BNDES, a juros
relativamente baixos, estariam ligados a algum tipo de acordo comercial entre o
Brasil com os países tomadores do empréstimo.
Fui ao site do
Ministério de Indústria e Comércio Exterior e eis que resolvi baixar todas as
informações de importação/exportação do Brasil para os países onde as Construtoras
Brasileiras estavam presentes. Os dados disponíveis eram de 2000 a 2016 (na
época).
Os números do
governo PT, e após a atuação do BNDES mostraram uma situação que poucas pessoas
realmente conhecem. A exportação de produtos e serviços para os países onde o
BNDES atuava foi multiplicada por 4 ou 5 vezes e a balança comercial brasileira
com esses países teve um boom.
Resolvi pegar
um caso específico do comercio Brasil x Cuba.
Entre 2000 e 2002 (antes do PT)
·
Exportação para Cuba: US$ 94 milhões / ano
(média)
·
Importação de Cuba: US$ 15 milhões / ano (média)
·
Saldo: US$ 79 milhões/ano
Entre 2003 e 2014 (governo PT antes do
processo de golpe)
Exportação para Cuba: US$ 384
milhões / ano (média)
Importação de Cuba: US$ 61
milhões / ano (média)
Saldo: US$ 323 milhões/ano
No ano de
construção do Porto de Mariel, essa exportação alcançou valores acima dos US$
500 milhões / ano.
O Brasil,
através do BNDES, concedeu empréstimos de cerca de US$ 900 milhões para a
construção do Porto. Esse empréstimo foi vantajoso para o Brasil.
Analisando os
dados de balança comercial, ao longo do governo do PT (2003-2015), temos o
seguinte:
·
Exportação para Cuba: US$ 5 bilhões
·
Importação de Cuba: US$ 795 milhões
·
Saldo: US$ 4,2 bilhões
Pela balança
comercial Brasil-Cuba no período do governo do PT, o país teve uma entrada de
capitais de Cuba da ordem de US$ 4 bilhões (ou R$ 12 bilhões) e emprestou US$
900 milhões para Cuba fazer seu porto. Isso na prática, representa dizer que
Cuba já pagou para o Brasil a Obra do porto multiplicada por 4 e o empréstimo
foi muito vantajoso para o Brasil se levarmos em consideração que Cuba passou a
adquirir muito mais produtos e serviços do Brasil e ajudando a gerar empregos
no Brasil.
Os números que
pesquisei mostraram que o Porto de Mariel gerou cerca de 20000 empregos no
Brasil além de ter gerado muitos empregos em Cuba também.
Para
Cuba, esses acordos comerciais foram vantajosos?
Eu particularmente
entendo que sim pelo seguinte motivo. Cuba não tem um país autossuficiente e
não possui fontes de energia e água suficiente para instalação de indústrias de
grande porte, e necessariamente precisa importar produtos. O que Cuba importava
do Brasil por acordos comerciais, provavelmente já importava de outros países
(ou seja, o dinheiro saía do país de qualquer jeito) e não tinha contrapartida.
O Brasil de certa forma ofereceu contrapartidas para isso que levaram vantagens
aos cubanos sem que o país tivesse que ter prejuízo em algum aspecto relevante.
O
cenário pós-impeachment
Como o
impeachment se deu no ano de 2016, precisaria ter os resultados consolidados de
2017 para avaliar melhor se houve impacto do impeachment nas relações
comerciais Brasil-Cuba.
Em 2016, o resultado comercial fechou da
seguinte forma:
·
Exportação para Cuba: US$ 321 milhões / ano
·
Importação de Cuba: US$ 55 milhões / ano
·
Saldo: US$ 266 milhões/ano
Em 2015, ano anterior, os resultados
comerciais foram:
·
Exportação para Cuba: US$ 513 milhões / ano
·
Importação de Cuba: US$ 51 milhões / ano
·
Saldo: US$ 462 milhões/ano
Comparando 2016 (ano do impeachment) com o
ano de 2015, concluímos o seguinte:
·
Exportação para Cuba caiu 48% (US$ 513 milhões /
ano)
·
Importação de Cuba subiu 7% (US$ 4 milhões /
ano)
·
Saldo caiu 42% (US$ 462 milhões/ano)
No comercio com
Cuba, houve perda de aprox. US$ 200 milhões/ano (R$ 600 milhões) e perda
potencial de cerca de 20 mil empregos diretos+indiretos que estavam ligados a
Odebrecht e as suas subcontratadas/prestadoras de serviços e fornecedores.
Eu fiz esse
cálculo estimado para os países onde as construtoras brasileiras atuavam e
cheguei em perdas da ordem de US$ 50 bilhões / ano em exportações para esses
países.
Durante o
processo do golpe, posto em prática em 2014, houve uma perseguição forte sobre
os empréstimos do BNDES as construtoras e muita pressão da mídia sobre esse
tema associando que o BNDES estaria praticamente “doando” dinheiro para esses
países em vez de investir em obras dentro do Brasil e que isso estaria dando
prejuízos ao Brasil.
Analisando esse
caso de Cuba, podemos ver que para o Brasil o empréstimo concedido de US$ 1
bilhão geraram para o país US$ 4 bilhões e, se levarmos em consideração que, do
valor total exportado de US$ 5 bilhões para Cuba, 20% tenha voltado em
impostos, isso representaria US$ 1 bilhão que voltaram para o tesouro e conseqüentemente,
o dinheiro emprestado pelo BNDES já voltou para o tesouro de forma direta.
O problema
maior foi que, com a atuação da Lava Jato e a paralisação do BNDES, o Brasil
teve uma perda estimada de US$ 50 bilhões por ano de entrada de capitais (R$
150 bilhões) e isso foi um dos fatores que impactou nas receitas de 2016 e 2017
a ponto do país fechar 2017 com déficit de R$ 200 bilhões e não saber como
fechar as contas.
O país teve
queda de receita e precisaria, em contrapartida, reduzir as despesas. Eu
imaginei que o governo Temer iria fazer isso e que ele tivesse uma carta na
manga para compensar essas perdas de exportação na America Latina e África (algo
conseguido por Lula), mas pelo visto não tinham, e também não tiveram coragem
de reduzir o contingente e verbas para o Judiciário e para a Policia Federal e
Ministério Público.
Dentro desse
cenário, eu não vejo solução nem a curto e nem em longo prazo e nem sem Lula
(porque todo esse superávit comercial com países da África e America Latina foi
conseguido pelo Lula)
Irei postar
mais dados de Comércio Exterior do Brasil com outros países da America Latina e
da África, especialmente onde as construtoras brasileiras atuavam.
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