quinta-feira, 18 de agosto de 2016

um triste paradoxo

A terça-feira olímpica do Brasil nos esportes coletivos foi um daqueles dias para se esquecer. Foram três eliminações muito dolorosas: A do handebol feminino, a do futebol feminino e a do voleibol feminino. Isso sem contar a derrota de Talita e Larissa – que simplesmente não entraram em quadra - na semifinal do vôlei de praia para a dupla alemã, a melhor do mundo, diga-se. Em uma olimpíada que teve como destaque na primeira semana de competições a participação das mulheres brasileiras, tivemos um dia para ser esquecido.
Ontem, apesar da classificação para a final do futebol masculino (diga-se, não fez mais que a obrigação), tivemos um jogo de nervos no vôlei masculino e, na raça, despachamos "nuestros hermanos e vecinos" que, jogaram muita bola, e venderam caro sua derrota. A seleção brasileira venceu um jogo tecnicamente fraco demais, mas extremamente carregado de emoção. Aos trancos e barrancos chegou a uma semifinal dificílima contra a Rússia. É meus amigos e minhas amigas, a coisa tá russa pro nosso lado agora. Porém, o dia teve o gosto amargo de duas derrotas no vôlei de praia. Talita e Larissa tomaram uma virada e perderam o bronze para a dupla americana capitaneada pela grande Walsh, tricampeã olímpica. Na decisão, as alemãs não tomaram conhecimento de nossa outra dupla (Ágatha e Bárbara) e ganharam por 2 sets a zero.
Diante de tantas e tão dolorosas derrotas, é legítimo que nos perguntemos o que aconteceu com nossas mulheres. Aliás, poderosas mulheres que nos encantaram com tamanho brilho e nos fizeram sonhar com medalhas e com o lugar mais alto do pódio. Pessoalmente, duas derrotas me foram mais doídas: a do handebol e a do futebol feminino. Por todo o contexto que envolve as modalidades elas mereciam melhor sorte. Marta & Cia. ainda podem lutar por um honroso bronze, diferente das moças do Handebol. Destino semelhante teve a seleção feminina de vôlei. Com essa geração vivemos o sonho dourado por duas olimpíadas. Elas estiveram perto de repetir a façanha das cubanas na década de 90. Mas o esporte não é justo e nem previsível. Talvez por isso seja tão apaixonante e tão bem usado para instrumentalizar multidões mundo afora.
Mas retomemos a questão do parágrafo anterior: Afinal, o que aconteceu??? Nada demais... Isso mesmo, nada demais. Não foi falta de força mental, como ficou evidente no caso da derrocada do basquete masculino. Também não foi complexo de vira-latas, ninguém "entregou a rapadura", as meninas do futebol e do vôlei de quadra nem jogaram mal.
E tem outra coisa: a qualidade das adversárias. No handebol, as holandesas nos eliminaram jogando em cima de nossa única deficiência ofensiva, e fizeram muitos gols de contra-ataque. No futebol, australianas e suecas, reconhecendo nossa superioridade técnica, jogaram com muita disciplina tática, conseguiram não levar gols e levaram a decisão para a disputa de pênaltis. Numa partida, levamos nós. Na segunda vez, não deu. Contra a Suécia, cabe ressaltar o trabalho da sua técnica (bicampeã olímpica dirigindo as norte-americanas, diga-se) que estudou bastante nosso jogo. Da mesma forma a técnica da seleção chinesa de vôlei feminino, Lang Ping (foi excelentíssima jogadora). Ela, após o Brasil arrasar a China no 1º set, mexeu em sua equipe, mudou jogadoras de posição para explorar nosso talvez único ponto fraco: a sequência recepção – passe. E se tornaram melhores, vencendo merecidamente o jogo. Suas adversárias, a nossa seleção, havia vencido todo mundo sem perder nenhum set sequer até aquele jogo. E a chave era bem mais fácil...
Nas demais disputas, mesmo com a dor e a tristeza da derrota, houve o reconhecimento da crônica esportiva especializada e dos torcedores. Havia expectativa pela vitória, mas não houve cobrança pela derrota. É quase unânime dentre quem acompanhou os jogos a percepção de que todas elas deram tudo o que podiam. Até as partidas decisivas, elas haviam feito partidas excepcionais, que nos encantaram e nos fizeram acreditar que poderiam ganhar suas respectivas competições. Tanto que foram todas muito aplaudidas, apesar das derrotas. Mesmo com a derrota houve brilho e superação ao longo da campanha. Infelizmente, no momento decisivo, suas adversárias conseguiram jogar melhor ainda e foram superiores. E nós não repetimos nossas melhores atuações. São derrotas das quais se podem tiram valiosos aprendizados para o futuro.
A principal questão que envolve essas tristes eliminações e/ou derrotas decisivas de nossas meninas não está na análise do desempenho esportivo dentro dos gramados, das areias ou dos ginásios. O fato é que estas derrotas acabaram por evidenciar o maior equívoco esportivo que o COB cometeu na preparação: a opção por uma política esportiva centrada apenas e tão somente em atletas de alto rendimento e modalidades consideradas mais competitivas. Diferente de trinta anos atrás, hoje não se pode dizer que faltam recursos ao esporte brasileiro. Falta sim é política esportiva no país. Antes de terminar os jogos olímpicos, eu voltarei a esse tema com mais calma.
As eliminações solaparam definitivamente as pretensões do Comitê Olímpico do Brasil para o quadro de medalhas destes jogos. Antes de começarem as competições, o COB havia estabelecido uma meta de colocar o "Time BRASIL" entre os "top 10" no quadro de medalhas, ultrapassando a marca das 20 medalhas. Lamentavelmente perdemos uma grande oportunidade – que provavelmente jamais se repetirá – de nos tornamos uma potência olímpica. A não ser que apareça uma grande surpresa no tae-kwon-do, no atletismo, na ginástica rítmica ou no triatlon, dificilmente teremos mais alguma medalha de ouro conquistada por mulheres brasileiras, o que elevaria nossa posição no quadro geral de medalhas. Nesse aspecto, o COB fracassou feio. E induziu o Estado Brasileiro a uma política nacional desportiva muito equivocada. Gastaram recursos volumosos para esse desempenho pífio e que não está muito distante dos resultados dos dois últimos jogos olímpicos.
Assim, numa olimpíada em que as mulheres nos encantaram, somente os homens têm chances reais de medalhas de ouro: no futebol, na canoagem e no vôlei de praia. Seria uma grata surpresa, mas há uma pequena chance no arremesso do martelo também. Um choque de realidade que fez água nos sonhos da cartolagem do COB (Nuzman e Marcus Vinícius) e frustrou as expectativas dos torcedores brasileiros que, em sua maioria, apenas acompanha os esportes olímpicos a cada quatro anos. Triste paradoxo...


2 comentários:

Raphael disse...

Excelente texto, amigo Jorge, como de costume.
Um ponto que quero salientar: é notório que o resultado, até o momento, no desempenho esperado no quadro de medalhas está aquém da previsão.
Entendendo que os programas de incentivo do governo federal são da gestão PT e focavam muito mais o resultado neste olimpíada do que o desenvolvimento do país no esporte e que as grandes patrocinadoras (Correios, Eletrobras e Petrobras) enfrentam dificuldades financeiras, pergunto: o que será dos nossos atletas nos próximos jogos?
Digo isso pois o próximo jogos Mundiais militares serão em 2019, logo não sei se essa sanha dos "atletas militares" terá prosseguimento. Até quando vai o convênio? Isso também ninguém responde.
Vende-se uma perigosa, ao meu ver, propaganda militar. Quem é minimamente coerente sabe que a "patente" é temporária.
Estamos chegando ao fim... Iniciaremos os jogos paraolímpicos, sem destaque midiático...
Quando o fogo se apagar restará a pergunta: e agora, josé?

Jorge Alexandre Alves disse...

Valeu Rafael. É isso mesmo