terça-feira, 14 de junho de 2016

malacanotas 1

Malacanews de junho

Fala galera!
A malacanews desse mês será "à moda antiga": diversos assuntos que visam gerar diversos debates. Como sempre, fiquem à vontade para opinar e espalhem aos quatro ventos nosso artigo. Aos fatos!

Leifertização? Não, muito obrigado

Assistimos ao jogo Atlético-GO 2 x 1 Vasco, transmitido pela TV Brasil. Mais que comentar sobre o fim da invencibilidade do clube da Colina, gostaríamos de chamar atenção para um aspecto bastante revelador no que tange ao modo de se transmitir um evento.
Antes da partida, ficamos conjecturando sobre se seria possível uma transmissão que fosse o oposto do galvobuenismo (sinônimo de pachequismo, versão esportiva da síndrome de viralata). Pois eis que a transmissão esportiva da TV Brasil foi algo bacana, sóbria e bem-humorada, totalmente isenta da maldita leifertização vigente que querem empurrar goela adentro da nova geração de profissionais do jornalismo esportivo. Pois a globbels, que adora uma padronização sempre daninha, cismou que aquele bobo alegre deve ser a tônica de sua programação e isto em toda a sua grade.
Se vocês observarem com um olhar bem crítico, perceberão a pobreza vigente em termos de apresentações na TV. Parece que mesmo alguns que tinham uma linha sóbria resolveram aderir a essa bobagem de interagir com o público dessa forma caricata, como se isso fosse sinônimo de se aproximar mais do público com uma linguagem próxima. Quanto engano em se pensar dessa forma!
Nossa linha crítica se fortalece quando lembramos de Serginho Groisman. Desde os tempos de Programa Livre observamos uma forma extremamente despojada de se apresentar um programa, totalmente compatível com seu público, em geral adolescente e jovem. Ele conseguia atrair a atenção de todos sem recorrer a fanfarronices tolas. Se era para tomar alguém como exemplo, por que não ele?
Entretanto, o que vemos hoje (e Groisman até se esforça para não ser mais um desses tolos), os contratados da globbels não passam de entretenedores baratos e essa lógica respinga em praticamente toda a programação. Percebam como mesmo o setor de jornalismo tem um pouco dessa verve, que é diferente de se apresentar um jornal de forma mais descontraída. Mesmo os concorrentes já notaram e imitam esse jeito estúpido de ser de Thiago Leifert, o bobalhão da mídia.
É possível que TL tenha se inspirado na produção artística atual, que privilegia esse tipo de comportamento, pois tal mascara a inutilidade de suas obras sem conteúdo algum e então apela-se para a bobice, a palhaçada, e assim não se tem mais o arrojo daqueles que desafiam o público com seu trabalho. Assim mesmo uma vaia parece estar fadada à extinção, o que significa o fim de uma tentativa de se tentar algo novo em detrimento daquilo que arranca aplausos e sorrisos fáceis.
A leifertização é uma praga! Boicote a essa filosofia já!


Do cacete!

Rápido comentário sobre mais um vexame do futebol brazuca.
O lance do gol peruano era tudo que Dunga precisava pra justificar essa eliminação – além da ausência de Neymarketing, claro. Afinal, a irregularidade foi tão clara que somente um Castanhera da vida (o que não viu o gol de falta de Douglas pelo Vasco contra o Flamengo em 2014) pra não vir...
Por outro lado e fora isso, pensemos bem:

1) Não fez gols no EQUADOR
2) Tomou gol do HAITI
3) O técnico é DUNGA
Tinha como dar certo?!?!?

É selenike, agora o 7 a 1 foi na palma da mão...


Viver ou morrer

Dia desses, assistimos um clipe do rapper Emicida no Youtube que nos chamou atenção para algo que também é recorrente em nossas análises: a forma como a mídia se utiliza das pessoas exatamente como se estas fossem meros produtos sem alma.
Num dado momento da canção ("Mãe", por sinal uma bela canção), o paulistano diz o seguinte: "... ou você vive Lady Gaga ou morre Pepê e Neném". Esse trecho causou certa polêmica porque algumas pessoas viram nisto uma crítica feroz à dupla, um tom mesmo de deboche, como quem ridiculariza as cariocas. Respondemos a um dos comentários por crermos que ali estava havendo uma denúncia mui importante por parte de Emicida.
Presumimos ter sido o contrário do que as pessoas entenderam. O próprio clipe, que é bem emocionante, já traz algumas pistas.
A citação, em verdade, é uma homenagem bem sacada porque ao mesmo tempo é uma crítica ácida e um grito de alerta para todos os que estão na estrada buscando seu lugar ao Sol. Emicida não está galhofando o fato de Pepê e Neném terem "morrido" como artistas. A crítica é justamente para quem as criou porque puseram as duas no mercado, exploraram o máximo que puderam e depois que conseguiram o que queriam deixaram-nas "a Deus dará". Elas foram tratadas tão-somente como produto, como fonte de renda, nada mais que isso. E é disto que todo aquele que quer viver de sua arte tem de fugir. Porque se já está difícil para quem percebe e não cai em esparrelas de bobeira, imagina pra quem está vulnerável e não conhece as artimanhas cruéis dessa gentalha oportunista...
Algum tempo atrás, soubemos dessa dupla. Ficamos chocados com o que vimos. Não são nem mesmo resquícios daquelas mulheres que (en)cantaram em todos os programas de televisão, que tiveram suas músicas executadas em todas as rádios... É como se elas nunca tivessem existido. Portanto, Emicida tê-las mencionado daquela forma e com aquele significado é de muita sensibilidade e perspicácia, ainda mais sabendo que tem muita gente que quer seguir o caminho da arte que curte seus raps, pessoas talentosas que apenas precisam de uma chance para mostrar seu valor e que certamente teriam vida bem mais longa que as gêmeas cariocas.
O duro é saber que certamente a mesma canalhice feita à Pepê e Neném se repete em inúmeros artistas que foram criados natimortos, com prazo de validade pré-determinado. Temos certeza que se Gaga não tivesse sido mais esperta em termos de gestão de sua fama estaria na mesma situação, ainda que muitos afirmem que a gringa "tem mais talento" que as brasileiras. Pois nesse ambiente, onde o efêmero ganha milhões com um vídeo no Youtube, nem mesmo o talento importa. As cifras valem mais que qualquer boa rima...


Sem açúcar

Não, não se trata da canção de Chico Buarque, interpretada magistralmente por Maria Bethânia em 1975. É o subtítulo de um texto muito bacana de um de nossos leitores, o sempre objetivo Ronaldo Russo Marcelino. Uma reflexão bastante lúcida sobre o momento atual e que nos convida à reflexão desse triste momento que a educação no Estado do Rio de Janeiro está passando.

Olá, caros amigos professores!
A situação da educação no Estado do RJ - e possivelmente em boa parte do país - chegou a um ponto em que é urgente a criação de um fórum permanente envolvendo todos os órgãos da educação e a sociedade civil para discutir o que se espera afinal da Educação na formação do cidadão. Não é possível olhar para o que acontece atualmente e achar que isso "depois resolvemos". Os desabafos que temos lido e/ou escutado nas redes sociais, não só o de vocês mas também o de muitos outros, ilustram o processo de descaso de boa parte da sociedade para com a Educação.
Fui professor do Estado apenas por cinco anos, mas o suficiente para perceber como o sistema educacional está fadado ao fracasso. Ele é feito para dar errado. Eu olhava para o lado e me perguntava por quanto tempo continuaria naquele processo. Nenhuma sociedade que leve a sério a educação permitiria que uma greve chegasse a três meses sem nenhum esforço para querer resolver o problema.
Todos perdem com essa longa greve, mas ela só mostra como a educação pública é vista pela sociedade. Por que uma greve de gari não dura nem um mês? Porque ela afeta a todos. E a educação, também não afeta a todos? A sociedade age como se as crianças e os jovens sem uma boa formação não fossem se transformar em um baita problema social no futuro. Parece que ignora que a Escola é a primeira ou única porta de entrada na cidadania - para não falar em civilidade - que muitas pessoas terão oportunidade, uma vez que a sociedade é cada vez mais excludente.
São percepções óbvias, e por isso é que assusta o descaso. O Estado joga com o tempo para a opinião pública ficar contra a greve e os professores. Mas poucos da sociedade civil - não espero isso da grande mídia - colocam o dedo na cara dos responsáveis para exigir uma solução. Se não tem como dar aumento, abram então o orçamento para provar. Não há o que esconder, o recurso/dinheiro é público.
Sei que a pauta de reivindicações é longa. Mas pra que resolver logo? Quem perde com isso? O governo faz esse cálculo. Mas, infelizmente não será com greves longas, fechamento de ruas e ocupação de escolas que a educação pública vai atrair positivamente a atenção de todos. Eu também não sei como fazer melhor, mas vocês não acham que estes recursos já estão sendo contraproducentes?
Eu lembro que aquela greve longa do governo Moreira Franco em 1988 foi o começo do processo de desprestígio que foi relegado à educação pública e aos professores. Depois daquilo, a educação pública nunca mais foi a mesma e os governantes perceberam que a sociedade não se escandalizava com aquilo.
Por isso, meus caros resistentes, é preciso criar outro paradigma de reivindicação e negociação. Os professores sempre estarão do lado mais fraco nas negociações, até porque a classe é grande, complexa e heterogênea. E isto dificulta muito afinar o discurso de classe, dando margem para o fogo amigo. A começar pela direção que parece ter pavor de voltar à sala de aula e perder a gratificação. Por isso, vejo como avanço a aprovação da eleição para direção com mandato fixo. Quem é professor sabe o quanto a direção se borra do Secretário e faz qualquer coisa pra ficar no cargo.
Enfim, amigos, desculpem pela mensagem longa. Como disse, é preciso um fórum permanente de discussão. Teríamos que criar um grupo só pra discutir os problemas da educação. Até quando a sociedade vai ignorar que, se alguém não tem nada, nada poderá oferecer? E o pior, o instinto de sobrevivência a levará a tomar o que estiver pela frente. É a lei da natureza, depois não adianta lamentar. Abraços a todos.


E pra fechar...

Finalizamos nossa malacanews mês com um breve comentário sobre a chacina ocorrida em Orlando (EUA) neste fim-de-semana. O acontecimento em si não poderia ter sido mais trágico, triste, revoltante. Porém, como o ditado ensina, sempre pode piorar.
Pois eis que alguns resolveram usar as redes sociais para desfilar as mais pavorosas sandices sobre os fatos. Desde apoio à chacina até comparações esdrúxulas do tipo "Quando são lésbicas, ninguém chora igual". Isso mesmo que vocês leram. Sem tirar vírgula.
Por isso, nos posicionamos exatamente como fizemos à ocasião do ocorrido com a menina no Morro do Barão. Ou seja:

As panelas seguem em silêncio, tendo sido substituídas pelo "Ah, mas ela..." em favor do estupro e de quem estupra e agora caminhando lado a lado com o "sou contra matar gays, mas...", em defesa do extermínio LGBT.

Simples assim. Ponto final.



5 comentários:

Unknown disse...

Excelente meu caro Sanctus. Infelizmente o mar não está pra peixe, tem que ser peixe esperto para sobreviver intacto aos "peixes de bem". Está difícil e você mostra o mosaico que montou como essas coisas podem estar ligadas, chacina em boate gay, falta de diálogo com a categoria dos professores e fiascos da CBF. Impressiona como podemos estabelecer conjecturas entre estas posições conservadoras. Vamos que vamos, a luta continua e de trincheiras. Parabéns por manter um foco de resistência.

Gustavo Maio disse...

As panelas continuam em silêncio e o movimento FORA MARANHÃO também. Só Cunha é corrupto? Quero ver os vermelhos pedindo a saída de Maranhão.

Gustavo Maio disse...

Donde se conclui: o problema não era a corrupção, mas sim a figura de Eduardo Cunha na Presidência da Câmara. Por que será?

Diogo disse...

Mestre Jeferson e prezados, salve!!!

Excelente os temas do “Malaca”, versão sobre a atualidade polêmica de hoje mesmo. Acerca disso, comentários:

- Mestre Sanctus, falaste de “leifertização”, e cito um fato pioneiro em gerar essa tendência de “aproximação”: a bialização, alusão que criei para Pedro Bial. Note que até antes de 1991, Bial estava trilhando caminho como repórter global na cobertura da Guerra do Golfo, ao lado de Sílio Bocanera. Parecia seguir uma linha promissora que o levaria a mega correspondente da Platinada no exterior. Mas no ano seguinte, eis que ele aparece garotão transmitindo de forma pueril o Rock in Rio de Medina em 1991, soltando umas “dejavunices” patéticas, como comentar as marcas de biquíni que Lisa Stansfield apresentava no palco depois de pegar um sol carioca. Lamentável. E o pau da barraca seria chutado em 2002, quando ele se tornaria apresentador do BBB, e chafurdaria em filosofias que só ele entende, como via de cativar o público dessa atração. Esse foi um marco terrível, em que repórteres sérios, e quem sabe promissores, se tornariam ora fofoqueiros de plantão, ora discorredores de asneiras, ora detentores de análises simplistas. Acredito que Leifert (que deve ter sido um jornalista razoável), contaminado pela ambientação cultural terrível de hoje, e claro pelos insumos promocionais da Vênus Iluminatti, esteja hoje contextualizado nessa linha.

- Permita-me agora a explanação, pois no grupo do CEFET, eu já fiz a observação, mas não sei se aqui: o primeiro culpado intelectual do 7x1 foi o Dunga!!! Explicando: “Selenikismos” a parte, ainda havia uma cara de futebol brasileiro no combinado da CBF que disputou os Mundiais de 2002 e 2006. Mas quando Dunga assumiu pela primeira vez a seleção, ele começou matando a identidade do time: não havia mais necessidade de habilidade ou técnica, apenas de um mínimo de cérebro e muita “disciplina” tática. Ainda tentava dar crédito ao seu trabalho, mas desisti após a convocação para a Copa de 2010 (onde o único talento no meio-campo era o Kaká, os demais eram marcadores, ou marcadores que sabiam chegar na frente, tipo Júlio Baptista), fizemos uma Copa do Mundo fraca, mas o saldo foi muito pior: não formamos uma base, poucos com experiência em Copas, e o time que disputou a Copa de 2014 não era fraco, mas era totalmente diferente do time que esteve na África do Sul, composto de jogadores jovens, não acostumados à cobrança dos torcedores. Para piorar, ficou uma impressão errada de que estávamos no caminho certo, quando Felipão ganhou a Copa das Confederações. Num processo de oito anos, a imagem do temido futebol brasileiro virou motivo de chacota.

E então, a CBF, para tentar salvar a imagem da selenike traz para dirigir o time... ninguém menos do que quem começou a confusão atual de nosso futebol!!! Tinha como não dar errado? Desde 2014, o Brasil só acumulou vexames: primeiro, a eliminação para o Paraguai nas quartas-de-final da Copa América do Chile (e onde quase não passamos de fase pela primeira vez). Agora, sem comentários...

Enquanto não mudar a direção da CBF, pouco adianta mudar de técnico para melhorar o futebol brasileiro atual... mas que a coisa já está feia o suficiente com o técnico, isso está...

Para registro, observação de Paulo César Caju: antes jogávamos com “artistas”, agora jogamos com “gladiadores”...

Diogo disse...

- Eu seria falso se dissesse que conheço “as meninas”, então prefiro não entrar muito no assunto... Mas é uma tendência de fato nociva, essa de tirar o apoio de artistas independente do nível de talento, focando somente na parte estética e comercial. Muitos artistas excelentes se perderam por esse motivo, notadamente no mundo do samba...;

- Mestre, confesso não ter uma opinião fortemente formada acerca da greve na educação. Motivos:

*é óbvio, as condições de ensino para os docentes atualmente são patéticas, sem discussão (na realidade, ainda não vi um pedagogo sério sequer discutir algo importante e novo: como melhorar as condições de trabalho para os docentes nas comunidades mais carentes? Alguém para opinar?);

*no geral, a sociedade carioca está perdendo (e não ganhando) com os Jogos Olímpicos, no que se refere a investimentos e desenvolvimento. Verbas de investidores, que deveriam ser aplicadas em educação, saúde, segurança e geração de empregos, estão sendo aplicados em vias de mão única de transporte, em excessiva propaganda e em segurança dos turistas visitantes!!! Somado a situação atual do Estado (que declarou moratória) por falta de repasse para obras, pergunto: há verba para melhoria das condições dos nossos professores?;

*some-se a isso um último fato ignorado: uma discussão interminável sobre a ação dos nossos educadores, que gerou o projeto “escolas sem partido”, em si inútil, mas que só existe porque, de fato, vejo mais ativistas que professores nas redes públicas. Não foi o caso do professor da carta, bem lúcido frente à realidade, mas sem o fim dessa discussão, reorganizar os docentes na luta por seus direitos é bem mais complicado...

- Não há o que discutir no caso do massacre na boate de Orlando: invadir um lugar em que não se foi convidado, em que as pessoas não estão perturbando a ordem, e onde se realiza uma execução, sem direito a defesa, só podem ter nomes como: ASSASSINATO, CRIME DE ÓDIO, BARBÁRIE, AÇÃO PRÉ-CIVILIZATÓRIA... não há como se compactuar com esse circo de horrores...

Até a próxima, mestre!!! E aguardando possíveis críticas...