enquanto há samba, a festa continua
Salve salve galera!
Sim, sabemos que
é um tanto quanto tardio tocar neste assunto, porém segue uma análise sobre o
carnaval na Sapucaí, feita pelo nosso
querido Diogo Jerônimo.
Ele já tinha me
pedido pra falar sobre o enredo da Imperatriz
Leopoldinense (muito polêmico por sinal e tal polêmica se refletiu em sua
avaliação, como vocês lerão), porém não tivemos tempo hábil nem inspiração para
tal. Assim, pedimos ao amigo um parecer para poder publicá-lo com os devidos
créditos evidentemente.
Assim, é com
imenso orgulho e prazer que abrimos mais uma vez um espaço para nossos leitores
discorrerem suas impressões e esperamos que os leitores gostem do texto. Como
de hábito, deixem seu comentário ao fim da leitura a fim de entendermos os
fatos e espalhem o link por aí.
Aquele abraço moçada!!!
SALDO FINAL DA
APOTEOSE
Diogo Jerônimo*
Salve aos mestres!!!
Em meio a
intervenções da Rede Horror de Televisão, polêmicas (inevitáveis) e tentativas
nem sempre saudáveis de inovação, as escolas de samba da terra de São Sebastião
pisaram novamente a Marquês de Sapucaí. Entre enredos e desfiles chamativos,
algo novo para o espetáculo: acidentes, que se abateram sobre o público, e sobre
as próprias agremiações, já evocando uma recomendação do INMETRO acerca de
segurança para os próximos carnavais. Sobre esses, havia ainda algum ânimo para
a continuação do espetáculo? As burocracias para a segurança dos carros foi
atendida? Não será talvez uma boa hora para repensar o gigantismo das
alegorias, comuns nos desfiles dos últimos anos?
Enfim, esse
metido a observar (e curtir) esse grandioso espetáculo passa suas impressões do
que assistiu. Ao contrário do ano anterior, os desfiles tiveram pontos altos e
baixos nos dois dias, de forma que acho melhor particularizar pelas
apresentações:
- Paraíso do
Tuiuti: A agremiação de São Cristóvão falou de forma colorida dos 50 anos da
Tropicália. Passou com bom samba, Wantuir soltando a voz, boas alegorias, mas
prejudicada por ser a primeira escola do primeiro dia. Ainda pesou contra a agremiação
os problemas no último carro, que além do acidente, estragou a evolução final;
- Grande Rio: Falar
de Ivete Sangalo remete a grande quantidade de artistas globais e celebridades,
e ao fato da homenageada ser a maior representante do movimento que maculou as
origens do samba nos anos 1990. No fim, a escola de Duque de Caxias passou
solta, alegre, elétrica como o trio, mas com samba extremamente acelerado que
afetou a bateria, alegorias grandiosas, porém óbvias, e uma velada tentativa de
comprar os jurados pela simpatia inesgotável da baiana. Muito barulho, pouco
samba. Passou bonita, mas o desfile das Campeãs foi um exagero;
- Imperatriz: O enredo mais polêmico e discutido do Carnaval desse ano, acerca da intervenção
do agronegócio nos hábitos, costumes e mesmo no habitat dos indígenas da
reserva do Xingu (lembrar que uma exaltação ao agronegócio foi enredo da Unidos
da Tijuca em 2016, na homenagem à cidade de Sorriso). Cahê Rodrigues trouxe
para a avenida alegorias imponentes, harmonia sincronizada, poucos buracos em
nível de evolução. O samba foi ótimo, e Lollo mostrou que a bateria da
Imperatriz volta a impor respeito. A nota baixa, talvez o intérprete (Arthur
Franco), que apesar de bom, estava tímido (Estandarte de Revelação?), seu canto
quase sumindo entre os demais intérpretes da escola. Mas no geral, a escola
merecia voltar no desfile das Campeãs;
- Vila Isabel: O enredo sobre a presença negra na música foi até bem contado, mas faltou maior
capricho na organização e detalhes. A escola cantou bem, mas o samba (um dos
melhores de 2017, com passagens emocionantes) pareceu sumir no meio do desfile,
apesar da ótima bateria. As alegorias eram impactantes pelos efeitos, boas
fantasias, mas ainda perdendo para as grandiosas dos desfiles de 2012 e 2013.
Foi um enredo que começou empolgante, mas sem fôlego no fim. A Vila anda
precisando de nova reformulação;
- Salgueiro: Talvez eu tenha ficado mal acostumado com o hipnótico desfile de 2016, mas
esperava mais da Academia. As alegorias tinham impacto pelas cores, mas quando
não assustavam (falar da Divina Comédia de Dante é difícil e perturbador mesmo),
não tinham a picardia e boa elaboração do último carnaval. As fantasias não
comprometeram, mas igualmente sem a provocação irreverente de 2016. O samba
simplesmente não pegou, apesar de que a harmonia funcionou e a bateria de
Marcão brilhou como sempre. O terceiro lugar talvez tenha sido um bom presente
para a agremiação;
- Beija-Flor: Igualmente esperava mais da princesa nilopolitana, mas por motivos diferentes:
a escola, tradicional pelo ajuste de suas apresentações, misturou excesso de
cores em seus setores, dificultando a leitura do enredo indígena sobre Iracema
de José de Alencar. Sem a presença de alas, pareceu por instantes que a escola
estava mal vestida, com alegorias óbvias. Salvou-se pela bateria, pelo grito da
comunidade, por Neguinho da Beija-Flor, e claro, pelo seu excepcional samba,
com razão, o Estandarte de Ouro de Carnaval;
- União da Ilha: Ao lado da São Clemente, Imperatriz e Mangueira, o melhor enredo desse carnaval.
E com boa inovação, a Tricolor passou como nunca vi: alegorias enormes, bem
acabadas, leitura de enredo simples (inédita abordagem dos enredos afro, sobre
as origens do tempo nas tradições bantus de Angola!!!). Ao lado do belíssimo
samba, o refrão poderoso (e de belo significado),o intérprete Ito Melodia
sempre forte, a Ilha sacudiu a Avenida. Não fosse a complicação com o último
carro, que "matou" a evolução e gerou correria para evitar o estouro
de tempo, poderia ter voltado no desfile da Campeãs;
- São Clemente: Não houve desfile mais injustiçado nesse Carnaval. A escola de Botafogo não empolgou
a plateia, mas estava claro que a comunidade tinha o samba na língua, a
harmonia excelente, ajudada pelo bom intérprete e pela bateria firme. Na
estética da mensagem sobre os golpes na realeza francesa, nova aula de Rosa
Magalhães, lembrando seus carnavais na Imperatriz dos anos 90: fantasias
luxuosas, alegorias bem acabadas e brilhantes, e o que é mais interessante,
carros alegóricos não gigantescos, que facilitaram a evolução da amarelo e
preto. O resultado foi um desfile dos mais sem erros, compacto, componentes
brincando o Carnaval... merecia retornar ao menos no desfile das campeãs. Como
diferença de desempenho com a União da Ilha, o fato de ter justamente desfilado
sem erro visível;
- Mocidade: Um
dos dois desfiles de fato preparados para ganhar o Carnaval 2017. A
Verde-e-Branco de Padre Miguel retornou ao seu estilo vencedor: escola
brilhante, carros enormes, suntuosos e bem acabados, com fantasias de alto bom
gosto para falar do Marrocos. A comissão de frente, pela sacada do Alladin
fugindo no tapete voador via drone, foi um show à parte (mais criativo que os
empregos de drone anteriores). No que se refere à musicalidade, um adendo: foi em
minha modesta opinião, com sobras a melhor interação musical (intérprete +
samba + bateria + harmonia) que pisou a Sapucaí esse ano. Wander Pires mostrou
que é ainda um dos melhores intérpretes, a bateria de Padre Miguel seguindo
suas tradições, o samba gostoso de cantar junto com a escola, que entrava e
cantava em uníssono, sem nenhum timbre fora do lugar. A estrela da Vila Vintém
de volta ao seu brilho singular!!! Vivendo um sonho das mil e uma noites!!!
Poderia perfeitamente ter levado o título;
- Unidos da
Tijuca: Um desfile para se esquecer da escola do Borel. Fora o acidente que
causou problemas para a escola (e que gerou uma parcialidade escandalosa dos
jurados e mesmo da LIESA, vide a virada de mesa), o enredo acerca da música
americana já tinha tendência ao cansativo. O samba não ajudou por isso (a Vila
Isabel foi mais feliz), e a perfeição técnica de outros anos foi totalmente
comprometida pelo acidente, quebrando evolução, harmonia e no fim, atrasos que
tiraram décimo da escola. Para se esquecer...;
- Portela: Talvez
seja polêmica minha colocação, mas lá vai: apesar de muito feliz pelo fim do jejum
da escola de Clara Nunes,o desfile desse ano perde em quase todos os quesitos
aos desfiles entre 2014 e 2016. A bateria de Nilo Sérgio sempre funcionou em
alto nível, mas a harmonia não pareceu tão entusiasmada. O samba foi um dos
mais cantados do ano, mas com exceção do refrão forte ("Quem nunca sentiu...")
o restante do samba pareceu cansativo na Avenida (será que Gilsinho de fato era
"segurado" pelo Wantuir?). Por outro lado, as alegorias nem estavam
tão revolucionárias como em 2016, e nem de acabamento tão perfeito quanto em
2014. Enfim, pareceu que a Majestade do Samba se aproveitou dos erros mais
frequentes de suas concorrentes para, no "não erro", crescer na
apuração, e encerrar o incômodo jejum ao fim, falando sobre os rios. Sob esse
aspecto, parabéns linda Portela!!!;
- Mangueira: Ao
lado da Mocidade, o desfile desse Carnaval feito para ganhar. O samba
lindíssimo, a interação da bateria e da harmonia sempre robusta, Ciganerey
novamente inspirado. E um desfile beirando entre o emocionante e o próximo da
perfeição: alegorias ultra evocativas do enredo sobre a religiosidade e
misticismo do povo brasileiro, sem intolerância, com belíssimas imagens,
fantasias riquíssimas e bem elaboradas (ótima surpresa o carnavalesco Leandro
Vieira!!!). Algumas partes desse desfile podem perfeitamente ser marcadas como
dos melhores momentos da Estação Primeira nesse século. Uma pena os erros
pontuais, poderia levar o caneco, mas no quesito emoção e religiosidade, a
Mangueira marcou os corações nesse Carnaval. Valeu Verde-e-Rosa!!!
No mais, para
além do Especial:
·
Felicidade pela
volta do sempre tradicional Império Serrano (e que volte para ficar!!!);
·
Reconhecimento a
Unidos de Padre Miguel, como escola postulante ao Especial (já deveria ter ido
lá, talvez sem o acidente com a porta-bandeira, tivesse chegado esse ano);
·
Ótimos enredos da
Viradouro e da Estácio de Sá, mas que poderiam ter caprichado mais nos sambas
(a Estácio, no intérprete também);
·
Admitamos: quantas preciosidades de
samba-enredo não nos brindou o acesso A!!! Das escolas que acompanhei, posso
falar que me empolguei com as composições de Império Serrano, Unidos de Padre Miguel, Império da Tijuca e Acadêmicos do Cubango. E o que
é o grupo de Acesso, pela força das comunidades, cada vez mais tem a cara do
que um dia foi (e deveria voltar a ser) o Grupo Especial.
No mais, fico no
aguardo para as opiniões dos mestres sobre os desfiles desse ano. E viva às escolas
de todos os acessos!!!
Li uma frase muito boa de um presidente de agremiação
dos acessos inferiores: "Hoje, é campeão quem consegue colocar sua escola
para desfilar!!!"
Viva as
comunidades, viva o que ainda é o samba de raiz!!!
Abraços aos
mestres!!!
*Diogo
Jerônimo é estatístico
5 comentários:
Muito bom. Ainda não vi todos os desfiles mas gostei muito do desfile dá Uniao dá Ilha e achava que ela chegaria no desfile das campeãs.
A Mocidade eu vi um pouco e achei muito bom também (é um tema que, de certa forma, tem suas combinações com o carnaval).
O carnaval tem restaurado um pouco seus vínculos com a cultura negra (que estavam esquecidos nos últimos anos)
Vou rever o desfile do Salgueiro. O tema me pareceu interessante.
É... Rede Globo de Televisão.... Nota zero
Gostei de ouvir no rádio os sambas do Grupo A durante o desfile da unidos de Padre Miguel e Inocentes de Belford Roxo, gostei muito do samba da Inocentes
Diogo comentando carnaval é covardia. A melhor análise que li.
Deixo uma pergunta: o que esperar de Paulo Barros na vila?
Mestre e professor Coitinho, acho que será ótimo para a Escola de Noel, que necessita de uma sacudidela (o desfile desse ano revelou isso). E ele é a pessoa certa: não precisa provar mais nada, já superou desafios extremos (venceu carnavais pela Unidos da Tijuca como escola de médio/pequeno porte, e devolveu a dignidade portelense com o título desse ano). Mas admito que me soou surpreendente a saída de Barros da Portela, uma vez que a Majestade do Samba no mínimo pretenderia defender o título daqui a um ano. E a mudança foi radical, embora de alto nível: sai a inovação de Paulo Barros, entra o estilo rico, estiloso mas tradicional de Rosa Magalhães. E as agremiações em movimento: após longo casamento salgueirense, Renato e Márcia Lage na Grande Rio. O Carnaval 2018 já começou!!!
Salve aos mestres!!!!
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