A terça-feira olímpica do Brasil nos esportes
coletivos foi um daqueles dias para se esquecer. Foram três eliminações muito
dolorosas: A do handebol feminino, a do futebol feminino e a do voleibol
feminino. Isso sem contar a derrota de Talita e Larissa – que simplesmente não
entraram em quadra - na semifinal do vôlei de praia para a dupla alemã, a
melhor do mundo, diga-se. Em uma olimpíada que teve como destaque na primeira
semana de competições a participação das mulheres brasileiras, tivemos um dia
para ser esquecido.
Ontem, apesar da classificação para a final do
futebol masculino (diga-se, não fez mais que a obrigação), tivemos um jogo de
nervos no vôlei masculino e, na raça, despachamos "nuestros hermanos e
vecinos" que, jogaram muita bola, e venderam caro sua derrota. A seleção
brasileira venceu um jogo tecnicamente fraco demais, mas extremamente carregado
de emoção. Aos trancos e barrancos chegou a uma semifinal dificílima contra a
Rússia. É meus amigos e minhas amigas, a coisa tá russa pro nosso lado agora.
Porém, o dia teve o gosto amargo de duas derrotas no vôlei de praia. Talita e
Larissa tomaram uma virada e perderam o bronze para a dupla americana
capitaneada pela grande Walsh, tricampeã olímpica. Na decisão, as alemãs não
tomaram conhecimento de nossa outra dupla (Ágatha e Bárbara) e ganharam por 2
sets a zero.
Diante de tantas e tão dolorosas derrotas, é
legítimo que nos perguntemos o que aconteceu com nossas mulheres. Aliás,
poderosas mulheres que nos encantaram com tamanho brilho e nos fizeram sonhar
com medalhas e com o lugar mais alto do pódio. Pessoalmente, duas derrotas me
foram mais doídas: a do handebol e a do futebol feminino. Por todo o contexto
que envolve as modalidades elas mereciam melhor sorte. Marta & Cia. ainda
podem lutar por um honroso bronze, diferente das moças do Handebol. Destino
semelhante teve a seleção feminina de vôlei. Com essa geração vivemos o sonho
dourado por duas olimpíadas. Elas estiveram perto de repetir a façanha das
cubanas na década de 90. Mas o esporte não é justo e nem previsível. Talvez por
isso seja tão apaixonante e tão bem usado para instrumentalizar multidões mundo
afora.
Mas retomemos a questão do parágrafo anterior:
Afinal, o que aconteceu??? Nada demais... Isso mesmo, nada demais. Não foi
falta de força mental, como ficou evidente no caso da derrocada do basquete
masculino. Também não foi complexo de vira-latas, ninguém "entregou a
rapadura", as meninas do futebol e do vôlei de quadra nem jogaram mal.
E tem outra coisa: a qualidade das adversárias. No
handebol, as holandesas nos eliminaram jogando em cima de nossa única
deficiência ofensiva, e fizeram muitos gols de contra-ataque. No futebol,
australianas e suecas, reconhecendo nossa superioridade técnica, jogaram com
muita disciplina tática, conseguiram não levar gols e levaram a decisão para a
disputa de pênaltis. Numa partida, levamos nós. Na segunda vez, não deu. Contra
a Suécia, cabe ressaltar o trabalho da sua técnica (bicampeã olímpica dirigindo
as norte-americanas, diga-se) que estudou bastante nosso jogo. Da mesma forma a
técnica da seleção chinesa de vôlei feminino, Lang Ping (foi excelentíssima
jogadora). Ela, após o Brasil arrasar a China no 1º set, mexeu em sua equipe,
mudou jogadoras de posição para explorar nosso talvez único ponto fraco: a sequência
recepção – passe. E se tornaram melhores, vencendo merecidamente o jogo. Suas
adversárias, a nossa seleção, havia vencido todo mundo sem perder nenhum set
sequer até aquele jogo. E a chave era bem mais fácil...
Nas demais disputas, mesmo com a dor e a tristeza
da derrota, houve o reconhecimento da crônica esportiva especializada e dos
torcedores. Havia expectativa pela vitória, mas não houve cobrança pela
derrota. É quase unânime dentre quem acompanhou os jogos a percepção de que
todas elas deram tudo o que podiam. Até as partidas decisivas, elas haviam
feito partidas excepcionais, que nos encantaram e nos fizeram acreditar que
poderiam ganhar suas respectivas competições. Tanto que foram todas muito
aplaudidas, apesar das derrotas. Mesmo com a derrota houve brilho e superação
ao longo da campanha. Infelizmente, no momento decisivo, suas adversárias
conseguiram jogar melhor ainda e foram superiores. E nós não repetimos nossas
melhores atuações. São derrotas das quais se podem tiram valiosos aprendizados
para o futuro.
A principal questão que envolve essas tristes
eliminações e/ou derrotas decisivas de nossas meninas não está na análise do
desempenho esportivo dentro dos gramados, das areias ou dos ginásios. O fato é
que estas derrotas acabaram por evidenciar o maior equívoco esportivo que o COB
cometeu na preparação: a opção por uma política esportiva centrada apenas e tão
somente em atletas de alto rendimento e modalidades consideradas mais
competitivas. Diferente de trinta anos atrás, hoje não se pode dizer que faltam
recursos ao esporte brasileiro. Falta sim é política esportiva no país. Antes
de terminar os jogos olímpicos, eu voltarei a esse tema com mais calma.
As eliminações solaparam definitivamente as
pretensões do Comitê Olímpico do Brasil para o quadro de medalhas destes jogos.
Antes de começarem as competições, o COB havia estabelecido uma meta de colocar
o "Time BRASIL" entre os "top 10" no quadro de medalhas,
ultrapassando a marca das 20 medalhas. Lamentavelmente perdemos uma grande oportunidade
– que provavelmente jamais se repetirá – de nos tornamos uma potência olímpica.
A não ser que apareça uma grande surpresa no tae-kwon-do, no atletismo, na ginástica
rítmica ou no triatlon, dificilmente teremos mais alguma medalha de ouro conquistada
por mulheres brasileiras, o que elevaria nossa posição no quadro geral de
medalhas. Nesse aspecto, o COB fracassou feio. E induziu o Estado Brasileiro a
uma política nacional desportiva muito equivocada. Gastaram recursos volumosos
para esse desempenho pífio e que não está muito distante dos resultados dos
dois últimos jogos olímpicos.
Assim, numa olimpíada em que as mulheres nos
encantaram, somente os homens têm chances reais de medalhas de ouro: no
futebol, na canoagem e no vôlei de praia. Seria uma grata surpresa, mas há uma
pequena chance no arremesso do martelo também. Um choque de realidade que fez
água nos sonhos da cartolagem do COB (Nuzman e Marcus Vinícius) e frustrou as
expectativas dos torcedores brasileiros que, em sua maioria, apenas acompanha
os esportes olímpicos a cada quatro anos. Triste paradoxo...
2 comentários:
Excelente texto, amigo Jorge, como de costume.
Um ponto que quero salientar: é notório que o resultado, até o momento, no desempenho esperado no quadro de medalhas está aquém da previsão.
Entendendo que os programas de incentivo do governo federal são da gestão PT e focavam muito mais o resultado neste olimpíada do que o desenvolvimento do país no esporte e que as grandes patrocinadoras (Correios, Eletrobras e Petrobras) enfrentam dificuldades financeiras, pergunto: o que será dos nossos atletas nos próximos jogos?
Digo isso pois o próximo jogos Mundiais militares serão em 2019, logo não sei se essa sanha dos "atletas militares" terá prosseguimento. Até quando vai o convênio? Isso também ninguém responde.
Vende-se uma perigosa, ao meu ver, propaganda militar. Quem é minimamente coerente sabe que a "patente" é temporária.
Estamos chegando ao fim... Iniciaremos os jogos paraolímpicos, sem destaque midiático...
Quando o fogo se apagar restará a pergunta: e agora, josé?
Valeu Rafael. É isso mesmo
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