... ou nada mais que um menino...
E ele conseguiu entrar pra
história. Após a defesa de Weverton na
última cobrança da seleção alemã, Neymar converteu
o último pênalti brasileiro e um tabu finalmente chegou ao fim. Pela primeira
vez em toda a sua história, o futebol brasileiro finalmente conquistou o título
que lhe faltava, após bater na trave diversas vezes com esquadras compostas por
jogadores memoráveis, entre elas alguns que conseguiram Copas do Mundo. Agora
temos uma medalha de ouro em nosso invejável currículo futebolístico.
Foi uma conquista que se
fazia necessária por muitos motivos. Entre eles, o incômodo 7 a 1 em terras brazucas, que
ainda não foi assimilado. E que não sabemos ao certo se mesmo depois dessa
medalha ainda será. O fato é que toda a enxurrada de críticas feitas ao grupo
comandado por Rogério Micale (principalmente
depois do inacreditável empate com o Iraque)
surtiu efeito. As inevitáveis comparações das performances com a seleção feminina foram também determinantes,
não temos dúvidas. Principalmente por causa do meme viralizado duma camisa da
selenike onde o menino teria riscado o nome do 10 masculino e escrito o da 10
feminina (Marta), deixando claro
quem era digna de menção.
Enfim, uma conquista prenhe
de significados.
Porém, como se não bastassem
os aspectos esportivos intrínsecos, eis que mais uma vez Neymar se envolve numa
nova polêmica. E nem estamos falando da faixa "100% Jesus" que ele
pôs após o triunfo, que estão tentando transformar num espetáculo que está muito além de
qualquer tipo de regulamento proibitivo em relações a manifestações
extraesportivas como as de cunho religioso ou ideológico. Desta vez, ele se
dirigiu a alguma pessoa que estava na platéia e desfilou impropérios porque
teria sido achincalhado no momento em que se preparava para cobrar a falta,
pondo a bola na gaveta, segundo informações colhidas em diversos sites. A
reação do futebolista dividiu opiniões: de um lado, pessoas que defenderam que
ele deveria "ter coberto a mulher ou o homem de sopapos"; de outro,
gente que enxergou "mais um estrelismo exagerado de quem não aceita
críticas".
Sob a luz de pontos, vamos
aos fatos!
Quando surgiu em 2010 com um
futebol envolvente e digno de um craque, Neymar, então um garoto de 17 anos,
era mais um caso de um garoto que surgia na Vila Belmiro com sinais de que um novo Pelé estava
surgindo. Ao lado dele, Paulo
Henrique Ganso, outra promissora joia. Estória similar à que foi contada
quando Robinho e Diego apareceram
com idade adolescente. "Os meninos da Vila".
E o engraçado é que as duplas têm uma trajetória muito parecida, pois
assim como Diego (que se machucou na final do Brasileiro de 2002, possibilitando
a aparição de Robinho neste mesmo jogo), PH Ganso teve uma contusão gravíssima
no auge e Neymar seguiu protagonizando. E os dois 10 eram apontados como as
promessas de craque, inclusive de serem o 10 que há anos o Brasil perseguia
para a seleção. Infelizmente não deu, embora eles ainda tenham sido convocados.
(Talvez a diferença seja que Diego se recuperou mais rápido, foi pro Exterior e
conseguiu jogar bem e em alto nível, ao contrário de Ganso, que não conseguiu a
exuberância inicial e patinou em oscilações no Santos e no São Paulo.)
Mas o fato é que, como o
ocaso de PH Ganso, os holofotes caíram em cima de Neymar. Tomaram logo conta do
"menino". As atuações dele continuaram sendo de muito bom nível,
porém como sempre acontece quando se elege uma celebridade para se chamar de
sua, uma hiperexposição aconteceu
em torno de sua imagem e isso começou a extrapolar o aspecto esportivo. E
as primeiras "polêmicas" em torno de seu comportamento começaram. Renê Simões foi o primeiro a
alertar os técnicos brasileiros nesse sentido: "Estão criando um
monstro!". Outros analistas esportivos haviam também comentado que toda
essa mídia em cima desse menino seria a sua maldição. Isso porque, para além de
suas características técnicas, se tratava de um jovem ainda em fase de crescimento como jogador e,
principalmente, como ser humano.
O que todos sempre deixam
claro nas análises é que Neymar tem todo o perfil dum atacante extraclasse: técnica apurada,
habilidade inconteste e poder de conclusão. Potencial ídolo, com tudo para ser
aquilo que foram Romário e Ronaldo (apenas
para ficar nestes exemplos) em termos de Brasil e mundo. Ainda está longe
deles, porém com totais condições de chegar lá. Sem nenhum exagero de nossa
parte, julgamos ser possível que alguém possa se consagrar tendo mais idade, em
verdade é como geralmente acontece. Basta lembrar exemplos de jogadores que são
freqüentemente lembrados, mas que sua excelência
foi melhor percebida depois de atingida a maturidade
(pra ficar num exemplo que pouca gente comenta, Evair foi esse caso).
Porém e infelizmente, não
houve esse cuidado no trato da jóia santista, hoje no Barcelona, enquanto ainda
estava por aqui. Ao contrário, a mídia (em especial seu mais poderoso braço, a
globbels), se apropriou de seu corpo e sua alma e agora faz o que quer. E
graças a essa falta de preparo com um garoto que se descobre o centro das
atenções e começa a ganhar grana e fama, ele mesmo também acabou se deixando
levar por isso, aceitando a condição de mero produto mercadológico, para além dos trocados ganhos com
propagandas e merchandising.
Não é de se estranhar a
quantidade de programas daquela emissora em que ele já se apresentou, até em
novelas o cara atuou. "Ah, mas Zico e outros apareciam na TV e ninguém
criticava!", lembrarão os defensores do cidadão, esquecendo-se,
entretanto, que eles eram jogadores de
futebol que apareciam na TV e não celebridades
midiáticas que jogavam muita bola. Essa é a diferença. Entendemos que o
conceito de mídia e celebridade mudou muito nesses últimos anos, porém não
cremos que o suficiente para que não se possa separar o astro em campo do famoso na tela...
E ao aceitar o papel de mero
produto, Neymar se tornou Neymarketing. O que aumentou
consideravelmente o número de pessoas ganhando muito à custa da imagem dele, e
não só em termos financeiros diretamente. Está além até mesmo de sua trajetória
no próprio Barcelona. As mulheres com quem já teve caso, os cortes de cabelo, seus
fones de ouvido, seu gosto musical, suas propagandas, tudo isso passou a ser
mais relevante que suas jogadas. E quando isso acontece, a menos que o elemento
tenha muita bola, o começo do fim duma carreira é certo, haja vista a efemeridade desse tipo de condição.
Ainda bem que o pai, com tudo que se possa questionar dele, tomou conta da
carreira do filho. Querendo ou não, na mão de empresários (um câncer real
na realidade de nosso futebol), ele talvez já tivesse sucumbido bem antes.
E nós francamente acreditamos
muito que o camisa dez da selenike não se resume a algo tão menor quanto esse
papel. Ele é o tipo de jogador em falta no futebol e ultimamente percebe-se
certa tenência técnica em seu modo de jogar - certamente o Barça deu-lhe isto
através de seus companheiros de equipe e é certo que Tite também terá fundamental papel nisto. Alem do quê, as
conquistas em solo europeu, tendo sido protagonista na reta final da Champions
League 2014/15, também renderam elogios similares aos que recebeu ainda no
Brasil, tendo ganhado títulos no Santos. Tudo isso somado e temos um jogador
com um currículo invejável em termos de conquistas, isso aos 24 anos.
Alguns pachecos acreditam
que o ex-santista é quem deveria ensinar alguma coisa, porém sempre retrucamos
que deve ser uma via de mão dupla:
o mais habilidoso abrindo caminho para outros que tenham aptidão e os outros
que tenham "disciplina tática" e sobretudo experiência, sinalizando a melhor forma de se chegar ao gol.
Qual o problema de ensinar e aprender? Até Pelé, que nasceu pro futebol, ao
menos deve ter aprendido com alguém a bater um lateral...
Então é isso. Pensamos ser
possível "salvar" Neymar dessa sina terrível de ser Neymarketing. Se
alguém conseguir convencê-lo de que ele não precisa de mídia e sim de gols já
será um bom começo. Todavia, mais complicado que isto, será afastar dele as
influências nefastas que ficam circundando-o todos os dias e a toda hora,
inflando seu ego, bajulando seu espírito e subtraindo sua grana. Até porque é preciso
que se entenda: ele é apenas um,
não salvará a lavoura sozinho, e nem pra sempre. É um milagre (e que bom!) que
um jogador como ele ainda não tenha tido uma contusão muito grave, nesses
tempos de futebol brucutu, onde a força está sobrepujando a ginga, num claro
sinal de "europeização técnica", pra além da tática.
Outra coisa: pôr tudo na conta e nas costas dele não é a
solução, embora seu comportamento nos induza a realmente fazer isto. Pois
por mais que se possa ter boa vontade em querer vê-lo brilhar, se ele próprio
não quiser se livrar desse estereótipo de "menino mimado e idiotado que
pode tudo porque é craque", será difícil. Sim, esse excesso de mimo em
cima também é frequentemente esquecido na análise. É justamente por conta dessa
bajulação intermitente que seu destempero soa explicitamente infantil. Sua reação raivosa mencionada
no início de nosso artigo foi mais uma mostra de que outros mais expertos teriam
sido mais espertos. Neymar
deveria ter ficado quieto ante as ofensas? Nem tanto, tem horas que é impossível
ser calmo... Mas é fato que faltou malandragem para
lidar com a situação. Ele acabou
vítima de sua própria imaturidade. Resultado: a globbels, que já o tomou
pra si através de seu lacaio esportivo (Galvão Bueno, o mesmo que escrachou a
selenike com virulência depois do empate com o Iraque), vai constrangê-lo com
algum programa chorumesco e ele será "obrigado" a pedir desculpas...
Ora prezados, pensem bem, Romário já
caiu nesse ridículo? E Renato
Gaúcho? Pois é.
Pra fechar. Não vemos a
princípio problema na faixa "100% Jesus" que ele usa (ou ostenta). O
problema é quando a humildade e a sabedoria que o galileu deixou como legado de
sua trajetória neste planeta passam longe...
Abraços fraternos e excelente semana a todos!
Um comentário:
Camarada Sanctusviana; Ao meu ver, Neymar tem bola para entrar para história como um grande jogador. A imagem dele está sendo usada para gerar dinheiro, tanto para ele quanto para outros. E, com isso, tudo de ruim também aparece, como falcatruas financeiras e esportivas. Ele sempre será posto em dúvida, seja para vender jornal, seja por questões futebolísticas verdadeiras. Soma-se ao fato de ele pertencer a uma geração muito decadente em relação a anterior em diversos os aspectos. Para além do futebol, vivemos uma geração de decadência muito acentuada em diversas áreas do conhecimento, assim como moral e ética. Se por um lado há um grupo grande (levantemos as mãos aos céus) de progressistas, há também uma turba com posições que já deveriam estar apodrecidas, mas que vêm sendo requentada como soluções de nossas contradições. Então na política vemos o sucesso de bolsonaros e cunhas, no futebol endeusamento a um bom jogador, mas mimado como o Neymar, no direito de decadência intelectual, na polícia os monstros que acham que nos protegem e por aí vai.... O Neymarketing é só um sintoma mais amplificado, dado o tamanho de seu sucesso futebol. Mas aí o mito cai quando estoura a imagem de rancor com uma faixa (100% Jesus). Bom, ontem estreou uma campanha publicitária que explora sua imagem como bad boy. Talvez tenha sido até armado. Bom, eu acho a figura dele falsa, perdida entre se mostrar bom menino e bad boy, um bom exemplo da média do que vejo no mundo.
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