Alguns fatos
Salve galera!
Depois de um
mês um tanto quanto cheio, sem ter tempo de realmente pensar em algo pra
escrever, eis que voltamos pra fomentar o debate em nosso democrático espaço.
Como sempre, esperamos muitos comentários dos leitores e caso seja o caso,
espalhem essa edição pelos quatro cantos do planisfério.
Vamos aos
fatos!
Dedetizando
os transportes?
A prisão de Jacobarata e seus blue caps na semana passada foi emblemática, embora muitos não
acreditem que essa quadrilha fique muito tempo com os pulsos algemados.
Tudo que o Ministério Público Federal disse na
entrevista coletiva de ontem foi apenas a confirmação do que já denunciamos
anos a fio:
1.
Os ônibus que circulam na cidade estão
defasados e até agora há linhas que nunca tiveram carros com ar condicionado (e
olha que havia um prazo para isso, que era toda a gestão de Dudu Paes). E ainda
há a seletividade das linhas:
dependendo dos bairros abrangidos, os ônibus têm um design melhor, oferecem mais conforto e têm uma freqüência maior
que em outras linhas, ainda que sejam da mesma empresa. A cor cinza de toda a rede de ônibus facilita
e muito para os empresários, pois é um tom que mascara as imperfeições dos
veículos e dificulta a identificação por parte dos passageiros. Algo
proposital, pois fica complicado dizer qual foi o veículo pelo número de ordem
(escrito num cinza mais escuro e complicado de se discernir).
2.
A função
dupla dos motoristas tornou a prestação de serviços muito mais morosa para
passageiros e mais nociva aos profissionais, que tem-se afastado das funções
com mais freqüência, na maioria dos casos por estresse. O aumento de acidentes no trânsito já havia sido
denunciado, mesmo assim a extinção da função de cobrador segue de vento em
popa. É possível contar nos dedos as linhas que ainda mantém esse profissional,
assim como dá pra se ter uma idéia da economia que a RioÔnibus tem todo mês
deixando de contratar funcionários.
3.
A implementação do BRT retirou muitas linhas das ruas, piorando a mobilidade urbana,
uma vez que a quantidade de carros articulados é pequena para a quantidade de passageiros,
que chega a fazer fila nas estações mais movimentadas. Aliás, tanto os ônibus
quanto as estações foram subdimensionadas
e tal fato chegou a ser admitido pela Prefeitura, depois que a Transoeste foi
inaugurada. Evidente: mal começou a circular e as linhas regulares da região
sumiram. Nos horários de pico, o terminal Alvorada e as estações de integração ficam
caóticos com milhares de pessoas querendo embarcar nos ônibus e poucos carros
para dar conta. E em determinadas regiões (como onde nós moramos), linhas
alimentadoras em muitos casos mais matam de fome e de raiva que realmente
integram os bairros com o BRT.
4.
A própria idéia do BRT Transbrasil, a nosso ver, é um absurdo sem tamanho e que prevemos
que piorará ainda mais a questão da mobilidade urbana na cidade. Em verdade,
esse novo BRT evidencia o poderio desse cartel maldito, que tem lobistas fortes
em todas as esferas de poder, como bem descrito pelo MPF. Pois se a idéia é
reduzir o número de ônibus e facilitar o trânsito na principal avenida do Rio,
por que não se põe um transporte ferroviário no lugar? Transporta mais pessoas,
é menos agressivo ao meio-ambiente e muito mais eficaz. A alegação de que custa
caro aos cofres públicos é muito discutível, se observarmos as cifras
movimentadas pelos cretinos desse cartel capitaneado pelo inseto asqueroso dos
transportes do Rio, e além disso é um investimento que se paga com o passar do
tempo. O custo-benefício é alto. Porém como atingiria em cheio o bolso da
RioÔnibus, a Prefeitura nem cogita isto. Basta lembramos que o traçado do VLT
foi modificado nos arredores do Aeroporto Santos Dumont sob a alegação de que
"prejudicaria o serviço de ônibus na mesma região". Tadinho dos
insetos...
Sendo assim,
embora duvidemos que aqueles canalhas apodrecerão no Ary Franco, não deixa de
ser algo notável vê-los sendo detidos e todo o esquema sendo posto às claras
pra população. Resta agora à população se informar e começar um movimento a fim
de termos um serviço público de qualidade, já que não é pouco o que se arrecada
de impostos com esse fim, fora o valor das passagens, que é alto, se
observarmos o custo-benefício.
A
gente não se vê na globbels
Onde exatamente
termina o esporte e começam os negócios? Temos feito essa pergunta em
rodas de amigos, em redes sociais, porém até agora não conseguimos chegar a uma
conclusão satisfatória.
Acompanhamos
todos os anos as competições de futebol
no Brasil. E nosso desagrado somente aumenta por causa daquilo que clubes e
federações nos oferecem a preços exorbitantes, com um custo-benefício
baixíssimo.
Praticamente
todos os campeonatos disputados no Brasil, não importam se nacionais ou
estaduais, estão sujeitos aos caprichos da emissora que detém o maior número de
direitos de transmissão no país. A
globbels com sua política monopolista está vencendo a guerra com sobras,
apesar de esparsas batalhas vencidas pela concorrência. E o mal não está apenas
na questão do pay per view: mesmo
aqueles torcedores que têm interesse em ver seu time de coração in loco, são prejudicados pelas datas e
horários péssimos em que se dão os jogos, tudo para atender aos interesses da
Vênus Platinada porque a prioridade dela é sua nauseabunda grade na TV aberta.
Quando analisamos
profundamente essa questão, lembramos do que o então governador do Rio Leonel Brizola determinou nos anos 1980
em relação ao carnaval das escolas de samba na Sapucaí. Ele bateu forte na
globbels no tocante às transmissões, dizendo que o espetáculo era de interesse público e que por isso não
poderia haver privilégios para emissoras quaisquer, nem mesmo para a TV Manchete, que conseguiu o direito da
transmissão (por sinal, de excelência que deixou saudades).
Brizola sempre
dizia que se houvesse monopólio nas transmissões, o espetáculo seria
devidamente prejudicado porque os interesses da emissora detentora sempre viriam na frente. E nesse caso
específico, era evidente que sua preocupação era os interesses da sua maior
desafeta, a maior rede do Brasil. Dito e feito, pois hoje em dia os desfiles
têm tempo cada vez menor, sambas
cada vez mais corridos (e de baixa
qualidade, diga-se de passagem) para atender às necessidades dos desfiles e até
mesmo a globbels se reserva o direito de não
passar as primeiras escolas, a fim de privilegiar seus anunciantes via
novelas, como ficou claro em 2015. E assim, as escolas de samba, tendo de
atender a essas demandas globais, têm seu trabalho de um ano inteiro
vilipendiado, com uma fortíssima
intervenção externa, ainda que seja muito bem disfarçada. Ou alguém pensa
que essa postura da globbels não interfere nas idéias que surgem nos barracões
e afins? (E olha que nem mencionamos casos de escolas tidas como "as
escolas da da plim-plim".)
Observem como
no futebol acontece algo análogo. Pois assim como a Liesa aceitou
tranquilamente essa situação (contando com o silêncio conivente de suas
afiliadas), a CBF, as federações estaduais e os clubes nada dizem em relação a
descalabros como o desmantelamento das tabelas (tanto em datas quanto
principalmente em horários) em favor da programação da emissora dos marinhos:
jogos ao meio-dia de domingo (olha
que delícia num país tropical como o nosso!); jogos na segunda-feira em horários nada interessantes para torcedores; e nenhum jogo transmitido "de
graça" aos sábados. Evidente: os programas do casal 20 da coxice
televisiva (Angélica e Tucanuck) são mais rentáveis para a emissora.
Talvez a
diferença resida apenas no fato de que as escolas de samba chiaram quando se
deram conta de que corriam o risco de não serem assistidas ao vivo pelos
telespectadores, o que fez os patrocinadores desistirem de injetar dinheiro.
Aliás, já há uma turba intensa no meio do carnaval porque a grana que era
injetada no espetáculo foi cortada drasticamente e já tem gente ameaçando não
fazer carnaval ano que vem. Já os presidentes de clubes se mantêm calados,
afinal já pegaram cotas adiantadas da globbels até 2020 e nenhum deles têm
condições de devolver o dinheiro, se fosse o caso de haver algum protesto nesse
sentido. E nem faria sentido essa devolução porque não se vê nenhum tipo de
movimento por parte dos jogadores em relação a jogar meio-dia (num sol de 45
graus no Rio, por exemplo) e os torcedores, alijados da discussão nem tem voz.
Pior: são convencidos (por uma campanha velada da mídia, nós já percebemos) de
que ver jogos às 11 horas é bom "pra reunir as famílias em casa ou no
botequim na hora do almoço", como quem visa constranger clubes e jogadores
que até pensam em expor seus pontos-de-vista em termos da organização dos jogos
e, principalmente, da saúde dos jogadores. Reunir
famílias... Ou seja, estádios não são para torcedores e sim para famílias...
Falando nisso,
só pra marcarmos território mais uma vez...
Não se muda o perfil de uma torcida de
arquibancada da noite pro dia. Majorar preço de ingresso e transformar estádio
em arena não quer dizer nada. Só haverá gente mais preocupada em filmar a
cobrança de pênaltis e fazer selfiezinha estilo "amo muito tudo
isso". A Copa do Mundo no Brasil mostrou muito bem o que acontece quando
se transforma torcida em plateia.
Vimos o tape do 7 a 1 naquela ocasião e
concluímos que se aquele povo fantasiado e malacabado que freqüentava as gerais
dos estádios estivesse no Mineirão no lugar daquela gente asséptica de
verde-e-amarelo, seria um clima muito diferente. Torcedores sabem cobrar de jogadores
em campo e cobram pra valer. No terceiro gol, o estádio se transformaria num
caldeirão insuportável e se bobeasse uns 4 ou 5 daquela selenike teriam
abandonado o jogo com medo e vergonha...
Por outro lado,
os próprios clubes (em especial os que se dizem "os mais populares")
aprovaram essa concepção de "arena" e a mudança de perfil, pois
afastaram o povo da geral de seus jogos, empurrando-os para os botequins (já
que nem todo mundo pode pagar um pay per
view), deixando que os gritos de gol sejam substituídos por flashes de
smartphones...
E assim
arquibaldos aos poucos são eliminados do cenário de futebol, caminhando a
passos largos para sua definitiva extinção, a exemplo do que ocorreu aos geraldinos.
Vasco
da Gama, a sua fama vai se desfazendo
Em vista do que
aconteceu no sábado após o jogo que já foi chamado de "Clássico dos milhões",
não temos como deixar de comentar sobre o que aconteceu após a partida, que
levou milhares de um estado de euforia ao de medo.
Assistimos num
botequim o Mais Querido vencer o da Colina por 1 a 0, gol de Everton. O jogo em
si foi até razoável, mas num todo tecnicamente fraquíssimo – como tem sido
infelizmente quando os dois se encontram nos últimos tempos. Muita luta, muita
disposição, mas futebol-arte quase inexistente. São Januário estava bem cheio e
até o apito final nada indicava que o estádio se transformaria numa praça de
guerra.
Sem maiores
explicações, sem nenhuma câmera que tivesse registrado onde e quando exatamente
começou, repentinamente uma confusão generalizada tomou conta do estádio. Tentativas
de invasão, arremessos de isopores e objetos menores no campo, correria, gente
tentando invadir as (ou se proteger nas) cabines de rádio e TV...
E foi nesse
pandemônio que rojões e bombas foram usados como armas pelos "torcedores".
Esse foi o primeiro sinal de alerta que chamou a atenção: como foi possível
tais artefatos em posse daquela gente? Lembrando que há uma norma proibindo o
uso de fogos, sinalizadores, etc., justamente por conta das tragédias que já
ocorreram não apenas no Brasil, mas pelo mundo afora, seja por acidentes, seja
por serem armas mortíferas na mão de quem não presta. A delegação do Fla e os
poucos urubus que foram torcer devem ter demorado muito pra sair de vez de São
Janú, talvez por volta das 21 ou 22 horas. Não tinha como...
Na confusão, o
estádio foi sendo vandalizado pelos "torcedores", que arremessaram
grades de proteção, cadeiras, quebraram portas, vidros, etc. Era como se uma
equipe de demolição tivesse entrado em São Januário a fim de implodi-lo. E se
analisarmos bem, como comentaremos mais adiante, esse deve ter sido o objetivo.
No meio do
tumulto, que as TVs transmitiram ao vivo e a cores, um óbito, crianças sendo
carregadas para ambulâncias, pessoas já feridas, outras detidas, gás de pimenta,
tiros e uma balbúrdia que foi contida quando a tropa de choque chegou.
Bom, passada
toda essa confusão, o que podemos dizer de tudo isso? Simples. Que como amantes
do esporte bretão, não podemos deixar de
lamentar profundamente o que aconteceu em São Januário. Que mais uma vez o
Clube de Regatas Vasco da Gama é vítima de pessoas que certamente não são
torcedoras, uma vez que não faz sentido que uma torcida seja capaz de danificar
o próprio patrimônio. Que a instituição, que tem uma história de extrema
relevância no cenário esportivo, tenha sido atacada de forma tão inclemente,
sem que houvesse o mínimo de RESPEITO.
É evidente que é
muito mais que simplesmente reduzir tudo a "meia dúzia de vândalos",
como a mídia adora resumir. [À PARTE: Não foi exatamente o caso dessa vez,
porém queremos registrar que agora é moda chamar de "vândalo" manifestante
que revida as agressões que sofre da polícia sem motivo algum (na verdade, é a
polícia agindo com a anuência do desgoverno estadual).] Todos que acompanham
futebol (e em especial os bastidores do Vasco) sabem que há uma briga política
ferrenha em curso, uma disputa sem trégua com cenas lamentáveis que apenas
apequena ainda mais o clube, que tem pagado uma conta pesadíssima como os
rebaixamentos no futebol, por exemplo.
E a gente
observa o quão triste e desleal é essa disputa quando observa uma guerra campal
no estádio daquela dimensão da de sábado. Por que torcedores entrariam em São
Januário com morteiros, rojões, etc., sabendo que algo dessa natureza
prejudicaria o clube? Só de estar em posse desses artefatos já nas dependências
do estádio, já haveria uma representação contra o Vasco porque estariam
infringindo uma norma que diz respeito a isso. Ou seja, foi proposital mesmo e
só estavam esperando o momento exato pra agir.
Arriscamos um
palpite: mesmo que o Vasco tivesse atropelado o Flamengo com um 7 a 1, o final
seria o mesmo, no caso tendo como desculpa uma possível reação de rubro-negros
ante as provocações da massa cruzmaltina. Tanto que o alvo não foi exatamente a
Nação presente em São Janú; nem mesmo a delegação do Fla, ainda que tenham
soltado rojões nela, mas ali cremos que foi "só pra constar",
"em nome da rivalidade" (como se isso fosse justificativa). Para nós,
o alvo foi outro e se chama Eurico Miranda, o atual mandatário. O mesmo Eurico
que anos atrás deixou de dar ingressos a algumas organizadas por motivos
presumivelmente de briga política. Não há dúvidas de que parte do que acontece
dentro do Vasco ainda tem um pouco daquela questão antiga, pois nunca mais
houve trégua entre "o do charuto" e essa turma.
De qualquer
forma, continuamos crendo ser um absurdo o que aconteceu e esperamos que alguma
providência seja tomada. Não que estejamos torcendo para que São Januário seja "lacrado
por 20 anos como forma de punição severa" porque isso não resolve
rigorosamente nada. Afinal de contas tantos estádios por aí continuam recebendo
jogos e brigas. Entretanto, é preciso que se apure os fatos e que os
responsáveis diretos pelo ocorrido sejam caçados – e não estamos falando dos
que depredaram o estádio. Devem ser
encarcerados os patrocinadores daquela balbúrdia, os que estavam
confortavelmente instalados em suas casas, assistindo às gargalhadas a
destruição dum patrimônio do porte do Clube de Regatas Vasco da Gama. Esses
sim teriam de ser os condenados ao Ary Franco: os poderosos de sempre, os que subjugam, os que compram a dignidade
alheia em nome sabe-se lá do quê. Elementos nocivos, meliantes de altíssima
periculosidade, gente que apavora muito mais que esses tolos sem dignidades que
promoveram o quebra-quebra.
O clube da fuzarca definitivamente não merece
isto.
E assim
encerramos essa malaca do mês. Queríamos abordar outro assunto pra fechar essa
edição, porém nos sentimos obrigados a dedicar algumas linhas ao clube de
coração do meu pai, de meu saudoso padrinho, de muitos queridos amigos e
parceiros e de tantos outros que tem como pendão a Cruz de Malta.
Existe uma
famosa sentença dum ex-presidente vascaíno (Cyro Aranha) que diz que "enquanto
houver um coração infantil, o Vasco será imortal". Pois bem, hoje os
corações infantis e adultos choram confusos, estarrecidos, indignados...
Esperamos que tais lágrimas de dor e tristeza não sejam imortais.
Um comentário:
Realmente tudo que disse o Malaca é verdadeiro;espero que o povo mude que não se deixe levar por uns poucos que querem o lucro para si em detrimento do povo.
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